"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Discos pe(r)didos #47







LOOP
A Gilded Eternity
[Situation Two, 1990]





Certo dia, Sonic Boom, uma das duas mentes conspiradoras dos Spacemen 3, apontou os Loop como meros copistas das ideias seminais da sua banda. Efectivamente, há na obra de ambas as bandas uma atracção pelo lado mais transgressor do rock como matéria-prima predilecta. Mas também há diferenças, e notórias: se os S3 disparavam em vários sentidos, alternando espasmos sónicos e paisagens contemplativas, os Loop eram mais unidimensionais, fazendo da repetição (o nome da banda tinha toda a razão de ser) tal com professada pelos Suicide, ferramenta de uso e abuso. A esta matriz, o colectivo londrino adicionava ainda elementos de kraut, psicadelismo, noise, ou space-rock, para a confecção de uma sonoridade suja e de forte cunho hipnótico. Destacar qualquer um dos três álbuns que deixaram gravados, ou ainda a compilação The World In Your Eyes (1987), é irrelevante, tal a coesão e a aversão a concessões na sua obra. Meio ao acaso, optamos por realçar A Gilded Eternity por ser aquele em que a fórmula nos parece mais refinada, talvez até por ser o registo derradeiro, antes do quarteto seguir o seu rumo agrupado aos pares: os guitarristas Robert Hampson e Scott Dawson nos tendencialmente ambientais Main; o baixista Neil Mackay e o baterista John Wills nos quase incatalogáveis The Hair & Skin Trading Company (eu sei que há uma promessa antiga e ainda não cumprida de falar neles um dia...).
Mergulhar em A Gilded Eternity significa deixar-se envolver, em estado de transe, num mundo de brumas, opressivo e sinistro. As guitarras são austeras, carregadas de distorção, as vocalizações, nem sempre ténues, surgem afogadas pelo ruideira trepidante. Do inaugural "Vapour" ao encerramento com "Be Here Now", é-nos sugerida a imagem de um grupo de guedelhudos em pose estática, com a cabeça baixa balançando ao ritmo dos riffs incisivos, e os olhos fixos nos pedais de efeitos. Esta visão de uns Stooges sob o efeito de sedativos é aqui e ali intercalada por concessões a algum ritmo, embora arrastado e maquinal. É o caso de "Blood", versão irreconhecível de um original dos "metaleiros" Anthrax que redunda em clímax narcótico movido por uma propulsão kraut sobre a qual pairam vozes de um tribalismo quase fantasmagórico. 


"Vapour"


"Blood"


"The Nail Will Burn"

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