"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

terça-feira, 17 de julho de 2012

Always crashing in the same car


















Acompanhada desde há muito por estas bandas, a dupla escocesa Strawberry Whiplash é ideia da cabeça de Lawrence McCluskey, responsável pela totalidade dos instrumentos. Se nos similares Bubblegum Lemonade trabalha em solitário, aqui conta com a preciosa ajuda da voz cândida de Sandra. O nome do projecto deriva de uma combinação do das bandas conterrâneas Strawberry Switchblade e Meat Whiplash, o que diz algo da sonoridade da parelha, com a doçura dos primeiros e a propensão fuzzy dos últimos. Depois de uma série de lançamentos em pequeno formato, saídos quase a conta-gotas, tardou mas chegou o álbum de estreia. Chama-se Hits In The Car e está ao nível das expectativas criadas junto da falange devota da indie-pop mais canónica.

Tendo a dupla base em Glasgow, não surpreende que o álbum vagueie num limbo entre as memórias da C86 e da pop "clássica" de sessentas, o que por si só não traz grandes novidades. Sucede, porém, que os treze temas que compõem Hits In The Car são de primeira estampa sob o ponto de vista melódico, com a particularidade de o todo ser vagamente conceptual. Na circunstância discorre-se sobre as minudências de uma relação amorosa: os altos e os baixos, a felicidade e a amargura. Quando envereda por uma via retro, o par faz lembrar os melhores The Primitives do recente e surpreendente álbum de versões. Já quando o fuzz contamina as melodias, vêm-nos à memória uns My Bloody Valentine de Isn't Anything injectado de uma boa dose de luminosidade, ou até uns Mary Chain de meados de noventas. Para amostra fica um exemplar de cada uma destas últimas estirpes. Oiçam e depois digam-me das semelhanças do segundo com determinado dueto da banda dos manos Reid.


"Sleepy Head" [Matinée, 2012]


"You Make Me Shine" [Matinée, 2012]

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Ao vivo #90

















Foto: JN

Optimus Alive 2012 @ Passeio Marítimo de Algés, 13/07/2012

Chamem-me pretensioso, chamem-me mete-nojo, mas cada vez me falta mais a paciência para os festivais realizados no rectângulo (desde que não organizados por espanhóis, está claro!). O Optinus Alive em particular, com as pretensões a Rock in Rio, tem a particularidade de me afugentar como nenhum outro. Ele é a salganhada do cartaz, ele é a morosidade inexplicável no acesso ao recinto, ele é o próprio recinto de dimensões mais que reduzidas para o número de público... Só que, no meio da salganhada, vai de quando em quando aparecendo um nome que me faz esquecer a fobia e lá me faz rumar ao circo de Algés. Foi assim há quatro anos por causa dos Spiritualized, e foi assim na passada sexta-feita por causa dos Stone Roses

Sobre a actuação da regressada banda de Manchester já muito se disse, em particular da fraca prestação vocal de Ian Brown. São justas as críticas, mas se querem que lhes diga dele não esperava propriamente um tenor, pelo que neste aspecto não fui tomado de surpresa. Porém, também serei justo se referir que o rapaz se desenrasca com maior desenvoltura quando se lhe pede que cante num tom mais melódico, e isso acontece na maioria dos temas que interessam, ou seja, os do simbólico primeiro álbum. Pontos altos, sem falhas dignas de nota, foram "This Is The One", o fulgurante final com "I Am The Resurrection", e "Fools Gold". Neste último, transfigurado para palco, com Brown fora de cena, John Squire, Mani e Reni, qual máquina afinada, proporcionam uma longa deriva psicadélica que sacia a maioria dos fiéis. Voltando aos débeis dotes vocais de Ian Brown, eles estiveram mais evidentes quando procurava ser mais contido, e isso aconteceu essencialmente com os temas do desequilibrado segundo disco, pelo que penso que ninguém que realmente tenha alguma devoção pelos Stone Roses terá ficado particularmente desiludido. Excepção feita, claro está, a "Love Spreads" e "Ten Storey Love Song", o par de canções pelos quais o disco ainda vale a pena, e onde o vocalista não comprometeu. Quando ao resto da banda, e em adenda ao que acima se disse, estará hoje tecnicamente mais evoluída do que no seu período de maior fulgor, na viragem dos oitentas para os noventas. Mas não é por isso que entra em demonstrações técnicas desnecessárias, limitando-se a executar a música na sua essência, com um ou outro floreado que em nada a descaracteriza.

Do resto do cartaz gostava ainda de realçar, muito pela positiva, os Death in Vegas. Antes do início do concerto disse a alguém que o aguardava com alguma curiosidade e algumas reticências, tal a particularidade dos discos do projecto de Richard Fearless, normalmente pejados de convidados que, obviamente, estavam ausentes. Cedo se desvaneceu o cepticismo, com a imersão numa espiral de densidade que incorpora laivos de kraut em fundo de negritude. Combinando o lado electrónico com a vertente orgânica sem predominância de nenhuma das facetas, a banda transfigura cada tema como parte de um todo, deixando escapar pontos de reconhecimento, quanto mais não seja pelas extractos de vozes sampladas. No final, soube a pouco pela curta duração.

Gostava ainda que ficassem a saber que, à margem de um verdadeiro delírio infanto-juvenil, tomei finalmente contacto com a música do fenómeno LMFAO. E se querem que lhes diga, palhaçadas da dupla à parte, detectei um hip-hop festivo de travo clássico que não me causa qualquer aversão. O mesmo não se poderá dizer de uma tal Zola Jesus, que quando se cruzou pela primeira vez no meu caminho mal sabia ainda encarar o público em cima de um palco. Agora é toda ela de uma teatralidade despropositada, e como tal, não menos ridícula. Quanto à "música" propriamente dita, é toda uma súmula de clichés da facção mais negra do post-punk, com os tiques de uma Siouxsie mais madura (e mais desinteressante) em maior evidência.

domingo, 15 de julho de 2012

O jogo das diferenças #9



NICK DRAKE
Bryter Layter
[Island, 1970]



BORIS
Akuma No Uta
[Diwphalanx, 2003 / Southern Lord, 2005]

O sol quando nasce não é para todos















Quando se fala de slow/sadcore ocorrem-nos os nomes dos Galaxie 500 e dos American Music Club como pioneiros, ou os dos Red House Painters e dos Low como vedetas da "cena". No entanto, dada a definição que o rótulo encerra, penso que não haverá no meio banda mais paradigmática do que os Codeine. No curto período que estiveram activos, entre 1990 e 1994, estes nova-iorquinos foram também um dos nomes mais sui generis do "género", com uma aproximação relativamente mais experimental e ruidosa da coisa do que os seus pares, como que estabelecendo a ponte entre a urgência post-hardcore e a contemplação post-rock. Para a posteridade deixaram uma singela obra de três registos: os álbuns Frigid Stars (1990) e The White Birch (1994) e o EP Barely Real (1992). Confesso que a minha preferência recai sobre o primeiro, embora de forma algo relutante, pois qualquer dos trabalhos dos Codeine é marcado pela mesma carga dramática, os mesmos ambientes claustrofóbicos, as mesmas notas repetidas com todo o vagar do mundo, e mesmas guitarras ríspidas a sublinhar os momentos de maior tensão. Se estão a pensar chamar-lhes repetitivos, chamem-lhes antes coerentes ou homogéneos.

Se o baterista Chris Brokaw cedo abandonou para se dedicar ao papel de guitarrista nos aparentados Come e se notabilizar em múltiplas colaborações com outros músicos, e o substituto Doug Scharin ocupou o tempo pós-Codeine em bandas de um espectro que vai do slowcore ao math-rock, passando pelo post-rock (Rex, June of 44, HiM), de 1994 para cá pouco ou nada se soube do vocalista/baixista Stephen Immerwahr e do guitarrista John Engle. A dupla voltou a ser falada só muito recentemente quando, juntamente com Brokaw, anunciou o regresso aos palcos. Desta ressurreição da qual se desconhecem outros planos já beneficiei com a presença num belíssimo concerto na última edição barcelonesa do Primavera Sound, concerto obviamente apinhado de devotos acérrimos. A ocasião proporcionou também a reedição quase obrigatória da obra integral dos Codeine, há muito fora de catálogo. A tarefa ficou a cargo do Numero Group, casa especializada neste género de edições com embalagens sempre cuidadas. Ao alinhamento original de cada disco foram acrescidos inúmeros temas extra (demos, Peel sessions, temas ao vivo) em edições duplas, tanto em vinil como em CD. O preço unitário é que não é o mais apelativo, mas ainda assim é bem mais acessível do que o da luxuosa caixa When I See The Sun, composta pelos mesmos três registos em ambos os formatos. Caso ainda gozem de algum desafogo nestes tempos de contenção orçamental, tentem a vossa sorte, mas sem demasiadas esperanças, pois consta que o pacote é limitado a 1000 exemplares.

 
"Loss Leader" [Sub Pop, 1994]

terça-feira, 10 de julho de 2012

Let's move to the country!















Sonny Smith é um dos mais empenhados e produtivos arqueologistas da pop actual. Concorrente à altura, só talvez John Dwyer, o "senhor Thee Oh Sees". Mas se este último envereda pela toada mais rockeira e psicadélica do garage, Smith está mais empenhado na escrita de temas que poderemos catalogar como pop. À frente de Sonny and the Sunsets, projecto que tem contado com a colaboração de aliados variáveis, leva já algum tempo a revisitar conceitos de outras eras, quando, no universo pop, a pureza se sobrepunha à seriedade. O ponto alto aconteceu com o projecto 100 Records, concepção de 200 canções (lado A e lado B) para 100 bandas imaginárias. A ideia não chegou a passar para disco mas virou exposição, com capas exclusivamente criadas por artistas gráficos amigos e uma jukebox onde tocam a totalidade dos temas compostos e gravados para o efeito.

Num passado recente, Smith já tinha anunciado uma mudança de azimutes, nomeadamente com a gravação de um disco country. A promessa é cumprida com o novíssimo Longtime Companion, álbum no qual dominam os instrumentos acústicos, com lap steels a rodos. Contudo, Smith não perdeu o norte pop, bem como aquele travo lo-fi que põe em cada trabalho. Longtime Companion tem ainda a particularidade de ser o mais pessoal dos seus discos, já que, alegadamente, aborda o fim da relação com Thalia Harbour, companheira de longa data inclusive nos Sunsets. Contém, por isso, uma aura de melancolia que estabelece alguns paralelismos com Sea Change de Beck, embora longe da densidade deste. Uma boa amostra do resultado final, talvez a melhor, é este delicioso remake do tema de encerramento do anterior Hit After Hit (2011):


"Pretend You Love Me" [Polyvinyl, 2012]

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Ao vivo #89

















Wanda Jackson @ Ritz Clube, 06/07/2012

Pouco adepto das aventuras musicais de Jack White, tanto em nome próprio como em banda, tiro-lhe o chapéu na qualidade de produtor, sobretudo por ter sabido resgatado ao esquecimento algumas estrelas de outras eras. Foi assim há quase uma década com a diva country Loretta Lynn, e foi assim mais recentemente com Wanda Jackson. É mesmo na sequência de The Party Ain't Over, o disco do ano passado desta última por ele produzido, que a proclamada "rainha do rockabilly" aterrou na capital, depois de na véspera já ter passado pela Invicta.

Com uma assistência composta de devotos das sonoridades billy, melómanos em geral, ou simples curiosos, Wanda entrou em palco muito para além das 23h00 previstas, portanto, já em horário impróprio para a sua idade. Já lá estavam os Lost Highway, uma banda de jovens músicos franceses que a tem acompanhado e que me parece uma escolha acertada. A juventude da banda contrasta com a maturidade da estrela principal, com ar de velhinha que costumamos encontrar em salões de chá a aparentar mais do que os 74 anos do bilhete de identidade. Às primeiras notas sente-se que as cordas vocais já não têm o fulgor de outrora, mas nem por isso a voz deixa de reter bos parte das suas qualidades. Mas eis que, aí pelo terceiro tema, emperra e teme-se que a função possa vir a ser abruptamente encurtada. Falso alarme, pois logo a seguir, com a ajuda de um misterioso líquido milagroso, Wanda, qual máquina fiável com um grão na engrenagem, emabala para quase hora e meia de puro rock'n'roll. Os desvios à sonoridade dominante dão-se com os temas do último disco, com alguns desvios ao swing, à country, ou até à soul. É o caso de "You Know I'm No Good", de Amy Winehouse, interpretado com uma fidelidade reverente ao original. O resto são verdadeiras pérolas da história do rock'n'roll ("Let's Have A Party", "Mean, Mean Man", "Funnel Of Love", "Fujiyama Mama") recebidos num frenesim dançante.

Pelo pedaço de história proporcionado, e pelo clima de festa que ainda é capaz de incutir, a Wanda perdoamos os longos discursos entre cada tema, típicos de estrelas em curva descendente. Ela agradece a Elvis, ela agradece a Jack White, ela elogia Amy e auto-elogia-se, ela aborda episódios da vida pessoal acerca de namoricos, de drogas e do encontro com a fé... Mas nem por isso deixa de reinar a festa e, quando assim é, tudo o resto passa para segundo plano...

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Manobras de diiversão

















Mais do que uma banda propriamente dita, os DIIV são, na sua essência, ideia da cabeça de Zachary Cole Smith, ele que também ocupa parte do tempo como guitarrista dos Beach Fossils. Por explicar ainda está o pequeno retoque no nome do projecto que deu a conhecer os primeiros temas como Dive, alegadamente em honra do tema dos Nirvana com este título. Não se pense, contudo, que os DIIV sejam executantes de uma sonoridade daquelas mosntros sagrados. Digamos, de forma simples, que são antes devotos da indie-pop britânica pós-C86 que tanto impressionou o jovem Kurt Cobain.

Até aqui, nada de extraordinariamente novo, se tivermos em conta que já são incontáveis os jovens ianques que gostam de recuperar aqueles gloriosos tempos pop a partir da solidão dos seus quartos. Com efeito, Oshin, o primeiro álbum recentemente editado, tem até um bom punhado de temas que tresandam a amadorismo caseiro, confeccionados naquele estado de quem passa os dias apenas semi acordado. O que talvez distinga Cole Smith da "concorrência" é que, para além destes temas mais decorativos de vocalizações quase imperceptíveis, tem para oferecer canções pop escorreitas em igual número. Nestas últimas, a voz desinibe-se e as guitarras cristalinas traçam encantadoras linhas melódicas. Posso ainda dizer-vos que a alternância da "baixa-fidelidade" com os temas mais trabalhados faz de Oshin um disco de sã variedade. Ao ponto de afirmar, sem hesitações, que o rapazola Cole Smith passou a perna à banda que normalmente de dá "emprego".

 
"How Long Have You Known?" [Captured Tracks, 2012]

terça-feira, 3 de julho de 2012

Django Quartet

















O excesso de oferta para o tempo disponível leva a que, por vezes, algumas das mais interessantes propostas musicais nos escapem ao "radar". Isto a propósito do primeiro álbum dos escoceses Django Django, saído logo no começo deste ano, e do qual apenas tinha, até há pouco, escutado alguns temas avulsos, mesmo com a curiosidade aguçada dos grandes encómios tecidos pelas fontes mais fidedignas.

Finalmente escutado com alguma insistência, Django Django poderá não ser o disco que irá salvar a música pop, mas é seguramente motivo para a revisão de algumas opiniões menos favoráveis em relação à música britânica de guitarras, das quais tenho discordado amiúde. E já que se fala em música de guitarras, convém referir que o quarteto de Edimburgo também não tem qualquer complexo em recorrer abundantemente às electrónicas para a obtenção de uma sonoridade que prima pela modernidade dançável, facção arty. No álbum homónimo, e contornando o par de temas que remetem para os insuportáveis Hot Chip (felizmente sem aquela voz de cana rachada), o global assenta em batidas tribais, guitarras subtilmente surfy, e complexos jogos vocais que causam um efeito psicadélico, estabelecendo muitas familiaridades com os saudosos conterrâneos The Beta Band. As ligações não se ficam pela sonoridade, pois há um par de irmãos entre os membros das duas bandas. Em abono dos Django Django, diga-se ainda que, ao psicadelismo de raízes mais ancestrais, adicionam uma obliquidade pós-punk que raramente se detectou nesta quase dúzia de anos de regurgitação de tiques daquele período de extrema ebulição de ideias.

 
"Storm" [Because Music, 2012]

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Singles Bar #76










MUDHONEY
Touch Me I'm Sick
[Sub Pop, 1988]



Com o primeiro de uma série de singles hoje verdadeiro objecto de colecção, a Sub Pop Records definiu aqueles que eram, pelo menos no curto prazo, os seus propósitos. Carta de apresentação dos Mudhoney, "Touch Me I'm Sick" tem ainda a particularidade de ter motivado o primeiro uso do termo grunge no contexto de "género" musical. Cedo se perceberia que, nas mãos de executivos e jornalistas musicais confusos, o rótulo colaria a algo bem mais próximo do rock dito tradicional. Porém, no seu período de vida underground, grunge era sinónimo de sujidade garage filtrada por uma atitude punk e alimentada por uma massiva dose de distorção. Todas estas características estão patentes em "Touch Me I'm Sick", petardo com riff convulso repetido no maior número de vezes possíveis na sua curta duração, e uma letra que sugere transgressão (álcool, drogas, sexo selvagem) berrada por Mark Arm com uma histeria desenfreada.

No outro lado da rodela encontramos "Sweet Young Thing Ain't Sweet No More", tema substancialmente mais arrastado, mas com a mesma monstruosidade de distorção, que terá inspirado a matriz dos conterrâneos Nirvana dos primórdios. Uma vez mais, a letra, de um primitivismo animalesco, transpira sexualidade por todos os poros. No título, os Mudhoney não escondem a filiação garage com uma óbvia referência a um um tema da Chocolate Watchband, uma espécie de pequeno "clássico" do género.


sexta-feira, 29 de junho de 2012

Ao vivo #88















Julia Holter @ St. George's Church, 27/06/2012

Aquando do seu anúncio inicial, o concerto de anteontem estava programado para o espaço exíguo da ZdB. Depois da experiência vivida, tenho a dizer que, em boa hora, as gentes daquele espaço do Bairro Alto transferiram a coisa para a igreja anglicana para os lados da Estrela. A mudança, não só permitiu o acesso a público em maior número e com outra comodidade, como encontrou o ambiente perfeito para a proposta musical muito peculiar de Julia Holter. E ainda, com o benefício de, ao contrário do se previa à partida, o espaço dispor de óptimas condições de acústica.

Se a audiência, em número de cabeças apreciável, estava à partida conquistada, diria que, após pouco mais que um minuto, estaria completamente rendida. Para tal, bastaram apenas os primeiros sons saídos das cordas vocais de Julia, dona de uma voz significativamente mais expressiva e poderosa do que os registos em disco deixam adivinhar. Com ela vêm um baterista e um violoncelista, qualquer um com participações discretas que tentam apenas sublinhar um dos muitos pormenores escondidos nos interstícios de cada tema. As atenções vão todas para a pequena "diva", ela que, talvez derivado da tenra idade revela algum nervosismo, expresso tanto nos tiques do menear da cabeça, como nos gestos exagerados ao mover os dedos nas teclas. E como jovem emociona-se e impressiona-se com a imponência do local, tal como fez questão de deixar escapar naquele abrir de braços enquanto descia para o mais que desejado encore. Porém, em Julia Holter, com a juventude, contrasta uma lucidez inabalável que faz do concerto da passada quarta-feira algo de semi-conceptual ou, pelo menos, um espectáculo de alternância de tons: primeiro a luminosidade, depois as trevas, para um final de regresso à claridade. O público, rendido à solenidade do local e ao intimismo da música, e toldado no jogo de nuances, guarda o silêncio reverencial que as circunstâncias exigem. No final, todos saem com a certeza de ter presenciado algo de único nesta capital em que pouco de realmente relevante acontece.

terça-feira, 26 de junho de 2012

Exploding Fantastic Inevitable















Até há relativamente pouco tempo desconhecia em absoluto estes Pond (conhecia outros, que nos idos de noventas chegaram a lançar pela Sub Pop), colectivo australiano de formação variável assente num núcleo duro de três elementos. Desse trio, dois terços são também membros dos Tame Impala, mas fazem questão de esclarecer que não se trata de um simples projecto pararelo. É que, contra o até agora solitário e fulgurante disco de estreia destes últimos, os Pond têm já para mostrar um total de quatro álbuns. O mais recente é Beard, Wives, Denim, e poderia ser o disco que uns tais de MGMT teriam feito à segunda aparição se, além da óptima colecção de psicadelia, tivessem a arte e o engenho para tal.

Pelas linhas acima, já terão percebido que estamos, inevitavelmente, em terrenos próximos aos dos Tame Impala. Contudo, e pelo menos em Beard, Wives, Denim, que alegadamente foi gravado por um grupo de dez elementos ao longo de duas semanas com poucas horas de sono, os Pond expandem a paleta do psicadelismo e não se ficam pelo derivativo meio-caminho entre Cream e The Beatles. Desde os primeiros instantes, pressente-se um menor rigor no aperfeiçoamento dos temas, com alguma sujidade "garageira" a colidir com discretos laivos kraut. Mais à frente, um ou outro apontamento electrónico coexiste pacificamente com os falsettos e os sortidos de riffs descaradamente "zeppelianos". No todo, realce-se a capacidade que, a partir de fontes facilmente reconhecíveis, os Pond têm para proporcionar viragens bruscas - muitas das vezes dentro do mesmo tempo - que provocam no ouvinte o atordoamento pretendido. O tema de abertura, por exemplo, pega em restos da british invasion, ou até nos melhores Oasis em modo rolling, e atira tudo para o vácuo pelo meio de uma berraria ensandecida.

 
"Fantastic Explosion Of Time" [Modular, 2012]

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Discos pe(r)didos #64










SUGAR
Beaster
[Creation, 1993]



Lambidas as feridas do fim tumultuoso dos Hüsker Dü no quase predominantemente acústico Workbook (1989), disco de estreia a solo, Bob Mould estava pronto, à entrada da década de noventas, para nova investida nos mares da electricidade à frente de uma nova banda. A altura não poderia ser a mais indicada, pois as guitarras furiosas que ecoavam pelos quatro cantos do planeta tinham, invariavelmente, carimbo da obra de Mould enquanto integrante dos huskers. Neste propósito de reclamar os louros junto dos jovens discípulos formou os Sugar, mais um trio que, alegadamente, deve o nome a uma tirada do próprio, recuperada pelo baixista David Barbe, relativamente as intenções musicais do projecto - "some of the songs would be like sugar and others like spice".

Se o lado "açucarado" ficou demonstrado com Copper Blue (1992), o magnífico álbum de estreia com um inesperado sentir pop que rendeu airplay em concordância com a aclamação crítica, o lado mais negro e angustiado de Mould ficaria reservado para a meia dúzia de temas que compõem Beaster. Gravado em simultâneo com o anterior registo, este mini-álbum é um autêntico bestiário que faz jus ao título. Os dedilhados suaves de "Come Around" ainda fazem crer na esperança de alguma luminosidade mas, já neste, a submersão da voz com uma letra minimalista deixa antever o sufoco que se avizinha. As certezas chegam com a cavalgada vertiginosa de "Tilted", com aquela rispidez na voz de arame farpado que traz à memória os melhores momentos dos Hüsker Dü. A cantilena de pregador que encerra este tema, pelo meio de assombros de distorção, denuncia as questões de fé e de culpa com que se debate Beaster. A expiação dos demónios prossegue com "Judas Cradle", exercício de riffs monstruosos em regime pára-arranca e de berraria lancinante. Numa espiral descendente ao âmago do inferno interior, "JC Auto", a peça central deste pequeno compêndio de fustigação sónica, opõe momentos relativamente melódicos à velocidade trepidante que acompanha o suposto refrão, basicamente um "I know, I know, I know" descarregado com toda a fúria que os pulmões de Mould permitem. Num primeiro contacto, "Feeling Better" pode enganar pelo título e pela incursão dos sopros, mas logo que os riffs elípticos agudizam o ritmo, o equívoco é desfeito e somos de novo arrastados numa maré negra de emoções. A meia hora de calvário só tem término com "Walking Away", semi-redenção a golpes de órgão de igreja atonal e vocalizações afogadas em distorção. Embora não totalmente apaziguador, o tema de encerramento funciona como uma subida aos céus depois da violência sónica e emocional a que estivemos expostos. 


Este e os restantes discos dos Sugar, que além de Copper Blue editaram ainda o segundo e derradeiro álbum File Under: Easy Listening (1994), acabam de merecer reedição remasterizada e pejada de extras. É pois ocasião imperdível para (re)descobrir uma banda que, apesar curto período de vida e da obra escassa, deixou marca indelével na produção rock de há duas décadas.

"Tilted"

domingo, 24 de junho de 2012

First exposure #45

















TOY

Formação: Tom Dougall (voz, gtr); Dominic O'Dair (gtr); Alejandra Diez (tcls); Maxim Barron (bx); Charlie Salvidge (btr)
Origem: Londres, Inglaterra [UK]
Género(s): Indie-Rock, Psych-Rock, Krautrock, Post-Punk
Influências / Referências: Neu!, The Horrors, Stereolab, Sonic Youth, Moon Duo

 
"Motoring" [Heavenly, 2012]

Ao vivo #87
















Josh T. Pearson @ Teatro Maria Matos, 22/06/2012

Nunca tive a oportunidade de ver os Lift to Experience em palco, mas imagino que os concertos fossem algo de incendiário, mesmo que os seus músicos (talvez) não fossem crentes de todas as profecias bíblicas que as canções versavam. À falta dessa feliz ocasião, tal foi a fugacidade daquela banda genial, congratulo-me por este ensejo de me cruzar com Josh T. Pearson, o seu mentor que recentemente ressuscitou de um percurso errático e até traumático.

Com uma proposta radicalmente diferente, integralmente acústica, Pearson também faz questão de jogar no contraste, relativizando o peso das canções, de um profundo cariz pessoal, com tiradas de um humor cáustico que solta nos intervalos entre as mesmas. De maneira que, a dada altura, sentimo-nos algo confusos se estamos perante um concerto de música dolente de matriz country, se perante um espectáculo de stand-up comedy. É um jogo perigoso, que a bem da reputação do próprio convém que não se perpetue, mas por ora resulta a bem da ligeireza de um concerto que, de outra forma, poderia ser mais penoso.

Quanto às canções propriamente ditas, são interpretadas com a entrega que elas exigem, deixando libertar toda a mágoa de quem as compôs. A voz, que nos primeiros instantes não surge devidamente equalizada, é a mesma dos velhos calejados da country, com uma série de nuances e uma limpidez que assusta pela clareza das palavras duras de dor. Mas é no manejo das seis cordas que mais me concentro. Neste particular, Pearson é dono de uma técnica apurada, com uma destreza de dedos que deixa leigos como nós boquiabertos. 

No pós-concerto, e ultrapassada a fase "a quente" dos rabiscos nos bilhetes e as palmadinhas nas costas, Pearson deixa cair a capa de comediante subversivo, e demonstra que também consegue conviver com humanos como nós em conversas mundanas. Agora, é aguardá-lo para próxima visita, de preferência na sua outra "versão" - a eléctrica. Com ou sem número humorístico, tanto faz...

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Mixtape #17: How I Long To Feel That Summer In My Heart



Pode não parecer pelas temperaturas amenas, mas o Verão já chegou. Como já é costume, neste que é o dia mais longo do ano, o April Skies oferece música aos seus amigos. É a habitual summer mixtape, uma vez mais recheada de música leve e descontraída, própria para a estação que entra. Este ano não nos quisemos ficar apenas pela produção recente e fizemos umas quantas incursões pelo passado mais ou menos distante, de maneira que, a coisa fica mais ou menos meio por meio. Espero que a selecção seja do vosso agrado... e que neste Verão tenham juizinho!


01. MOON TIDES _ 1966 (2012)
02. THE CONCRETES _ You Can't Hurry Love (2003)
03. THE PRIMITIVES _ Single Girl (2012)
04. THE FLATMATES _ Happy All The Time (1987)
05. THE BOO RADLEYS _ Wish I Was Skinny (1993)
06. TWO WOUNDED BIRDS _ To Be Young (2012)
07. VIOLENS _ Totally True (2012)
08. BETTIE SERVEERT _ Tom Boy (1992)
09. ALLO DARLIN' _ Capricornia (2012)
10. THE SPRINGFIELDS _ Sunflower (1988)
11. BROWN RECLUSE _ Impressions Of A City Morning (2011)
12. REAL ESTATE _ Wonder Years (2011)
13. ERIC'S TRIP _ Girlfriend (1994)
14. TALULAH GOSH _ Talulah Gosh (1987)
15. BEACH FOSSILS _ Out In The Way (2011)
16. BIG TROUBLES _ She Smiles For Pictures (2011)
17. SPEARMINT _ Scottish Pop (2001)
18. VELOCITY GIRL _ I Can't Stop Smiling (1994)
19. THE BATS _ When The Day Comes (2011)
20. LIGHTSHIPS _ Sweetness In Her Spark (2012)
21. MAZARIN _ Another One Goes By (2005)
22. ECHO LAKE _ Everything Is Real (2011)

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Do cabeleireiro ao matadouro















Um pouco à semelhança de Nathan Williams (Wavves) ou do malogrado Jay Reatard, Ty Segall é um daqueles putos americanos que combatem o tédio com uma hiperactividade estonteante no que respeita a edições discográficas. Depois de uma catrefada de discos de confecção caseira nos vários formatos, no ano passado, brindou-nos com o álbum Goodbye Bread, um óptimo registo significativamente mais "limpo" que os esboços toscos dos anteriores. Neste, os impulsos garage abriam espaço para alguns laivos glam que denunciavam apreço por Marc Bolan. Também na progressão rumo a um formato de canção mais escorreita, o percurso de Segall é em tudo semelhante ao daqueles dois outros ícones do novo lo-fi.

Já no decurso do corrente ano, Ty Segall uniu-se a White Fence, que é como quem diz Tim Presley, outro puto californiano hiperactivo, para editar Hair. Neste trabalho conjunto, que tem rodado com alguma insistência por estas paragens, a dupla oferece um conjunto de temas em que o garage e o psych dão as mãos num autêntico puzzle que desafia o ouvinte pelas estruturas pouco ortodoxas de cada faixa. Ainda mal refeito do último assalto sónico, saído há escassos dois meses, sei que Ty Segall tem nova investida prevista para a próxima semana. O novo álbum chama-se Slaughterhouse e é creditado à Ty Segall Band, já que, tal como as duas outras duas luminárias referidas, também o nosso jovem intrépido se viu na necessidade de se fazer acompanhar de uma banda completa para fazer face ao número crescente de solicitações para concertos. A amostra infra faz-nos crer que a feitura de canções dignas desse nome é tendência para continuar. Basta que se descortine a pop borbulhante de travo clássico que se oculta por detrás das barreiras de eco e reverberação.

 
Ty Segall & White Fence _ "I Am Not A Game" [Drag City, 2012]

   
Ty Segall Band _ "I Bought My Eyes" [In The Red, 2012]

terça-feira, 19 de junho de 2012

Good cover versions #66












SEAPONY _ "Just Like Honey" [www.JustLikeHoney.co.uk, 2012]
[Original: The Jesus and Mary Chain (1985)]



Oriundos de Seattle, os Seapony poucas ou nenhumas familiaridades têm com as bandas que, há coisa de vinte anos, puseram a cidade do noroeste dos states no mapa rock. No cenário actual, também não são os mais óbvios devotos dos Jesus and Mary Chain, muito embora uma moderada dose de fuzz na sua pop sonhadora e melodiosa denuncie uma pequena dívida à banda dos manos Reid. Mas nada que os impedisse de serem convidados a participar numa compilação solidária de venda on-line, juntamente com outras dez bandas substancialmente mais obscuras, para a qual, e no intuito de recolher fundos para uma organização britânica de combate ao cancro da mama, todas elas gravaram uma versão de "Just Like Honey".

Fixemo-nos apenas nos Seapony, que arrebatam a melhor das versões do conjunto. Sem constituir um corte radical com o original, contrapõe uma inocência açucarada ao erotismo dissimulado do original. Pelo tom imaculado, uma boa parte da responsabilidade cabe ao tom de menina de Jen Weidl, que decerto ouviu atentamente as "madrinhas" twee. À distorção contida do original, os Seapony respondem com candura melodiosa, e à atmosfera narcótica contrapõem pureza juvenil. Desta abordagem descomprometida nasce uma versão que, sem augurar o nível qualitativo do original (haverá alguma?), não só o respeita como nos propicia uma diferente perspectiva. Já agora, aproveito a deixa e encaminho-vos para as restantes versões da dita compilação, algumas delas relativamente interessantes: http://justlikehoney.bandcamp.com/.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

10 anos é muito tempo #35









SONIC YOUTH
Murray Street
[Geffen, 2002]




A deriva experimentalista levada ao limite perto do final do milénio, como que em reacção consciente às aproximações pop da primeira metade de noventas, levou muitos devotos dos Sonic Youth à beira de um ataque de nervos. As pazes foram seladas com Murray Street, que, não sendo propriamente um disco de fácil assimilação, reintroduziu o termo "canção" no léxico das velhas raposas novaiorquinas. Gravado no rescaldo do 11 de Setembro, é também o mais reflexivo dos dezasseis ábuns da discografia "regular dos Sonic Youth, aqui a tecer considerações ambíguas sobre como tal acontecimento mudou irremediavelmente a cidade que os viu nascer. A maior evidência salta à vista logo na capa, que nos mostra os dois filhos de Kim Gordon e Thurston Moore protegidos por uma rede, numa clara alusão à paranóia pela segurança que desde então alastrou pelos quatro cantos do globo.

Como grande novidade, Murray Street traz a integração de Jim O'Rourke como membro da banda a tempo inteiro. Ao contrário do que havia sucedido com os Smog ou com os Wilco, que com ele se aventuraram na experimentação, o envolvimento com o "mago" (também responsável pela mistura final) trouxe uma maior contenção e uma especial atenção ao detalhe. A dar o mote, o inaugural "The Empty Page" envereda por um via melancólica, com Thurston Moore num registo vocal próximo das mais recentes aventuras a solo. Tema de uma beleza rara no cancioneiro dos Sonic Youth, caracteriza-se pela leveza das guitarras que, no entanto, não enjeitam as possibilidades do desalinho no segmento instrumental intermédio. Embora donos de uma maior carga eléctrica, "Disconnection Notice", "Rain On Tin", e "Radical Adults Lick Godhead Style", todos igualmente cantados por Moore, seguem uma lógica semelhante, com os longos dedilhados a alternar com as partes cantadas. O longuíssimo "Karen Revisited" pode não recuperar a fantasmagoria do tema que evoca ["Tunic, de Goo (1990)], mas concede a melhor performance vocal de Lee Ranaldo - num registo mais próximo do canto do que do habitual quase-spoken word panfletário - em toda a carreira dos Sonic Youth. Peça central do disco, "Karen Revisited" tem ainda tempo e espaço para uma progressão do quase silêncio à descarga ruidosa que uns tais Godspeed You Black Emperor! não desdenhariam. Disco atípico no que à alternância das vozes diz respeito, só no par de temas finais Murray Street permite a aparição da voz de Kim Gordon. No curto "Plastic Sun" ela desunha-se pelo meio das guitarras incisas, enquanto que no significativamente mais planante "Sympathy For The Strawberry" recupera aquele tom de gata assanhada que lhe deu fama.

Nos seus escassos sete temas, a maioria deles com durações muito para além do convencional, Murray Street é, um pouco à semelhança do magistral Daydream Nation (1988), uma espécie de meio caminho entre o rigor formal e os impulsos de rebeldia punky, sem compromissos com qualquer das partes. Se me permitem a "heresia" de tal comparação, permitam-me ainda de eleger Murray Street o último trabalho relevante da discografia dos Sonic Youth, a última ocasião em que, de facto, desbravaram fronteiras. Perdoem-me a provocação os inúmeros acólitos do mui propalado Rather Ripped (2006), que apesar de considerar um óptimo disco (como quase todos da banda), mais não será do que uma súmula de fórmulas já anteriormente usadas com alguma insistência.

 
"The Empty Page"

sexta-feira, 15 de junho de 2012

O jogo das diferenças #8



RAMONES
Ramones
[Sire, 1976]


ELASTICA
Elastica
[Deceptive, 1995]

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Pássaros feridos

















Ingleses de Londres, os Two Wounded Birds mais parecem saídos da América de outras eras. Foram notados por estas bandas há uns dois anitos, na altura em que editaram um belíssimo EP de canções de uma pop de recorte clássico essencialmente imersas no espírito surf, mas também com umas pinceladas de doo-wop e rock'n'roll de travo antigo. Com tais características, não surpreende que tenham tido como "padrinhos" os norte-americanos The Drums, reconhecidos por se moverem nos mesmos territórios.

Como fervoroso adepto de tais sonoridades tratadas à luz da actual indie-pop, não podia estar mais expectante em relação ao primeiro longa-duração desta rapaziada. E não é que Two Wounded Birds, o disco lançado há poucos dias, cumpre em pleno as esperanças nele depositadas? Não só cumpre as premissas do EP, como expande a paleta para uma pop de tons mais sombrios, um pouco à semelhança dos também mui recomendáveis Veronica Falls. Tem também um par de temas de uma melancolia suavizada pelo sentir juvenil, um deles o nosso bem conhecido "My Lonesome", no qual o vocalista Johnny Danger pede meças tanto a Chris Isaak como a Richard Hawley. Contudo, as melodias ensolaradas continuam a merecer a nota de destaque, num conjunto de temas que nos fazem recuar até tempos em que a pureza pop ainda não tinha sido corrompida. Consta que o mestre Brian Wilson já tenha dado a sua aprovação a pérolas deste calibre:

"If Only We Remain" [Holiday Friends, 2012]