"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Aqui e (quase) agora














Foto: Rob Bennett / N.Y. Times

Nos rostos já estão bem marcados os sinais do envelhecimento. Aliás, alguns desses rostos nem são os mesmos de outras eras que o grosso da memória colectiva quis apagar. Mas essas minudências não desencorajaram os mentores Glenn Mercer e Bill Million a reagrupar aquela que era a última formação dos The Feelies há pouco mais de dois anos. De então para cá têm aparecido esporadicamente por esses palcos para deleite de uns quantos privilegiados. Agora, assim de mansinho, e para gáudio de mais uns tantos, anunciam novo álbum, o quinto no global e o primeiro em vinte anos. Chama-se Here Before e é lançado durante a primeira metade do próximo mês de Abril. Relatos avulsos dizem-nos que aquilo que não mudou foi a sonoridade típica da banda de Nova Jérsia, recheada de guitarras tensas e chocalhadas. E isso, neste caso, é elogio para os adoradores deste bando de geeks devotos dos Velvet, dos Modern Lovers e dos Television, com culpas provadas na fundação de um certo indie-pop norte-americano e forte impacto "novatos" com o peso de uns R.E.M. ou Yo La Tengo. Ora oiçam:


"Should Be Gone" [Bar/None, 2011]

R.I.P.


JOHN BARRY
[1933-2011]

John Barry pertenceu àquele grupo restrito de compositores para cinema cujos scores sobrevivem fora do grande ecrã, muitas vezes superando em interesse a obra filmada a que servem de suporte. Apesar de o seu nome ser indissociável da série de filmes 007, não deixa de ser caricato que, ao contrário do que é do conhecimento comum (canais de televisão generalista incluídos), não lhe pertença a autoria do "tema" do famoso agente secreto. Mas a obra de Barry para cinema, iniciada em filmes de produção britânica, não se resume a James Bond, e espalha-se por muitos dos clássicos da Sétima Arte. O seu estilo distinto caiu nas boas graças da conservadora Academia de Hollywood, que o galardoou uma mão cheia de vezes. Um enfarte vitimou-o fatalmente no dia de ontem. Parte o criador, ficam as peças musicais, em muitos casos entranhadas no subconsciente de várias gerações.


"Midnight Cowboy" [United Artists, 1969]

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

First Exposure #26















TWO WOUNDED BIRDS

Formação: Johnny Danger (voz, gtr, org); Alison Blackgrove (bx); Tommy Akers (gtr); Jimmy Davies (btr)
Origem: Margate, Kent, Inglaterra [UK]
Género(s): Pop, Surf-Pop, Indie-Pop, Rock'n'Roll
Influências / Referências: The Beach Boys, The Shadows, The Tornados, The Drums, Chris Isaak

http://www.myspace.com/twowoundedbirdsofficial

"My Lonesome" [Holiday Friends, 2010]

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Helen of Tron


"Helen Brown was born in Vancouver, Canada, but raised in an Athens, Georgia-based religious cult, and was blinded in one eye from a childhood baseball injury. As an adult, she dropped out of Evergreen and traveled the country for a while as a nomadic psychedelic folksinger, before forming her first band One Eyed Tramps. For years, she lived alone in a mountaintop in southern Alaska, where she befriended a Cherokee Shaman (later revealed as a fake) who encouraged her to pursue a frustrating academic career. Rampant drug use, frequent fainting on stage, and occasional self-inflicted knife wounds on stage led to more interest in her stage antics than her music. However, a few sides did emerge in the late ’90s (recording dates unknown), which feature a unique mix of country, girl group, R&B, and ghoulishness. Crude and amateurish at best, these recordings are appreciated for their sincerity and intensity of feeling.".

Na realidade, a tal Earth Girl Helen Brown é mais uma cogitação de Sonny Smith, cérebro dos retro-poppers Sonny & The Sunsets, coadjuvado por malta ligada à "cena" lo-fi californiana como de uns tais The Sandwitches, Kelley Stoltz, e John Dwyer, o intrépido senhor Thee Oh Sees. Juntos confeccionaram Story Of An Earth Girl, um EP de seis temas que, ao que parece, cumpre a ameaça de cruzar os estilos citados no texto introdutório. E, como convém, tudo registado de forma a soar às gravações de outras eras. A coisa, com patrocínio conjunto dos blogues Gorilla vs. Bear e Weekly Tape Deck, sai a 1 de Março em vinil branco de 10" e limitada aos 500 exemplares. Eu faço anos alguns dias antes, mas não me importo de receber prendas atrasadas...

"Story Of An Earth Girl" [Forest Family, 2011]

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Good cover versions #48












RED RED MEAT _ "Wishing (If I Had A Photograph Of You)" [Sub Pop, 1995]
[Original: A Flock of Seagulls (1982)]

Com o mote dado pelo pioneirismo dos Human League, os primeiros anos dos "loucos anos oitenta", hoje recuperados até ao enjoo, foram um ver-se-te-avias de sub-produtos em busca dos tais 15 minutos de fama de que falava o outro. À data, acotevelavam-se em terras de Elizabeth II os projectos munidos de um visual estudado e poucas ideias. A coisa tomou tais proporções que até os "padrinhos" de Sheffield renegaram o monstro e apontaram azimutes noutras direcções. Exemplo acabado deste tipo de bandinhas de synthpoppers seguidistas, os A Flock of Seagulls ficaram, sobretudo, conhecidos pelo penteado do vocalista Mike Score, no mínimo espampanante, para não dizer ridículo. Além disso, tiveram uma meia dúzia de hits moderados, até por cá, que sempre foi terra dada a sucedâneos. Talvez o mais badalado tenha sido mesmo "Wishing (If I Had A Photograph Of You)", já tão regurgitado de há uns anos a esta parte que não me merece mais considerações. 
Não é de hoje a tendência de bandas, com outras ambições que não o sucesso instantâneo e fugaz, reinterpretarem este tipo de abjecções. As motivações para tal, a meu ver, podem ser três: diversão pura, tentativa de credibilizar uma canção normalmente maltratada, ou simplesmente o assumir dos guilty pleasures dos "anos formativos". No caso em apreço, desconheço as motivações dos Red Red Meat, uma das bandas interessantes no catálogo da Sub Pop no fase de declínio pós-grunge praticante de um indie-rock com laivos de slowcore e americana, e pontuais guitarras agrestes, com afinidades com os contemporâneos Swell. O que é certo é que esventraram literalmente a "pérola" dos A Flock of Seagulls. Caso o neo-romântico que há em vós supere a barreira dos 30", vai gostar de ouvir a linha melódica (sim, porque estas coisas tinham, invariavelmente, linhas instrumentais trauteáveis e/ou assobiáveis) tratada a golpes de guitarra. Talvez já não sejam tanto do vosso agrado aquelas vozes, de tipos que, provavelmente, gostam de descarregar as agruras do quotidiano no balcão de bar mal afamado.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Mil imagens #14


Galaxie 500 - Flushing Meadows Park, Nova Iorque, 1989
[Foto: Michael Macioce]

Em termos de imagem, a meteórica carreira dos Galaxie 500 ficou intimamente ligada a Sergio Huidor, responsável pela direcção de todos os quatro vídeos da banda e por muitas das fotos promocionais. Em termos de fotografia, este recorria sobretudo ao preto-e-branco, carregado de sombras que pretendiam reflectir a imensa melancolia que extravasava da música do trio. Já no exemplar supra, Michael Macioce, profissional com perto de 30 anos de fotografia artística quase exclusivamente dedicada à Big Apple, opta pela abundância da cor, embora em tons esbatidos, tal qual beleza espectral e intemporal da música dos G500. Registe-se ainda o destaque dado ao cenário, fazendo dos músicos meros figurantes em postura de "gajos absolutamente normais". Da mesma sessão sairia a imagem da capa de On Fire (1989), obra maior na escassa mas influente discografia da banda de Boston.

domingo, 23 de janeiro de 2011

10 anos é muito tempo #25








LOW
Things We Lost In The Fire
[Kranky, 2001]




Com os Low tudo se desenrola lentamente, quer a progressão de cada tema, quer as evoluções na sonoridade monolítica que fez deles nome de referência no chamado slowcore. De tal forma que, foram precisos seis álbuns e muitos EPs para que, sem recorrer a uma escalpelização exaustiva de cada disco, se notem progressos significativos na sua música. Talvez por isso, aos iniciados recomendo o início da abordagem ao universo dos Low com Things We Lost In The Fire, o tal sexto álbum que faz a ponte entre a melancolia em câmara lenta dos primórdios e as aproximações a um formato canção mais convencional dos lançamentos mais recentes.
A primeira grande alteração relativamente ao passado é desde logo notada nas secções de cordas, nos pianos, e nos sopros, que, subtilmente, enriquecem a matriz de voz, guitarras, e bateria esparsa. Igualmente notória é a presença assídua das harmonias vocais, truque com o qual o casal composto por Alan Sparhawk e Mimi Parker injecta beleza etérea onde antes havia frio glaciar. A título de exemplo, oiçam-se "July", "Kind Of Girl", ou "Closer", todos eles espécimes do bom uso do contraste das duas vozes, grave e pesarosa a dele, delicada e pacificadora a dela. Apesar das cedências à luminosidade, ... Lost In The Fire tem ainda os seus momentos sombrios, como são os casos de "Laser Beam" e "Whore", ambos maioritariamente vocalizados por Parker. O primeiro resulta numa espécie de canção-de-embalar sinistra, com a voz suspensa sobre a guitarra em serviços mínimos, enquanto que no último, a tensão dos momentos mais elevados serve para sugerir um ritmo de marcha fúnebre. A introdução dos sons mais explosivos, e mais próximos de um formato rock, chegam por intermédio de "Dinosaur Act", tema de um refrão marcante com voz a plenos pulmões e guitarra ruidosa. Porventura, seria esta a canção mais imediata do extenso reportório dos Low, não fosse o derradeiro "In Metal", tema ritmado e inspirado pelo recente nascimento da primeira filha do casal que encabeça a banda. Tal acontecimento parece também ser abordado no inaugural "Sunflower", se bem que neste, um tétrico "When they found your body", a abrir, lance alguma ambiguidade.
Tal como o anterior Secret Name (1999), gravado nos seus estúdios de Chicago por Steve Albini, ... Lost In The Fire tem o condão de deixar respirar os instrumentos, sem recurso a quaisquer artifícios, consumando uma vez a pureza musical que é marca registada de tão experimentado "produtor".


"Sunflower"


"Dinosaur Act"


"In Metal"

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Ao vivo #60















Foto: Sarah Cass


Japanther + Shellshag @ Galeria Zé dos Bois, 20/01/2011

Essa coisa do rock'n'roll é juventude. É subversão. É rebelião. É diversão. É energia. É adrenalina. É transpiração. É uma data de coisas que, geralmente, emanam dos subterrâneos e chegam à superfície descodificadas em produtos de consumo em massa. Não que os nova-iorquinos Japanther venham um dia a ser referência para fenómeno em larga escala. Eles próprios são já uma reactualização dessa instituição punk-pop intitulada Ramones (com micro-versão de "Blitzkrieg Bop" incluída). Mas o que é indesmentível é que, nos dez anos já que levam a agitar pequenas salas apinhadas, abriram caminho para pequenos cultos como Wavves, No Age e mais um punhado de nomes ligados à secção mais poppy do chamado shitgaze

Em happenings que tendem para a indisciplina, os resultados podem variar entre o triunfo absoluto e o desastre completo, dependendo, quase exclusivamente do mood da assistência. Ontem, quis o acaso que o duo em palco e a imensa turba que lotou o "aquário" da ZdB, e não arredou pé por um instante, se alinhassem num propósito comum - celebrar o espírito libertário do rock'n'roll. A cargo da parelha de agitadores, sob a forma de pequenos petardos contagiantes, ficou o revisitar de seis décadas de tal ofício. Ele houve ortodoxia punk-rock, com direito a versão de Black Flag; ele houve surf-rock tal como entendido por putos fodidos de NYC que nunca viram uma praia; ele houve canções pop escorreitas que não mereciam ser relegadas para pequenos nichos de curiosos; ele houve balanço em dose massivas para sacudir corpos com excesso de energia; ele houve libertação do ennui juvenil. E houve muito humor: do mais inteligente e corrosivo, nas letras que debatem uma série de clichés da cultura pop estandardizada; e do mais inane, tanto nos pequenos trechos pré-gravados que medeiam as canções, como nas tiradas absurdas da dupla nesses mesmos interlúdios. O único pecadilho a apontar será, porventura, a duração excessiva de um concerto com estas características, o que faz com que o entusiasmo inicial esmoreça pelo cansaço, deixando a pairar uma sensação de repetição.

Também um duo, mas substancialmente mais contidos na subversão, os Shellshag alinham por um indie-rock mais canónico, num espectro mal definido que pode ir dos Pixies aos Royal Trux. Acusam ainda alguma insegurança, sobretudo o guitarrista, que não consegue disfarçar uma timidez pouco de acordo com o exercício do ministério rock. Mas nota-se que há por ali talento, engenho e, acima de tudo CANÇÕES. Umas vezes melódicas e sexy, outras cacofónicas e iradas, mas sempre fiéis à crença da baixa-fidelidade. Uma agradável surpresa que se tinha revelado recentemente via myspace, e cumpre, embora ainda sem distinção, em palco.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Em escuta #55













THE SOFT MOON _ The Soft Moon [Captured Tracks, 2010]

Em editora que geralmente celebra o sol, a praia e a diversão, Luis Vasquez e o seu projecto The Soft Moon são o anjo negro, a criatura que celebra a noite e a escuridão. Tudo neste disco, supostamente de confecção caseira e solitária, é denso, tenso, sombrio e opressivo. Ou melhor, tudo excepto um ou outro apontamento surf-rock que se entrevê por entre a densa nebulosa de ruído branco que estrangula as vozes distantes e sofridas. Rótulos dispensam-se, tal a disparidade de tendências reconhecíveis que Vasquez combina neste apelativo convite à entrada no mundo das trevas. Por uma vez, e por alguns instantes, sejamos todos "góticos", daqueles "à maneira antiga". [7,5]


TORO Y MOI _ Causers Of This [Carpark, 2010]

No horizonte próximo há já um novo disco, que se anuncia de pendor mais "orgânico". Por ora, e com algum atraso, vai-se ainda digerindo o debute que revelou o projecto pessoal de Chaz Bundick como nome maior do chamado hypnogogic, uma das "tendências" que marcaram o ano transacto. Nesse largo espectro que sugere sons lisérgicos e atmosferas diáfanas, Chaz pertence à facção "electrónica", com um pé na pista de dança, outro na solidão do quarto. Causers Of This consegue os seus intentos quando o ouvinte se deixa toldar pelo dualidade frio/calor que resulta da combinação dos materiais sintéticos com a humanidade das vozes, normalmente em falsetto. Quando, na parte final, envereda por uma toada nas margens do disco, a coisa resvala para próximo dos sons que normalmente preenchem as compilações com as palavras "chill" e "Ibiza" impressas na capa. [7]


BRITISH SEA POWER _ Valhalla Dancehall [Rough Trade, 2011]

Três anos exactos desde o ambicioso e desequilibrado Do You Like Rock Music? e os BSP regressam à origens, deitando para trás das costas as tentações por um certo arena-rock que aquele denunciava. Quem os conhece bem, já sabe que o apelo pela grandiosidade não se extingue, antes sublima-se em canções de forte cunho emotivo que invocam o romantismo de uns Bunnymen ou de uns Furs. A reboque vêm as viragens bruscas para um rock descarnado movido por guitarradas desenfreadas. Isto, sem esquecer uma propensão proggy, algo que já não é mero devaneio e que o novo tomo até parece realçar. Com uma duração para além do que é corrente, Valhalla Dancehall aguenta-se graças a uma certa aura de mistério que advém da ambiguidade das letras, prendendo o ouvinte no mundo de fantasia e saudável loucura habitado pelos BSP e que faz deles um caso isolado na produção indie-rock britânica deste novo século. [7,5]


LOWER DENS _ Twin-Hand Movement [Gnomonsong, 2010]

Temporariamente desaparecida dos radares, Jana Hunter foi uma das primeiras revelações femininas do chamado freak-folk, apadrinhada pelo próprio guru do "género" Devendra Banhart. É precisamente através da editora dele (e de Andy Cabic, dos Vetiver) que se estreia enquanto frontwoman dos Lower Dens, um quarteto mais de acordo com os parâmetros indie-pop, facção dreamy. E que estreia, meus caros amigos! Os versados na coisa, vão reconhecer de imediato parentescos com o lento crepitar dos saudosos e apaixonantes Galaxie 500, o que, embora possa parecer redutor, é sempre de saudar. Olhando mais fixamente, detecta-se o elemento folky, não extinto, mas na medida certa e comum a muitas das mais interessantes expressões indie norte-americanas de hoje e de sempre. Contudo, a banda não se inibe com a calmaria dominante, e parte sem pudores para longas jams instrumentais carregadas de estridência e distorção. É neste habitat supostamente hostil que se ergue a voz (e que voz!) de Hunter, em serviços mínimos, mas calorosa, emotiva, e profundamente harmoniosa. Com T-HM, que chega tarde aos ouvidos para ingressar do top ten de 2010, mas a tempo para a merecida exultação, os Real Estate passam a ter companhia no seu bonito mundo em tons sépia. [8,5]

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Singles Bar #58








BOURGIE BOURGIE
Breaking Point
[MCA, 1984]




Glorificada neste estabelecimento e noutros similares, a pop escocesa ainda esconde muitos e valiosos segredos. Um deles, e dos mais inexplicáveis casos de obscuridade, é Paul Quinn, tanto mais que foi o principal responsável pelo colossal Will I Ever Be Inside Of You (1994, creditado a Quinn e ao colectivo de semi-estrelas The Independent Group), disco de um romantismo dramático fora de uso que cruza genes de Bowie, Scott Walker, e Billy Mackenzie. Isto, para além das colaborações com os amigos e conterrâneos The Nectarine No. 9 ou Edwyn Collins, que não conheceram melhor sorte.
Antes de todas essas experiências, um Paul Quinn ainda jovem já tinha conhecido o sabor amargo do fracasso à frente dos Bourgie Bourgie (o nome é corruptela de um hit menor de Gladys Knight & The Pips), banda que prometia altos vôos, incluindo o lançamento de álbum por uma major. Tal nunca viria a acontecer, e os Bourgie Bourgie ficar-se-iam por um par de rodelas de 7" que ajudaram a criar expectativas elevadas em seu redor. A primeira delas tinha como tema principal "Breaking Point", exemplo acabado da sofistificação e elegância pop de meados de oitentas, com recurso despudorado a cordas exuberantes e teclados ostensivos. Prejudicada pelos defeitos e excessos característicos das produções da época, ainda incapazes de usufruir com alguma contenção dos avanços tecnológicos, a canção deixa, no entanto, fluir a elasticidade da voz de Paul Quinn, já a ensaiar a intensidade expressiva da fase madura. No reverso da medalha, o b-side "Aprés Ski" é expressão de um híbrido "funk branco" que remete para algumas descendências de Bowie em período pós-punk. Embora ambos os temas estejam presos num casulo do tempo, valem sobretudo como documento do primeiro papel principal de uma voz singular, até aí quase exclusivamente remetida aos backing vocals em projectos que gravitavam à volta da histórica Postcard Records.

"Breaking Point"

"Aprés Ski"

Arqueiros à frente de batalha















Nascidos na mesma ebulição de Chapel Hill, Carolina do Norte, que pariu os Superchunk e os Polvo, e praticamente ignorados no Velho Continente, os Archers of Loaf almejaram, durante a década de 1990, o estatuto de banda de referência no cenário indie-rock norte-americano. Afirmaram-se primeiramente com o essencial Icky Mettle (1993), disco de propensões sónicas, abrasivo, dissonante, e anguloso, a navegar em águas limítrofes às dos incontornáveis Pavement. Posterior e progressivamente, rumaram a uma maior acalmia, culminando na introspecção do derradeiro White Trash Heroes (1998). Pior sorte teria o frontman e principal compositor Eric Bachmann na vida pós-Archers, que viu a aventura à frente dos pessoais e mutantes Crooked Fingers ser completamente ofuscada pelo milhão de entusiasmos efémeros da década passada.
Em era de reclamação dos louros de glórias passadas, os Archers of Loaf não fogem à tendência e regressam ao activo. Para já, desconhecem-se pormenores do plano desta reunião, materializada na aparição, no fim-de-semana passado, na primeira parte de uns tais The Love Language, vizinhos estaduais com um ou outro gene dos AoL. Caso tudo se resuma a umas quantas aparições pelos palcos desse mundo, cruzam-se já os dedos para os ver integrados no cartell de um certo festival, aqui bem próximo, à beirinha do Mediterrâneo...

"Web In Front" [Alias, 1993]

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Discos pe(r)didos #48









SNOWPONY
The Slow-Motion World Of Snowpony
[Radioactive, 1998]




Projecto de vida relativamente breve e semi-obscuro, os Snowpony foram uma espécie de super-grupo que integrava alguns dos protagonistas da arquitectura sonora de noventas: a vocalista e manipuladora de samplers Katharine Gifford (ex-Moonshake, ex-Stereolab), a baixista Debbie Googe (a gozar os primeiros anos do já longo hiato dos My Bloody Valentine), e o baterista Max Corradi (dos esquecidos irlandeses Rollerskate Skinny). Ofuscados pela boa produção musical dos anos derradeiros do século passado, o que é certo é que deixaram para a posteridade um par discos merecedores de uma reapreciação. Principalmente o debute The Slow-Motion Of Snowpony, supervisionado pelo produtor John McEntire (Tortoise, The Sea and Cake) e flagrante exemplo de pop aventureira, misto de acessibilidade e vanguardismo.
Fazendo armas da repetição e da arte da samplagem, The Slow-Motion Of... é, simultanemente, disco capaz de satisfazer tanto o ouvinte mais atento ao pormenor como o consumidor de música ocasional. Abre da melhor forma com "Easy Way Down", movido por um loop de guitarra tremendamente groovy e apelativo que casa na perfeição com a cadência ociosa da parte vocal. Neste, como na quase totalidade dos temas, surgem interferências acidentais que se vão descodificando com audições renovadas. "Love Letters" é reminiscente do quase-standard com o mesmo título e revela a voz de Gifford, indecisa entre o sensual e o distanciado, embalada por um inusitado sample de batida samba e ataques contudentes de guitarra tratada. Igualmente eficaz, o brilhantemente intitulado "3 Can Keep A Secret (If 2 Are Dead)" recupera excertos da parte cacofónica de "100%" dos Sonic Youth integrados num tema alinhado com algumas tendências do indie-rock norte-americano da década de 1990. "Bad Sister" e "John Brown (Triumphant March)" são ricos em amostragens de sopros. O primeiro é assinalado por uma bateria em cadência kraut, algo que por várias vezes é aflorado ao longo do disco, enquanto o último, fazendo jus ao título, liberta uma aura de exultação. A já referida queda dos Snowpony para as malhas do kraut-rock ganha maior expressão em "Titanic", aglomerado de golpes de guitarra ruidosa, laivos de órgão e sitar, e bateria em modo rolo compressor. Na maioria dos restantes temas, The Slow-Motion Of... enaltece o elemento atmosférico, acentuado frieza na instrumentação e contrastante envolvência na voz.


"Easy Way Down"


"3 Can Keep A Secret (If 2 Are Dead)"


"Love Letters"

domingo, 16 de janeiro de 2011

Que sera, sera














Foto: Marya Zoya

Na qualidade de baixista e uma das vocalistas das Vivian Girls, é conhecida por Kickball Katy. Em solitário, Katy Goodman revela igualmente gosto pelos pseudónimos e assume-se como La Sera. É sob este nome que, dentro de sensivelmente um mês, lança álbum homónimo através de uma pequena subsidiária da gigantesca Sub Pop Records. Fiel às suas origens, Katy promete-nos um disco recheado de inspirações spectorianas e evocações dos girl-groups pioneiros em rebuçados pop de curta duração. Contudo, neste caso, o período revisitado parece recuar até às primeiras manifestações pop-rock no feminino. Outras diferenças substanciais registam-se no maior apelo pelas melodias celestiais e pelas harmonias vocais, em detrimento da sujidade e da ruideira que, normalmente, contaminam as canções  das Vivian Girls. A título de exemplo, oiçam-se os dois 7" já editados (ambos os a-sides ao vosso dispor aqui). O primeiro deles, foi merecedor de vídeo revivalista das antigas produções gore, curiosamente, um imaginário já homenageado pela antiga camarada Frankie Rose.

"Never Come Around" [Hardly Art, 2010]

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

R.I.P.


TRISH KEENAN
[1968-2011]

Ainda ontem a Pitchfork noticiava o grave estado de saúde dela...

Ela, Trish Keenan, a voz envolvente e misteriosa dos Broadcast, aquela banda que, quando apareceu, foi por equívoco vista como mero derivado de Stereolab ou, bem pior do que isso, um sucedâneo da praga trip-hop de finais de noventas. A mesma banda que, com recato e discrição, soube criar uma linguagem própria, com um pé no passado, outro no futuro, ao ponto de conquistar um estatuto de referência no universo da pop electrónica. Pelo menos, cá por casa, nesse campeonato, não tinham rival à altura.

... e hoje, logo pela manhã, o sítio da Warp Records, faz-nos saber isto:

"It is with great sadness we announce that Trish Keenan from Broadcast passed away at 9am this morning in hospital. She died from complications with pneumonia after battling the illness for two weeks in intensive care.
Our thoughts go out to James, Martin, her friends and her family and we request that the public respect their wishes for privacy at this time.
This is an untimely tragic loss and we will miss Trish dearly - a unique voice, an extraordinary talent and a beautiful human being. Rest in Peace."

Saem frustrados, pelo pior dos motivos, alguns planos já traçados no cartaz do Primavera Sound de Maio próximo. Em memória de Trish, hoje por cá a estereofonia só aceita Broadcast.

Broadcast _ "Papercuts" [Warp, 2000]

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

A vida no arame














É assim de alguns anos a esta parte. Anda meio mundo ocupado na procura da oitava maravilha do mundo, do Santo Graal salvador da música popular. Perante este estado de coisas, são cada vez menos aqueles que se dão conta das actividades das bandas com carreira feita, mesmo quando estas se chamam Wire e são responsáveis por uma das marcas mais indeléveis, embora dissimulada, na pop dos últimos trinta anos. Isto a propósito da chegada ao mercado - no início desta semana - do formato físico de Red Barked Tree, o 12.º álbum de estúdio da banda londrina. Sem qualquer espécie de exagero, arrisco apontar o novo disco como a sequência lógica do tríptico que, em finais da década de 1970, assinalou um dos capítulos mais entusiasmantes do período pós-punk. Era algo que o anterior e apenas interessante Object 47 (2008) ensaiava timidamente e este vem consumar. Diria até que Red Barked Tree é bem capaz de ombrear com aqueles três em termos de arrojo. 
Longe vão os tempos dos abstraccionismos noisy da reunião (uma de muitas) de começos do novo século. Desta feita, e segundo o estratega Colin Newman, houve uma intenção deliberada de fazer as coisas de forma simples. Contudo, tratando-se dos Wire, a "simplicidade" não nos priva de alguns números de um rock visceral e contundente, outros de uma pop sofisticada que rejeita rótulos, ou ainda estilhaços punk, facção arty-distanciada-mas-nada-pedante. E, claro está, a habitual ambiguidade das letras, que libertam uma estranha aura sinistra de mistério e obrigam a atenção redobrada. Exemplos? Oiçam, no mesmo tema, e sobre uma malha descaradamente groovy, Graham Lewis entoar um enigmático "Please take your knife out of my back, and when you do, please don't twist it", para logo a seguir atirar com um semi-conclusivo e vitriólico "Fuck off out of my face, you take up too much space". Fica o aviso de que isto é apenas o começo:


"Please Take" [Pinkflag, 2011]

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Mil imagens #13


Liars - Berlim, 2007
[Foto: Joe Dilworth]

Voltamos hoje a Joe Dilworth, baterista dos regressados Th' Faith Healers e fotógrafo com créditos firmados no espectro indie britânico. Porém, uma das bandas com a qual tem uma maior proximidade é norte-americana: os Liars. Com os nova-iorquinos mantém uma relação profissional que remonta aos primórdios, na eclosão do neo-post-punk de inícios do século. Tem-nos seguido ao longo do percurso cheio de viragens bruscas e documentou-lhes boa parte do exílio berlinense. Foi na capital alemã, aquando das sessões de gravação do álbum homónimo da banda, que captou a imagem supra, um quadro perfeitamente representativo da energia ensandecida que transpira dos discos e concertos dos Liars.

A criação de todas as coisas
















Tem apenas uma página, mas é motivo suficiente para a aquisição do mais recente número da revista Mojo. Isto se a reinterpretação por uma série de devotos do clássico Harvest de Neil Young não bastar para vos fazer abrir cordões à bolsa. Falava-vos da entrevista com Alan McGee, na qual o desalinhado escocês discorre sobre Upside Down, o documentário de Danny O'Connor dedicado à "sua" Creation Records prestes a estrear. Do dito, esperam-se muitos relatos de excessos, mas também os testemunhos daqueles que estiveram no epicentro de algumas das mais felizes aventuras da pop britânica das décadas de 1980 e 1990: primeiro o jangle-pop revivalista de sessentas, depois o shoegazing, e por fim a consagração em pleno frenesim brit-pop.  Ao realizador, McGee expressa toda a sua gratidão. O mesmo sucede para com Bobby Gillespie, sem o qual, diz, o filme não teria sido possível. Outros encómios para com este último incluem a eleição dos Primal Scream a banda n.º 1 da Creation e a responsabilização de mister Bobby G por lhe ter dado a conhecer os Jesus and Mary Chain e os Teenage Fanclub. Já a ele próprio, atribui o mérito pelas "descobertas" de My Bloody Valentine, Ride e Oasis. Confessa ainda um grande arrependimento: ter deixado "escapar" os Stone Roses. Ficamos ainda a saber que adora a vida pacata de reformado (é oficial, esclarece) retirado no País de Gales.
Enquanto uma alma caridosa não faz chegar Upside Down a esta praia à beira do Atlântico, vamos salivando com o trailer:



segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Singles Bar #57








THE WILD SWANS
The Revolutionary Spirit
[Zoo, 1982]




Ao contrário dos vizinhos de Manchester, condicionados pelo ambiente industrial que se reflectia na austeridade da música produzida, os post-punkers de Liverpool eram, por norma, mais apegados a um certo classicismo pop. Echo & The Bunnymen, The Teardrop Explodes, e Wah! Heat, compõem o trio que mais se destacou em tal período na cidade junto ao estuário do Mersey. Porém, em era de fervilhar de actividade musical, é natural que a terra que pariu os Beatles tenha gerado muitos outros projectos dignos de menção, alguns deles engolidos pela voragem do tempo. Entre estes, os fugazes The Wild Swans, que deixaram como único registo oficial na primeira existência o single The Revolutionary Spirit. Embora os membros das várias encarnações se tenham envolvido em bandas de projecção variável, tais como Care, The Lotus Eaters, The Lightning Seeds, ou The Icicle Works, é este magro legado que lhes garante um pequeno capítulo na história musical da cidade. Isto porque "The Revolutionary Spirit" tem sido constantemente referido como tema de referência tanto na produção post-punk, como no lançamento das bases de uma genealogia indie-pop britânica, ao ponto de ser amiúde incluído em compilações que abordam tais "temáticas". Embora menos contemplativos que os Bunnymen, os Wild Swans evidenciam pontos de contacto com a banda de Ian McCulloch, evidentes no lirismo que denuncia a leitura dos clássicos românticos. Contudo, enveredam por um imediatismo pop mais flagrante, com melodias imaculadas e guitarras cristalinas, que contrasta com a grandiloquência daqueles.
Presentemente no activo pela terceira vez, os Wild Swans têm na calha um novo álbum. Quem sabe - e deixem-me ser optimista -, se não será este o veículo para o reconhecimento tardio de uma banda que, numa primeira aparição, delineou alguns traços muita da expressão pop britânica subsequente. 

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Bicicletas & Drogas duras
















Stephen Pastel pode até ser o arauto divulgador, Eugene Kelly o rebelde sabotador do próprio sucesso, Norman Blake o rosto mais mediático, mas não haverá figura tão carismática e que melhor personifique o espírito da pop escocesa das últimas três décadas que Duglas T. Stewart, fundador e único membro permanente dos BMX Bandits. Desta verdadeira instituição indie-pop, Kurt Cobain disse um dia serem a única banda a que poderia pertencer que não os Nirvana. E talvez pudesse se mesmo se o quisesse, pois os 25 anos que leva a aventura BMX Bandits confundem-se com o mesmo período da vida do próprio Stewart, coadjuvado a cada novo disco por muitos amigos do imenso rol de que dispõe.  A musicar a sua devoção obsessiva pela pop de sessentas, coroada com letras que seriam o cúmulo da auto-comiseração se não viessem impregnadas de um humor astuto, tem contado com gente ligada a bandas como Teenage Fanclub, The Soup Dragons, The Vaselines, ou Telstar Ponies. Idade tão redonda de tão sui generis projecto musical merecia uma comemoração especial, algo que a produtora Brilliant Future tratou de providenciar por via de um filme a estrear em breve. Desconhece-se o formato, mas presume-se que seja lançado directamente para os mercado dos produtos de "consumo caseiro". O que se sabe é que leva o título de Serious Drugs, o mesmo da canção auto-biográfica de 1993 que o acaso quis que se tornasse no único aparentado de hit de toda a carreira dos BMX Bandits. Let's look at the trailer!


quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

First Exposure #25
















MINKS

Formação: Shaun Kilfoyle (voz, gtr); Amalie Bruun (voz)
Origem: Nova Iorque [US]
Género(s): Indie-Pop, Twee-Pop, Jangle-Pop, Dream-Pop
Influências / Referências: The Field Mice, The Wake, The Cure, The Go-Betweens, The Pains of Being Pure at Heart, Real Estate, Deerhunter

http://www.myspace.com/iamwitchcraft

"Funeral Song" [Captured Tracks, 2010]

R.I.P.


MICK KARN
[1958-2011]

Nasceu em Chipre e recebeu o nome de baptismo Andonis Michaelides, mas foi como Mick Karn que deixou o seu nome impresso na história da pop. Multi-instrumentista, destacou-se como baixista e membro fundador dos Japan, principal banda responsável pela precipitação do movimento neo-romântico que varreu o Reino Unido de inícios da década de 1980. Quando os seguidores se perfilavam aos magotes, dentro e fora de portas, já os Japan partiam para novas aventuras musicais, deixando desvelar a veia experimentalista e o ambientalismo de contaminação étnica que haveriam de caracterizar a carreira a solo do vocalista David Sylvian. Posteriormente ao fim dos Japan, fugazmente reencarnados em Rain Tree Crow em inícios da década de 1990, e para além de uma discreta mas recheada carreira, com inúmeros discos em nome próprio e colaborações avulsas, Karn envolveu-se ainda no projecto one-off, e ultra-datado, Dali's Car, parcialmente ofuscado pelo protagonismo do ex-Bauhaus Peter Murphy
Em meados do ano passado, Karn anunciou publicamente que lhe havia sido diagnosticado um cancro em avançado estágio de desenvolvimento, o mesmo que o vitimou na tarde de ontem.

Japan _ "Ghosts" 
[live @ London Hammersmith Odeon, Nov. 1982]
- original no álbum Tin Drum [Virgin, 1981] -

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Good cover versions #47











BLACK TAMBOURINE _ "Dream Baby Dream" [Slumberland, 2010]
[Original: Suicide (1981)]

Duo sobremaneira influente em todos os sub-géneros da música electrónica que lhe sucedeu, os Suicide foram também os provocadores aos quais nem a ebulição punk da Nova Iorque de finais de 1970 soube adequar-se. Convenhamos que não seria difícil reagir com alguma estranheza à fórmula inaudita da banda, caracterizada por uma frieza maquinal e por um distanciamento sinistro. Os sintetizadores de Martin Rev eram minimalistas e atonais. Igualmente económico nas palavras, Alan Vega debitava as letras em formato lenga-lenga de um modo muito peculiar, mais declamado que cantado. "Dream Baby Dream" não foi sequer um assomo de sucesso, porque os Suicide nunca chegaram lá perto, mas é um dos temas mais reconhecíveis da intermitente carreira do duo e que resume na perfeição o seu modus operandi.
Certamente ainda menos aceites junto do grande público, os Black Tambourine desempenharam, igualmente e à sua maneira, papel determinante nos desenvolvimentos da pop nos últimos vinte anos. No curto período de actividades, tiveram o mérito de inaugurar uma linguagem puramente indie-pop, tal como entendida pelos britânicos, no cenário musical norte-americano. Se atentarmos nas hordas de jovens munidos de guitarras distorcidas que os Estados Unidos têm parido nos últimos 3/4 anos, há que reconhecer aos BT influência de grau equiparado à dos escoceses (e esquecidos) Shop Assistants. Talvez com o intuito de reclamar os louros, tiveram uma reunião fugaz no ano passado, a fim de registar alguns extras para a reedição da compilação que reúne toda a sua (escassa) obra. Um dos temas captados foi precisamente esta transfiguração de "Dream Baby Dream" que, longe do ambiente opressivo dos Suicide, recupera, passadas quase duas décadas, o espírito BT primordial: guitarras entre o adocicado e o ruidoso, texturas spectorianas, pureza idílica, e voz incrivelmente imaculada de menina de Pam Berry. Neste registo, o título até soa mais adequado...

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Discos pe(r)didos #47







LOOP
A Gilded Eternity
[Situation Two, 1990]





Certo dia, Sonic Boom, uma das duas mentes conspiradoras dos Spacemen 3, apontou os Loop como meros copistas das ideias seminais da sua banda. Efectivamente, há na obra de ambas as bandas uma atracção pelo lado mais transgressor do rock como matéria-prima predilecta. Mas também há diferenças, e notórias: se os S3 disparavam em vários sentidos, alternando espasmos sónicos e paisagens contemplativas, os Loop eram mais unidimensionais, fazendo da repetição (o nome da banda tinha toda a razão de ser) tal com professada pelos Suicide, ferramenta de uso e abuso. A esta matriz, o colectivo londrino adicionava ainda elementos de kraut, psicadelismo, noise, ou space-rock, para a confecção de uma sonoridade suja e de forte cunho hipnótico. Destacar qualquer um dos três álbuns que deixaram gravados, ou ainda a compilação The World In Your Eyes (1987), é irrelevante, tal a coesão e a aversão a concessões na sua obra. Meio ao acaso, optamos por realçar A Gilded Eternity por ser aquele em que a fórmula nos parece mais refinada, talvez até por ser o registo derradeiro, antes do quarteto seguir o seu rumo agrupado aos pares: os guitarristas Robert Hampson e Scott Dawson nos tendencialmente ambientais Main; o baixista Neil Mackay e o baterista John Wills nos quase incatalogáveis The Hair & Skin Trading Company (eu sei que há uma promessa antiga e ainda não cumprida de falar neles um dia...).
Mergulhar em A Gilded Eternity significa deixar-se envolver, em estado de transe, num mundo de brumas, opressivo e sinistro. As guitarras são austeras, carregadas de distorção, as vocalizações, nem sempre ténues, surgem afogadas pelo ruideira trepidante. Do inaugural "Vapour" ao encerramento com "Be Here Now", é-nos sugerida a imagem de um grupo de guedelhudos em pose estática, com a cabeça baixa balançando ao ritmo dos riffs incisivos, e os olhos fixos nos pedais de efeitos. Esta visão de uns Stooges sob o efeito de sedativos é aqui e ali intercalada por concessões a algum ritmo, embora arrastado e maquinal. É o caso de "Blood", versão irreconhecível de um original dos "metaleiros" Anthrax que redunda em clímax narcótico movido por uma propulsão kraut sobre a qual pairam vozes de um tribalismo quase fantasmagórico. 


"Vapour"


"Blood"


"The Nail Will Burn"

domingo, 2 de janeiro de 2011

Mixtape #7 - In The Space Of A Few Minutes


A 2 de Janeiro de 2007 tinha começo a aventura April Skies. Quer isto dizer que hoje mesmo se cumprem quatro anos de "postagens" regulares neste blogue. Como já vem hábito em ocasiões do género, a prenda, sob a forma de música, fica a expensas da gerência. Desta feita, a compilação ao vosso alcance logo a seguir ao alinhamento tem a particularidade de ser preenchida por bandas que poderão muito bem vir a protagonizar alguns dos próximos capítulos desta saga. No essencial, são bandas neófitas das quais se espera um primeiro longa-duração nos próximos meses. Outras há já com álbuns no currículo, mas às quais se prevê um crescendo de visibilidade ao longo de 2011. 
A todos os habituais frequentadores do estabelecimento deixo um sentido agradecimento por todo o apoio e os votos de um feliz Ano Novo, recheado de boa música.

01. SPECTRALS _ "7th Date"
02. GIRLS NAMES _ "Oh Girl!"
03. TWO WOUNDED BIRDS _ "My Lonesome"
04. TWIN SISTER _ "All Around And Away We Go"
05. SUNBIRDS _ "River Run"
06. BEACHES _ "Halve"
07. SUPERHUMANOIDS _ "Simple Severin"
08. FOREST SWORDS _ "Visits"
09. YOUNG PRISMS _ "Sugar"
10. MINKS _ "Funeral Song"
11. THE SOFT MOON _ "Breathe The Fire"
12. THE SLEEPING BAGS _ "Canataloupe"
13. THE BEETS _ "The Loco-Motion"
14. BROWN RECLUSE _ "Rotten Tangerines"
15. VERONICA FALLS _ "Staying Here"
16. THE PROCEDURE CLUB _ "Rather"
17. YUCK _ "Rubber"
18. NO JOY _ "Hawaii"