"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Os astros estão do nosso lado













Nestas andanças há perto de uma vintena de anos, os Nada Surf são já um nome que dispensa apresentações aos melómanos imunes ao zeitgeist da estação. Expostos ao grande público pela alta rotação do tema "Popular", não foram banda que me tenha caído desde logo no goto. Talvez por causa de esse ser um tema demasiado colado a um certo conceito college rock tipicamente americano, precisamente numa altura em fugia a sete pés de tudo o que estivesse ligado à praga pós-grunge. Não deixava, contudo, de ser uma canção de excepção, embora eu tenha demorado demasiado tempo a admiti-lo, tanto como o que levei a ficar convencido pelo trio nova-iorquino.

Já convertido, é com agrado que recebo novíssimo The Stars Are Indifferent To Astronomy, o sétimo álbum de estúdio da banda. Não que o novo registo traga grandes novidades, pois não é isso que qualquer seguidor espera dos Nada Surf. Deles espera-se apenas que nos continuem a brindar com grandes canções, fora de qualquer moda ou tendência, e profusamente melódicas. Sendo assim, The Stars Are... cumpre em absoluto as expectativas. As canções, em número de dez, são ricas em refrões grudantes e em melodias facilmente assimiláveis até pelo ouvido mais negligente. Apesar da maturidade dos seus autores, retêm ainda aquele espírito de juventude que devia ser comum a toda a pop digna desse nome, algo que fica bem expresso em alguns dos títulos ("When I Was Young", "Teenage Dreams"). Talvez ligeiramente mais musculado que os seus antecessores mais próximos, contrapõe com uma suave dose de melancolia reflexiva, própria da idade até para estes eternos jovens de espírito. Diga-se, um pouco à semelhança do último registo dos Teenage Fanclub, velhos compinchas deste lado o Atlântico. 

"When I Was Young" [Barsuk, 2012]

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

First Exposure #41













THE DARCYS

Formação: Jason Couse (voz, gtr); Wes Marskell (tcls); Dave Hurlow (bx); Michael Le Riche (btr)
Origem: Toronto, Ontario [CA]
Género(s): Pop, Indie-Pop, Art-Pop, Ambient-Pop
Influências / Referências: The Dears, Elbow, The Antlers, The Delgados, Talk Talk, Steely Dan*

(*) a banda acaba de editar uma versão integral de AJA, o clássico de 1977 da dupla Steely Dan

http://www.myspace.com/itsthedarcys


[Arts & Crafts, 2012]

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Saint Pop
















Embora nos últimos meses nos tenham brindado com reedições em catadupa, dos Saint Etienne não se escuta material inédito há sete anos, desde a altura do álbum Tales From The Turnpike House. Se bem se lembram, esta foi a banda que, há duas décadas, trouxe a dança para a pop, ou vice-versa, consoante o ponto de vista. Apesar de alguns tiques de francesismo, desde cedo que a fábrica de hits dos Saint Etienne não escondia uma obsessão pela cultura popular genuinamente britânica, em particular pelos tempos da swinging London. Com o correr dos anos, a música tornou-se mais atmosférica, contemplativa até, retendo, no entanto, toda a elegância que a figura da vocalista Sarah Cracknell personifica.

Sabemos agora que o fim do silêncio está para breve. Parece que o novo ano promete novo álbum, por sinal um recuo às sonoridades mais dançantes do passado. Parece também que as velhas raposas Bob Stanley e Pete Wiggs puxam da cartilha para nos emergir no mundo mágico de referências pop. O primeiro sinal do regresso ao passado é o avanço "Tonight", no qual Sarah, possuída pelo espírito teenager, expressa toda a excitação que precede a ida a um concerto, com detalhe nos preparativos. Por outro lado, é o próprio Stanley que nos afiança que o disco que aí vem é todo ele uma celebração do poder da pop, e da forma como ela afecta e condiciona as nossas vidas. Dancemos a isso, então!



"Tonight" [Heavenly, 2012]

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Ao vivo #79
















Male Bonding @ MusicBox, 21/01/2012

Desde a primeira e única vez que os tinha visto, há pouco mais de um ano, algo mudou na vida dos londrinos Male Bonding. Desde logo, ocorreu a edição de um segundo álbum, confirmação de que a banda é um valor seguro das actuais expressões indie. Ao vivo há também mudanças, com a integração de um segundo guitarrista, que alarga a formação a quarteto. Esta mudança justifica-se pela sonoridade desse segundo disco, mais encorpado quando comparado com as malhas esquálidas do debute.

É precisamente - e naturalmente - o mais recente registo que serve de base à ementa da noite. A abrir, "Tame The Sun" apanha o público ainda frio e é também prejudicado pelo baixo volume do microfone de Kevin Hendrick. Debelado este pequeno problema, e com o som, ainda assim, em condições deficientes (um hábito em demasiadas salas da capital), a banda não se deixa perturbar e arranca para uma actuação segura, e sem pausas para descanso, que recolhe a aprovação do público, em número bastante inferior ao desejável. Aos riffs afiados e aos ritmos do punk mais saltitante, agora adornado pela profusão de coros com onomatopeias (o skate-punk encontra o surf-punk?), a assistência sacudindo o corpo em crescente frenesim, chegando, inclusive, a provocar uma pequena escaramuça na zona mais próxima do palco. A empatia parece ser mútua, e a banda surge mais comunicativa do que aquilo que lhes conhecia.

Apesar da predilecção por Endless Now no alinhamento, são ainda os temas do anterior Nothing Hurts a merecer as recepções mais efusivas. No soberbo "Franklin", as vozes do público perdem a timidez e fazem-se ouvir durante o refrão. Já no crepitante "Year's Not Long", a banda foge à norma da fidelidade às versões gravadas e ensaia um delírio instrumental na parte intermédia, deixando à solta o espírito dos primeiros Nirvana. Foi apenas o momento mais alto de um concerto que abre com nota alta a temporada 2012.

sábado, 21 de janeiro de 2012

R.I.P.


ETTA JAMES
[1938-2012]

 "You guys know your president? You know the one with the big ears? Wait a minute, he ain't my president. He might be yours; he ain't my president. But I tell you that woman he had singing for him, singing my song - she's going to get her ass whipped."
- Reacção de Etta James, em 2009, a propósito da interpretação de "At Last" por Beyoncé, perante o presidente dos E.U.A.

Já não lhe bastava a vida conturbada, com consumo de drogas incluído, e até que uma boa parte das novas gerações a reconheçam apenas através da publicidade. Até o presidente pop a preteriu em favor daquela que, precisamente, representou no grande ecrã. Porém, resta-nos o consolo de saber que quem não resume a cultura popular à "cultura do imediato" tem plena consciência que aquela que ontem se calou foi uma das grandes vozes da América do último século. Uma Voz que soube, como poucas, adaptar-se a géneros: dos blues à soul, do jazz ao rock'n'roll, passando ainda pelos espirituais negros. Rest in peace, Miss Peaches!

"At Last" [Argo, 1960]

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

All the people he likes are those that are dead
















Foto: Pete Millson

Lawrence (sem apelidos, sff) é um dos músicos mais idiossincráticos, mas também dos mais contra-corrente, personagens da pop britânica dos últimos trinta anos. Nos idos de oitenta idealizou os Felt, para os quais escreveu algumas das letras mais ricas e complexas de que há memória. Um veículo para a reverência a Tom Verlaine e aos Television, a banda esteve longe de almejar a ambicionado sucesso comercial, apesar do firme culto gerado em seu redor e que ainda perdura. Contudo, conseguiu o principal intento aquando da formação: dez álbuns em dez anos, outros tantos singles. Em inícios da década de 1990, Lawrence encabeçou os Denim, guinada no sentido do glam-rock infectada de uma ironia corrosiva relativamente à madrasta década anterior. Menos prolífico, este projecto deixou gravados dois álbuns, e um terceiro que nunca viu a luz do dia, pura e simplesmente por causa do boicote ao tema de avanço ("Summer Smash"), lançado na mesma semana da morte de Lady Di. Com o fim do milénio chegaram os Go-Kart Mozart, até agora responsáveis por um trio de discos corroídos por impulsos synth-pop e, provavelmente, o mais discreto dos projectos, isto segundo os critérios do reconhecimento lawrencianos.

Em 2012, quando o sucesso de Lawrence é apenas um probabilidade remota para o mais devoto dos fiéis, o seu nome parece estar mais na ordem do dia que nunca. Prestes a chegar ao mercado do DVD está Lawrence Of Belgravia (dupla referência à figura histórica britânica e ao bairro de residência até ao despejo), o documentário da autoria de Paul Kelly, realizador com considerável currículo no universo indie, que passou pela última edição do London Film Festival. O filme, descrito como um "trabalho de amor", acompanha os últimos oito anos do nosso herói, com recuos ao passado de todo um errático percurso. Já à venda está Felt, um livro de fotografias de tiragem limitada a mil exemplares que, obviamente, contempla a mais emblemática banda do currículo de Lawrence. Cada exemplar é numerado e assinado pelo próprio, e o prefácio ficou a cargo de Bob Stanley, influente jornalista musical e fundador dos Saint Etienne.


Felt _ "Penelope Tree" [Cherry Red, 1983]


Denim _ "I'm Against The Eighties" [Boy's Own, 1992]


Go-Kart Mozart _ "Here Is A Song" [West Midlands, 1999]

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

O jogo das diferenças #3


ELVIS PRESLEY
50,000,000 Elvis Fans Can't Be Wrong: Elvis' Hold Records - Volume 2
[RCA Victor, 1959]



THE FALL
50,000 Fall Fans Can't Be Wrong - 39 Golden Greats
[Sanctuary, 2004]

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Reavivar da memória













Recém entrado na casa dos vinte, Dylan Baldi, até há pouco o único membro de pleno direito dos Cloud Nothings, já ensaiou mais reviravoltas estéticas que muitos veteranos em décadas de carreira. No pouco divulgado registo de estreia (Turning On, de 2009), decifravam-se esboços de canções escorreitas sob a "baixa fidelidade" caseira. Já no álbum homónimo do ano passado, notório passo rumo a uma maior limpidez, Baldi enveredava pelo mesmo punk-pop com sabor a Verão que tem entretido muitos jovens músicos na terra do Tio Sam. Disco mais que satisfatório, Cloud Nothings viu-se ofuscado por alguns antecessores a operar no mesmo comprimento de onda.

Com a chegada do novo ano temos novo disco, e com ele nova mudança, que desta feita poderá firmar em definitivo Baldi como um valor seguro nos meandros indie-pop norte-americanos. Chama-se Attack On Memory e chega no próximo dia 23, com selo da Carpark. Quem conhece o anterior trabalho do seu autor ficará surpreendido pelo significativo incremento na densidade e na complexidade das texturas, o que o coloca a par de algumas das propostas mais arrojadas do chamado post-hardcore de outrora. Os saudosistas dos excelsos Unwound reconhecerão aqui pontos de contacto, sobretudo na alternância da calmaria com a tensão, esta expressa na berraria incontida. No comando das gravações esteve Steve Albini, que com este soma mais um ponto no estatuto de "produtor" mais capaz de extrair as qualidades ingénitas de uma banda. Em suma, digamos que Attack On Memory é mais um atestado de que as boas memórias de noventas vieram para ficar, ou apenas o primeiro grande disco de 2012. Decidam depois de ouvir:

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Mil imagens #26


Edwyn Collins - Londres, 1997
[Foto: Joe Dilworth]

Let's look at the trailer!












Revelados como uma das esperanças da nova música britânica, os Trailer Trash Tracys chegaram ao meu conhecimento através do brilhante "Candy Girl", um tema cujo início fazia lembrar a versão de "Kangaroo" pelos This Mortal Coil, embora evoluísse para uma sonoridade indie mais canónica. Amadurecidas as ideias, o quarteto londrino acaba de lançar o tão desejado álbum de estreia. Ester, de seu nome, o disco inclui uma dezena de temas, entre eles o citado numa gravação ligeiramente diferente, mas que não desfaz as comparações. Aliás, todo o conjunto navega numa onda semi-orgânica, semi-electrónica, que faz lembrar as sonoridades da pop sonhadora e com pretensões artísticas que fizeram uma parte da história da 4AD. As mesmas referências são extensíveis à capa, da autoria de Kurt Ralske, mentor dos Ultra Vivid Scene, precisamente uma das bandas do melhor período da editora londrina. Num primeiro contacto, Ester poderá causar alguma estranheza, muito por culpa do "desencontro" da suavidade da voz de Susanne Aztoria com a angularidade das texturas digitais. Porém, com a insistência, é dessa sobreposição de elementos contrastantes que resulta muito do encanto misterioso do disco.

"Wish You Were Red" [Double Six, 2012]

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Uma simples canção
















Apesar de serem, provavelmente, a banda mais consistente em termos de obra no novo século, não se pode considerar os The Shins os mais árduos trabalhadores deste mundo. Afinal de contas, desde que conquistaram os nossos corações, em 2001, têm apenas três álbuns, o últimos dos quais - Wincing The Night Away - já velho de cinco anos. Confesso que este longo hiato, associado ao conhecimento do feitio do mentor James Mercer, que alegadamente "despediu" todos os restantes membros de forma pouco amistosa, me fez suspeitar de um fim precoce e do começo de uma carreira a solo.

Mas o que é certo é que a banda prossegue, inclusive agora alargada a quinteto. Um dos novos membros é o amigo, e também autor de obra em nome próprio, Richard Swift, o outro é Joe Plummer, baterista dos também amigos Modest Mouse. Melhor notícia do que a continuidade é saber que o quarto álbum está eminente. Chama-se Port Of Morrow, chega lá para meados de Março, e leva selo da editora do próprio Mercer, portanto o primeiro fora da Sub Pop Records. Pelo primeiro tema avançado, somos levados a crer que segue mais próximo da linha límpida do último registo do que propriamente das aproximações ao psicadelismo dos primórdios, ligeiramente mais do meu agrado. De qualquer das formas, não deixa de ser uma p*** de uma canção. Ora oiçam:


"Simple Song" [Aural Apothecary, 2012]

A brigada que veio do frio
















Reconheço o equívoco: até há pouco, sempre que tropeçava no nome dos Iceage, imaginava mais uma banda a operar na reciclagem chill/dark-wave. Talvez tenha sido do nome, talvez tenha sido da origem dinamarquesa, pois já se sabe da tendência dos nórdicos para a recuperação de lixo tóxico. Por conseguinte, retardei a audição do álbum-estreia New Brigade, sem ter a mínima noção do que andava a perder. E o que andava a perder era simplesmente um dos melhores discos punk dos últimos anos, isto se entendermos o termo punk como uma descarga de adrenalina assistida pela electricidade.

Partindo das premissas mais básicas associadas ao "género", nos seus escassos 25 minutos, New Brigade convoca ainda sensibilidades hardcore e até góticas. As primeiras manifestam-se na tendência para a ruideira e no tom de confronto do vocalista Elias Rönnenfelt, as últimas nas ambiências atmosféricas e, sobretudo, na simbologia pagã da capa. Porém, esteticamente, será mais ajustado arrumar New Brigade no amplo rótulo post-punk, pois reúne algumas das características dos grandes nomes desse período concreto: atonalidade, experimentação e miscigenação. Em jeito de remate simplista, diria que soa a algo próximo de uns These New Puritans do começo, mas com ideias já definidas. Tão mais surpreendente se tivermos em conta que todos os quatro Iceage andam na casa dos 18/19 anos.


"White Rune" [What's Your Rupture?, 2011]


"You're Blessed" [What's Your Rupture?, 2011]

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Singles Bar #71








WIRE
Outdoor Miner
[Harvest, 1978]




Não é fácil para os seguidores - mesmo os mais próximos - dos Wire acompanhar as viragens estéticas da banda formada em Londres em pleno turbilhão punk. Até às descargas abrasivas que pontuam alguns trabalhos mais recentes, partiram da subversão arty do punk, e prosseguiram por uma via oblíqua que apenas tangia a pop ao de leve. Nunca amarrados a conceitos estandardizados, traçaram um caminho que talvez não conheça paralelo na música popular dos últimos 35 anos.

No já vasto reportório há objectos estranhos, mais próximos das premissas pop, mesmo que sujeitos ao devido "tratamento Wire". É o caso de "Outdoor Miner", o único tema neste longo percurso que foi capaz de conquistar o estatuto de hit, não tanto pelo sucesso em termos de vendas, mas mais pelo considerável número de versões de que tem sido alvo. Mesmo no contexto de maior concessão à normalidade melódica do  segundo álbum (Chairs Missing), "Outdoor Miner" destoa pela suavidade e a leveza vapororosa, características possíveis por via da contenção da voz e das texturas dos teclados liquefeitos. Curiosamente, e contrariamente ao que é comum, na versão single o tema tem uma duração ligeiramente superior àquela que é incluída no álbum, esticando-o assim para tempos mais próximos do formato radiofónico. Da letra, contudo, não esperem discernir quaisquer clichés pop: é a habitual ambiguidade, só decifrável na mente de Colin Newman, o seu autor.

sábado, 7 de janeiro de 2012

First Exposure #40















HOOKWORMS

Formação: MJ (voz, tcls); EG (gtr); MB (bx); SS (gtr); JW (btr)
Origem: Leeds, Inglaterra [UK]
Género(s): Indie-Rock, Space-Rock, Psych-Rock, Kraut-Rock
Influências / Referências: Spacemen 3, Loop, Wooden Shjips, Spectrum, The Verve, Can

http://hookworms.bandcamp.com/


"Teen Dreams" [Faux Discx/Gringo, 2011]

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Good cover versions #61












VERONICA FALLS _ "Thorn In My Side" [Bella Union, 2011]
[Original: Eurythmics (1986)]



Representantes da vaga revivalista da C86 em solo britânico, os Veronica Falls têm tido a sua quota parte de responsabilidade pelo renascer do entusiasmo relativamente à música que se faz em terras de Sua Majestade. No esplendoroso álbum de estreia do ano passado, esquivavam-se do rigor das premissas jangle/twee, dando um cunho pessoal à coisa por via do abuso da reverberação, de uma certa obsessão pela fantasmagoria, e pelo ligeiro travo surfy. São também essas as regras impostas na "reinvenção" de "Thorn In My Side", tema enriquecido pelas harmonias girl/boy que resulta como uma versão twee dos saudosos Sons and Daughters dos primeiros tempos.

Portanto, a versão em apreço difere radicalmente do original dos Eurythmics, na altura uma parelha já estabelecida no mainstream e completamente afastados da linguagens new-wave/synth-pop dos primórdios. "Thorn In Me Side" é a típica abjecção de meados de oitentas, à qual não falta sequer o saxofone de gosto dúbio. É música calculada para FMs de programação formatada, com respectivo vídeo destinado a canais televisivos estagnados e apostados na exploração da imagem forte da dupla. Hoje é, provável e sintomaticamente, o tema mais difundido dos Eurythmics na praga de recuo aos eighties que continua a alastrar. 

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Conhecer Frankie

















Nova-iorquina de nascimento, angelina de quando em quando, Frankie Rose tem um trajecto intimamente ligado à "nova" indie-pop norte-americana de génese britânica. No currículo conta já com passagens breves, sempre nas funções de baterista, pelas Vivian Girls, pelos Crystal Stilts, e pelas Dum Dum Girls. O seu lugar, contudo, era o de frontwoman, algo que veio a concretizar-se com o álbum homónimo do quarteto Frankie Rose & The Outs. Deste combo ainda guardo memórias do par de concertos em festival madrileno, ocasião em que, após a empatia do primeiro encontro, quase cheguei a assumir um papel equiparado ao de groupie das moças. E que belas moças, refira-se.

Ano novo, vida nova, e Frankie está agora a fazer música completamente em solitário. O primeiro álbum está já previsto para a segunda metade de Fevereiro e promete renegar as referências C86 das anteriores aventuras. Chamar-se-á Interstellar e vem antecedido pelo single que pode ser escutado mais abaixo. Da meia dúzia de audições e das informações avulsas é possível aferir que Frankie está agora apostada numa pop mais leve e límpida, próxima de algumas das bandas que fizeram a história da 4AD no tempo em que a editora britânica ainda divulgava algo de novo. Ora oiçam:


"Know Me" [Slumberland, 2012]

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Count five!









Há precisamente cinco anos teve início esta aventura chamada April Skies. Nestes últimos sessenta meses, já se contabilizam mais de um milhar de posts, dedicados a centenas de discos, a centenas de concertos, a centenas de bandas. Porém, muito há ainda por dizer e, pese embora uma menor frequência das publicações nos últimos tempos, o entusiasmo é o mesmo daquele dia 2 de Janeiro de 2007. Por isso, conto com vocês desse lado para, pelo menos, outros cinco. Tantos como os que tinha a pequenita daquela canção que nos deu a conhecer a "elfa" islandesa:

The Sugarcubes _ "Birthday" [One Little Indian, 1987]