"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

terça-feira, 29 de abril de 2008

Gatas à solta

Free Kitten é uma espécie de super-grupo indie rock nascido em inícios da década passada por iniciativa de Kim Gordon (Sonic Youth) e Julia Cafritz (ex-Pussy Galore). A estas duas juntar-se-iam Mark Ibold (então nos Pavement) e Yoshimi P-We (Boredoms, OOIOO, e alvo de dedicatória sob a forma de disco por parte dos Flaming Lips).
Com uma formação que integra apenas as três meninas, as Free Kitten regressam em breve aos discos, pondo fim a um longo silêncio de onze anos. A coisa dá pelo nome de Inherit e chega dia 20 de Maio (pelo menos nos states) com selo da Ecstatic Peace, a editora de Thurston Moore, como toda a gente sabe, marido da primeira.
Para aperitivo, uma miadela:

10 anos é muito tempo #5
















BOARDS OF CANADA
Music As Right To Children
(Warp, 1998)

Já com mais de uma década de intensa actividade, esta dupla escocesa fez-se notada apenas ao quarto álbum, lançado quando o último século se aproximava já do fim.
Citando a música decorativa de Brian Eno, o ambientalismo de um Aphex Twin ainda jovem, ou até o poder psicadélico de uns The Orb, não se pode dizer que Music Has The Right To Children seja um disco particularmente original, muito menos de ruptura. No entanto, os irmãos Michael Sandinson e Marcus Eoin criam uma linguagem muito própria, onde o futurista se confunde com o bucólico. Como matéria prima, recorrem em abundância a sons gravados que, em estúdio, são devidamente manipulados e misturados com melodias e beats, tanto de origem electrónica como de instrumentos reais, em densas camadas sobrepostas.
As faixas, em grande número e na sua maioria curtas, obedecem a uma criteriosa sequência para que melhor se obtenha o efeito de viagem mental. A atmosfera dominante remete claramente para um imaginário infantil (refira-se que a designação Boards of Canada provém de uma produtora de filmes para crianças), mas onde não falta um lado negro e até surreal.
Arriscarei dizer que, até à data, este é o último disco de música electrónica realmente obrigatório. Nota dez!
A amostra que se segue não dispensa a consulta da obra na íntegra:

"Roygbiv"

segunda-feira, 28 de abril de 2008

Arte Pop #5

















THE SOUND
From The Lion's Mouth
(Korova, 1981)

Por motivos de ordem vária, no último fim-de-semana recordei um disco que outrora me marcou profundamente. Hoje, considero-o um produto do seu tempo - algo datado - e que fica claramente a perder na comparação com os seus pares (Joy Division, Echo & The Bunnymen). Mas aquela capa continua a ser um assombro!

Alinhamento:

1. "Winning"
2. "Sense Of Purpose"
3. "Contact The Fact"
4. "Skeletons"
5. "Judgement"
6. "Fatal Flaw"
7. "Possession"
8. "The Fire"
9. "Silent Air"
10. New Dark Age"

domingo, 27 de abril de 2008

We don't need this fascist groove thang

Impulsionado por um excelente tema ouvido neste respeitável estaminé, qual seguidor da velha máxima de "não negar à partida uma ciência que não se conhece", decidi aprofundar os meus conhecimentos sobre os australianos Cut Copy, banda da qual as poucas referências que tinha não eram nada abonatórias. Para tal, dediquei algum tempo à audição de In Ghost Colours, o novíssimo álbum do trio.
Para que conste, o referido tema chama-se "Unforgettable Season", faz-me lembrar os melhores momentos dos The Aloof e é de facto muito bom. Mas, para minha desilusão, não passa de fogo-de-vista num disco onde impera, pela enésima vez, o pastiche da legião de carreiristas que, há coisa de um quarto de século, tentavam mimetizar os tiques pioneiros de uns Human League. Para que a coisa soe mais "realista", não falta sequer uma voz masculina pouco dotada (do tipo Sétima Legião, se é que me entendem). Fogem à norma, para além do citado, apenas mais duas faixas: o planante "Midnight Runner" e o eléctrico "So Haunted", sendo este último igualmente muito recomendável.
Com a incessante recuperação de algumas sonoridades que apagaria de bom grado do livro da pop, e que parece ter epicentro na terra dos cangurus, já não me admirava nada se um dia destes começassem a surgir bandos de seguidores de Nik Kershaw, de Howard Jones, ou até... dos Da Vinci!
Fuck Copy!

sexta-feira, 25 de abril de 2008

Under the April blue skies

Abril será sempre Abril!
A todos, votos de um feriado bem passado. Pelo menos o tempo ajuda...

The Jesus and Mary Chain "April Skies" (Blanco y Negro, 1987)

quinta-feira, 24 de abril de 2008

AO VIVO #15














Maldoror por Mão Morta @ Culturgest, 23/04/2008

Estou sujo;
Roído dos piolhos.
Os porcos, quando olham para mim, vomitam.

Não provoca o vómito esta adaptação da obra de Isidore Ducasse pela Mão Morta (MM). Tão-pouco causa repulsa. Quando muito, nos momentos mais cómicos, de patéticos que são, aqueles textos de uma vulgaridade alarmante, saídos da boca de Adolfo Luxúria Canibal (ALC), provocam um sorriso escarninho. Estranho, quando atentamos que, na sua primeira incursão pelo teatro musicado - a partir da adaptação mais ou menos livre de textos de Heiner Müller - a banda bracarense teve um dos pontos altos de uma carreira que leva já mais de uma vintena de anos. Em Maldoror agudizam-se alguns dos sintomas da vida mais recente da MM, i. e., o extremar, quase até à caricatura, dos estereótipos que compõem a persona ALC.
Em termos estritamente musicais, a coisa até nem é mal conseguida. Se bem que o registo a puxar ao industrial, devedor de uns Swans dos primórdios, seja um aglomerado de estilhaços do passado da banda. Os apontamentos electrónicos, que pouco ou nada evoluíram desde Müller..., deixam a nu as limitações da banda neste domínio. O não ser uma banda a tempo inteiro tem os seus contras...
Em matéria de cenografia e projecções vídeo, nada a apontar.
Resumindo a coisa, sem recorrer a nenhum dos adjectivos rebuscados que ALC gosta de empregar, definiria Maldoror numa curta palavra: mau... muito mesmo! No melhor, poderá agradar à turba que circula diariamente pelo Chiado, normalmente com uma indumentária bem mais elaborada que os figurinos criados por Cláudia Ribeiro.
Se este é o caminho a seguir, agora que parece de abalada do formato rock, faria bem à MM reconsiderar essa decisão.

GOING BLANK AGAIN #14

SKYWAVE*

Origem: Fredericksburg, Virginia (US)
Período de actividade: 1997-2002
Influências: The Jesus and Mary Chain, Spacemen 3, Ride, My Bloody Valentine, Slowdive
A ouvir: Synthstatic (Alison, 2003)

My Space

* Das cinzas desta banda nasceram os Ceremony e os A Place To Bury Strangers

terça-feira, 22 de abril de 2008

A URGÊNCIA DO MAL

Com três discos de um southern rock sumptuoso e de olhar fixo no céu estrelado, os fabulosos My Morning Jacket arrebanharam uma extensa legião de adeptos. No superlativo Z, de 2005, alargaram a paleta sonora e demarcaram-se em definitivo da horda de seguidores entretanto gerada (olá Band of Horses!).
O novo Evil Urges, com saída marcada para inícios de Junho, promete seguir as pistas já lançadas pelo seu antecessor, i. e., um alastrar das influências de música de tez escura (leia-se soul), bem patente no falsetto de Jim James.
Pelo menos é essa a conclusão a que se chega depois de ouvir o tema-título, disponibilizado pela banda como aperitivo. Certo de que irá dividir opiniões, eis o dito:

Maldito sejas, Jools Holland, tu mais o teu programazeco burguês!

"Os Gutter Twins adiaram a sua passagem por Portugal, agendada para o dia 30 de Abril.
Na origem da decisão de Mark Lanegan e Greg Dulli está um convite «de última hora» para actuar no programa da televisão britânica, Later With Jools Holland, ao lado de bandas como James e Operator Please.
Além do concerto no Santiago Alquimista, em Lisboa, os Gutter Twins adiaram um espectáculo em Bilbao, Espanha.
A nova data dos Gutter Twins em Portugal não foi ainda revelada. Os bilhetes já adquiridos são válidos para a data definitiva, mas quem quiser pedir o reembolso pode fazê-lo nos locais de compra, entre 23 de Abril e 30 de Maio."- Notícia publicada hoje, no sítio da Blitz

E eu que estava em pulgas para este concerto... Só espero que não caia no esquecimento, como este...

Ah, e já agora, senhores da Blitz (e não só), quando será que aprendem a escrever o nome dos senhores pela ordem correcta?

segunda-feira, 21 de abril de 2008

O HORA DOS VIKINGS

Há já algum tempo que vos queria falar destes Times New Viking (TNV), um trio proveniente do estado norte-americano do Ohio, terra de muitas e boas bandas.
O motivo do entusiasmo por estas bandas é Rip It Off, o terceiro álbum lançado em Janeiro que assinalou a estreia pela respeitável Matador Records.
Possíveis comparações aos Guided by Voices, aos Pavement dos primórdios, ou aos Pixies, não sendo de todo despropositadas, serão sempre redutoras, pois os TNV são donos de uma sonoridade muito própria: canções curtas construídas à base de órgão saturado e guitarras distorcidas que não escondem uma certa sensibilidade pop.
Desaconselhável aos ouvidos mais sensíveis, mas recomendado a quem aceita desafios. A este segundo grupo, uma sugestão: play it loud!

Times New Viking no MySpace

AO VIVO #14

Magik Markers + Pumice @ Museu Nacional de Arte Contemporânea, 19/04/2008

Quando os vi pela primeira vez, num concerto memorável há coisa de três anos na ZdB, os Magik Markers (MM) eram um trio praticante de um certo noise rock da velha guarda em que a experimentação tinha rédea larga.
Neste regresso, surgem reduzidos a um duo, depois da saída da baixista Leah Quimby em 2003 , e trazem na bagagem Boss, o elogiado registo do ano passado que marca o encontro dos MM com o formato canção, muito na linha dos gurus Sonic Youth da "fase pop" (Goo, Dirty). Imutável permanece uma certa propensão para o improviso.
Talvez por força das limitações impostas pelo formato duo, nesta espécie de matinée para trintões patrocinada pela Filho Único, as canções surgem nitidamente transfiguradas, como que tentando contornar o vácuo criado pela ausência de um baixo. Assim, os temas mais arrastados, como "Circle" a abrir a sessão, surgem com as partes instrumentais esticadas até ao infinito em exercícios de pura abstracção. Nestes segmentos, o protagonismo da performance bizarra da frontwoman Elisa Ambrogio prende a atenção do público. Por contraponto, os temas mais enérgicos ("Body Rot", por exemplo) são servidos a uma velocidade vertiginosa, com a voz quase imperceptível. No arrepiante "Bad Dream/Hartford's Beat Suite" (com o baterista Pete Nolan na guitarra e um elemento da assistência nos sininhos), os MM optam - e bem - por ser fiéis ao original para criarem o melhor momento de toda a actuação. Para encerrar com chave de ouro, nada melhor do que esse docinho chamado "Taste".
Uma prestação competente e informal, quase em família, em que senti apenas a falta do assombroso "Last Of The Lemach Line", e que fica ainda marcada por um pequeno insólito da enorme placa que constitui a "parede falsa" atrás do palco a ameaçar abater-se sobre banda depois de ter sido usada como meio de percussão pela vocalista/guitarrista. O amplificador junto à mesma acabou por evitar a queda mas não evitou a estupefacção no público.

Antes dos MM, passou pelo "palco" Pumice, uma espécie de "mini-one man band" (com bombo, tarola, guitarra electro-acústica, fitas gravadas de distorção, e uma excelente voz) que é o alter ego do neo-zelandês Stefan Neville. Música fracturada, submersa no caldeirão do americana, mas com curiosos desvios que vão desde o pioneirismo DIY dos Swell Maps até à pop sonhadora do contingente da conterrânea Flying Nun. Uma bela descoberta que irá merecer aprofundamento.

sexta-feira, 18 de abril de 2008

THE REVOLUTION WILL NOT BE TELEVISED


















PUBLIC ENEMY
It Takes A Nation Of Millions To Hold Us Back

(Def Jam, 1988)

Pois é, meus caros... como podem verificar, nem só de indie pop/rock vive o Homem. Cá por casa, volta e meia, fazem-se algumas incursões por outras sonoridades. Inclusive géneros ainda vítimas de algum preconceito por parte de muitos consumidores de música.
A minha abertura ao hip hop devo-a sobretudo a este disco, talvez o maior clássico do género, lançado há precisamente 20 anos. Eric B. & Rakim também têm algumas culpas no cartório...
Inovador tanto nas palavras como nos sons, It Takes A Nation... conserva, volvidas duas décadas uma frescura de que apenas um grupo muito restrito de discos se pode orgulhar. Não terá sido à toa que, à data da sua edição, o New Musical Express (então uma "bíblia" insuspeita) atribuía aos Public Enemy o epíteto de greatest rock'n'roll band in the world. Afirmação provocatória, é certo, mas nada descabida.
Para além do estatuto pioneiro em termos estritamente musicais, fruto do magnífico trabalho de samplagem da equipa de produtores designada por The Bomb Squad, as repercussões de It Takes A Nation... fizeram também sentir-se na sociedade americana, "adormecida" pela administração conservadora de Ronald Reagan. Com palavras duras mas certeiras, Chuck D, um cidadão circunspecto e letrado, discorre sobre inúmeros problemas sociais, muitas vezes ignorados pelos media americanos. Chuck gostava mesmo de definir os Public Enemy como "a CNN dos pretos"...
Ao povo frequentador deste blogue, menos dado a estes sons, deixo um pedido: por uma vez que seja, oiçam It Takes A Nation... (ou o sucessor Fear Of A Black Planet, de 1990) sem ideias pré-concebidas. Os ouvidos mais desempoeirados vão agradecer. Don't believe the hype!
Para o ilustrar hesitei entre vários temas. Optei por este, que ainda há poucos dias passou por aqui numa excelente versão:


"Black Steel In The Hour Of Chaos"

quinta-feira, 17 de abril de 2008

GOING BLANK AGAIN #13

AUTOLUX

Origem: Los Angeles, Califórnia (US)
Período de actividade: 2000-
Influências: Smashing Pumpkins, My Bloody Valentine, Sonic Youth, Swervedriver
A ouvir: Future Perfect (Red Ink/Full Time Hobby, 2004)

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quarta-feira, 16 de abril de 2008

DISCOS PE(R)DIDOS #18

















SEBADOH
III

(Homestead, 1991)

Ao terceiro disco, os Sebadoh surgiam como algo mais do que um veículo para as gravações caseiras avulsas de Eric Gaffney e Lou Barlow, registadas em separado. Com a entrada de Jason Loewenstein não só ganhavam um terceiro compositor e multi-instrumentista, como adquiriam o estatuto de banda, ainda que os seus membros vivessem afastados por centenas de quilómetros.
Marco incontornável do chamado lo-fi, "género" que levou a novos patamares, III é a súmula das mais variadas estéticas do underground norte-americano da década que o precedeu. Tal compêndio resulta das diferentes sensibilidades de cada um dos compositores: Barlow contribui com cativantes melodias, essencialmente acústicas, para construir os temas mais emocionais; Gaffney adiciona o rock ruidoso, a facção pós-hardcore de III; por seu turno, as canções de Loewenstein, menor número, situam-se algures entre os dois extremos, funcionando como elemento de coesão.
É nesta "coerência incoerente" que reside o poder de sedução de III, um autêntico carrossel de sensações para o ouvinte - cada faixa é sempre diferente da anterior, evitando a previsibilidade e o aborrecimento.
Na recente reedição de que foi alvo por parte da Domino (quem mais?), III vem acrescido de um segundo disco de bónus. Para além de diversas versões alternativas para temas da edição original, o disco extra contém, na íntegra, o histórico (e raro) EP Gimme Indie Rock!. Motivo mais que suficiente para a sua aquisição.
Nas muitas vezes que tenho ouvido este disco, descubro sempre novas faixas preferidas, e chego à evidente conclusão: em III, os Sebadoh são um exemplo de coragem em assumir o risco, sem medo de errar. Uma característica de muitas bandas no passado, substituída por doses generosas de calculismo na esmagadora maioria da música actual. Sad but true!
O devaneio que se segue, responsável pelas honras de encerramento, comprova esta afirmação:

terça-feira, 15 de abril de 2008

WHAT WOULD WOLVES DO?

Corria o ano da graça de 2005 e um combo canadiano, que até então desconhecia, dava à estampa Apologies To The Queen Mary, um dos discos predilectos desta tasca em tempos recentes.
De então para cá, os membros dos Wolf Parade (pelo menos os dois cabecilhas) andaram entretidos a gravar/tocar com alguns dos seus projectos paralelos. Houve alguns bons discos, é certo, mas em momento algum fizeram esquecer a banda-mãe.
Para dentro de dois meses, a Sub Pop anunciou já o fim do suplício de todos aqueles que anseiam por música nova da alcateia, com um disco do qual, até à data, não é conhecido o título. Alguns rumores apontam para Kissing The Beehive como o título mais provável. Banda e editora não confirmam.
A fim de diminuir o sofrimento durante a contagem decrescente, sempre temos "Call It A Ritual", o primeiro tema divulgado do disco que aí vem. Um óptimo augúrio à base de um piano gingão. Ouvi, minha gente:

CLÍNICA RENOVADA

Vai para três meses, num post publicado neste mesmo estabelecimento, alguns visitantes apontavam uma certa estagnação à fórmula Clinic após o deslumbramento com o OVNI Internal Wrangler (2000). Devo admitir que tinham a sua quota-parte de razão.
Quase de propósito, os quatro cirurgiões de Liverpool surgem no novo Do It! com ideias frescas como há muito não se via. Este novo disco é uma amálgama de sons onde cabem o psych-garage, o kraut, o rockabilly, o lounge meloso para películas dos sessentas, e até assomos de tango! Tudo, é claro, devidamente servido no tom críptico que é já imagem de marca.
Fica um cheirinho:

"Free Not Free" (Domino, 2008)

segunda-feira, 14 de abril de 2008

MUSAS INDIE #17

Baby's got blue eyes...


KRISTIN HERSH

EM ESCUTA #28


















MGMT
Oracular Spectacular

(Columbia, 2008)

Por esta altura do campeonato, poucos serão os que ainda não se cruzaram com a melodia de sintetizador facilmente trauteável da faixa de abertura do álbum de estreia desta dupla de Brooklyn. Correndo o risco de em breve vir a provocar o enjoo pela repetição massiva, não fosse "Time To Pretend" e Oracular Spectacular poderia ter passado injustamente despercebido a muito boa gente. Logo aí, um ponto a favor.
A seguir a este soberbo retrato irónico do estilo de vida r0ck'n'roll, os MGMT fazem a primeira de várias inflexões, com "Weekend Wars" a piscar o olho ao Bowie psicadélico da era pré-glam. Mais à frente, o "camaleão" cruza-se com os Violent Femmes para o exercício lo-fi de "Pieces Of What", o grande momento deste disco.
A incursão disco de "Electric Feel" e o synth-pop descartável de "Kids" poderão até fazer as delícias dos muitos foliões em noites dedicadas à dança, mas não deixam de ser os pontos de menor interesse de Oracular....
No restante, sobressai uma certa queda para a grandiloquência cósmica à la Flaming Lips, devidamente fundida com referências várias, tanto actuais como do passado.
Disparando nas mais variadas direcções, Oracular... poderá parecer, em teoria, um apanhado tosco de citações avulsas. Mercê da produção glamorosa do midas Dave Fridmann, há uma certa aura de grandiosidade que perpassa o disco e lhe confere unidade.
Não o parecendo, estamos perante uma obra de estreia. E bastante auspiciosa, diga-se.

sexta-feira, 11 de abril de 2008

GOING BLANK AGAIN #12

















A PLACE TO BURY STRANGERS

Origem: Brooklyn, Nova Iorque (US)
Período de actividade: 2003-
Influências: The Jesus and Mary Chain, My Bloody Valentine, Spacemen 3, Loop
A ouvir: A Place To Bury Strangers (Killer Pimp, 2007)

MySpace

quinta-feira, 10 de abril de 2008

O ANTÍDOTO

São jovens de ar afectado, têm penteados da moda, dançam e tocam guitarra de forma desengonçada, são pretensiosos ao ponto de citar Steve Reich como maior influência, e são, em tempos recentes, uma das mais insistentes apostas do semanário NME. Tudo ingredientes que podem levar a juízos precipitados (e injustos) antes de se ouvir, portanto.
Misturando de forma hábil o passado math rock de alguns dos seus membros com as novas linguagens indie, os Foals confirmam agora todas as esperanças lhes foram confiadas. Falo-vos de recém-editado Antidotes, misto de convite à dança com experimentalismo pop. Ou, por outras palavras, um hipotético cruzamento entre os Bloc Party da primeira colheita e os Battles, com o imediatismo dos primeiros e o arrojo dos segundos.
Como nota adicional, refiro ainda que Antidotes foi produzido pela própria banda, descontente com a produção inicial levada a cabo por David Sitek (TV on the Radio) em Nova Iorque. Algo que diz muito do níveis de auto-confiança destes rapazes. Ou será arrogância?
Ah, e os Klaxons não são para aqui chamados...

"Balloons" (Transgressive, 2007)

quarta-feira, 9 de abril de 2008

COISAS QUE FASCINAM


















JESSE SYKES & THE SWEET HEREAFTER
Like, Love, Lust & The Open Halls Of The Soul

[Barsuk, 2007]

O primeiro contacto com esta cantautora de Seattle aconteceu há alguns anos, via Uncut, publicação sempre muito dedicada às movimentações nos meios americana e alt-country. Nada que, à primeira, me despertasse um interesse profundo.
Já mais tarde, reencontraria Jesse Sykes numa inesperada aparição em Altar, disco resultante da colaboração entre os Sunn O))) e os Boris. Fascinado com a beleza de "The Sinking Belle", tema atípico daquele disco, decidi arriscar no aprofundar dos conhecimentos sobre a senhora da voz.
Foi assim que, há alguns meses, descobri este belíssimo disco. Em diferentes momentos, LLL... lembra-nos algumas vozes familiares, como a grande Lucinda Williams, a bela Neko Case, ou a esquecida Syd Straw. Comparações à parte, num tempo de musas ao virar da esquina, esta é uma voz que realmente interessa descobrir. Até (ou sobretudo) por aqueles que não são apreciadores do género...

Jesse Sykes no MySpace

terça-feira, 8 de abril de 2008

GOOD COVER VERSIONS #6

TRICKY
"Black Steel" (Island, 1995)
[Original: Public Enemy (1988)]

Enfant terrible da cena que emergiu da cidade de Bristol em meados da década passada, Adrian Thaws, vulgo Tricky, nunca se encaixou bem no rótulo trip hop a que estavam também associados os Massive Attack e os Portishead.
Enquanto aqueles iam beber a músicas de outras latitudes, como o dub, a fonte de inspiração de Tricky era o hip hop norte-americano, o qual reescrevia devidamente subvertido.
Para que não restassem dúvidas, logo no primeiro disco incluía esta reinterpretação de um clássico do nome maior do movimento. Já no álbum subsequente, recriava "Lyrics Of Fury" dos esquecidos Eric B & Rakim, os quais também samplava no assombroso "Makes Me Wanna Die".

No original um tema em que Chuck D. manifesta, de forma ultra-raivosa, a recusa em servir as tropas de um país que tão mal trata os negros, ao mesmo tempo que incita ao amotinamento nas prisões, "Black Steel" é transposto na perfeição por Tricky para a realidade do Reino Unido. Ainda que, o veículo para o destilar da raiva seja a voz de Martina Topley-Bird, companheira da altura.
Paradoxalmente, é a faixa de cunho mais rockeiro incluída em Maxinquaye.


GENÉTICA POP

Com um pai como Neil Finn (Crowded House) e um tio como Tim Finn (Split Enz), não espantará a entrada precoce do jovem Liam no maravilhoso mundo da pop. Acabado de entrar na adolescência, era já frontman dos mui recomendáveis Betchadupa, banda neo-zelandesa praticante de um indie rock ruidoso descendente da santíssima trindade Sonic Youth - Pixies - Nirvana.
Hoje membro da formação de palco dos regressados Crowded House, Liam tem ainda tempo para gravar álbuns a solo onde toca praticamente todos os instrumentos. I'll Be Lightning, lançado na Austrália e na Nova Zelândia em meados do ano passado, e agora disponível na Europa, é um disco feito de canções pop à procura da perfeição que, não negando um apego à cartilha Beatles/Beach Boys, revelam já um compositor com uma certa maturidade.
Não deixa de ser curioso constatar algumas semelhanças estéticas entre I'll Be Lightning e Friendly Fire, o injustamente ignorado último disco de Sean Lennon, filho de you know who. Coincidências felizes...

Liam Finn no MySpace

sábado, 5 de abril de 2008

BIBA!

Não há memória de um ano como este, pródigo em acontecimentos raros: Páscoa em Março, Corpo de Deus em Maio e Campeões em inícios de Abril! Tenho para mim que tão estranhas ocorrências se ficam a dever aos efeitos do aquecimento global. Se eu fosse o Nobel da Paz ficava atento...
Nesta hora de festa, deixo uma palavra de incentivo aos mais desfavorecidos. Falo daqueles desgraçados a quem só resta a luta por um lugar na Liga dos Vice-Campeões. E isto, se os Vitórias estiverem pelos ajustes...

A pensar neles, esta canção:



sexta-feira, 4 de abril de 2008

GOING BLANK AGAIN #11

JOY ZIPPER

Origem: Nova Iorque (US)
Período de actividade: 1998(?)-
Influências: My Bloody Valentine, The Apples in Stereo, Galaxie 500, The Breeders
A ouvir: American Whip (13 Amp, 2004)

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quinta-feira, 3 de abril de 2008

REPRODUÇÃO ASSISTIDA

Quando se pretende avaliar um novo disco das manas Deal (e não são assim tantos...) há sempre um problema: comparativamente ao colosso Last Splash (1993) qualquer um fica a perder.
Mountain Battles, o quarto álbum das Breeders (sai segunda-feira pela 4AD), não foge à regra. Sendo até à data o mais variado esteticamente, numa primeira audição, deixa até transparecer uma certa sensação de desnorte. Sensação essa que se desvanece com audições repetidas e uma maior atenção aos pormenores. Não é uma obra-prima, mas sempre dá para matar a saudade.
Oiçam-no aqui e tirem as vossas conclusões.

10 ANOS É MUITO TEMPO #4



















PULP
This Is Hardcore (Island, 1998)

Autênticos veteranos que haviam já percorrido na sombra toda a década de 1980, a carreira dos Pulp poderia ter sido um daqueles casos condenados ao fracasso. Mas o sucesso tem destas coisas- chega quando menos se espera- e, em plena era britpop, chegava finalmente a hora de Jarvis Cocker e seus pares. O motivo para o súbito reconhecimento foi uma parelha de álbuns, pejada de singles orelhudos, que retratava com sarcasmo refinado a sociedade britânica: His'n'Hers (1994) Different Class (1995).
Depois da fama vinha a ressaca. Logo em "The Fear", a faixa que abre This Is Hardcore, Jarvis esclarece ao que vem: This is the sound of someone losing the plot/ Making out that they're okay when they're not./ You're gonna like it, but not a lot. E o que se segue é um disco negro, mergulhado em medos e anseios, uma das possíveis bandas sonoras para o fim do milénio.
Não conhecendo sucesso à altura dos seus antecessores, ...Hardcore não deixa de ser o disco mais ambicioso e complexo dos Pulp, e aquele que mais tem ganho com o envelhecimento. Será também a mais séria homenagem a dois notáveis heróis da banda de Sheffield: David Bowie (em "Party Hard") e Scott Walker (em quase tudo o resto).
O tema-título motivaria um dos melhores videoclips da história da pop, bem merecedor de sete minutos do vosso tempo:

"This Is Hardcore"

quarta-feira, 2 de abril de 2008

UMA ALEGRIA!

E se ontem recordava a minha grande aposta para o ano 2007, tenho agora a honra de anunciar aquela que é, até ao momento, a grande esperança para o ano corrente.
Imaginem uma super-banda de Boston encabeçada por Tanya Donelly e que conta com elementos dos Belly, dos Throwing Muses e dos Pixies. Imaginem e terão uma ideia daquilo a que soam estes The Joy Formidable, um trio londrino que, por incrível que pareça não tem ainda qualquer contrato discográfico.
A seguir com atenção por todos os adeptos das bandas citadas. A sério!

The Joy Formidable no MySpace

terça-feira, 1 de abril de 2008

SAPATINHOS VERMELHOS

Não. Embora o título o possa sugerir, este tasco ainda não foi contaminado pela praga que alastra no éter. Felizmente, por cá temos as defesas naturais reforçadas contra esse género de patrioteirismos nefastos.
Serve apenas o presente para lhes dar conta da chegada, dentro de duas semanas, do primeiro longa duração dos Blood Red Shoes (BRS), há mais de doze meses aqui apontados como uma das promessas para o ano transacto.
Este atraso na edição do debute dos BRS poderá explicar-se, em parte, pela venda da editora V2 (de Richard Branson) à Universal. Perante este cenário, e contrariamente ao previsto, Box Of Secrets terá selo da Mercury, uma das etiquetas do gigante americano.
Não sendo uma caixinha de surpresas, até porque contém novas versões de muitos dos temas lançados em single (alguns dos quais em edição de autor e apenas em vinilo de 7"), este disco promete fazer as delícias dos saudosistas do melhor que se fazia em inícios da década passada.
Entre as onze canções brevemente disponíveis, podemos encontrar esta regravação do primeiro tema que lhes conheci:

"You Bring Me Down" (V2, 2008)