"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

domingo, 31 de julho de 2011

Mil imagens #21


Teenage Fanclub, 1997
[Foto: Tom Sheehan]

Run for covers















Cada uma à sua maneira, cada uma no seu tempo, Nirvana e The Strokes foram, porventura, as bandas que mais marcaram o curso da história da música popular na última vintena de anos. Os primeiros com Nevermind (1991), que deu uma até aí impensável visibilidade ao underground norte-americano, pelo menos até que os senhores que decidem na indústria discográfica decidirem subverter a coisa com a aposta em produtos formatados nascidos já com um intenso cheiro a mofo. Os nova-iorquinos com Is This It (2001), que insuflou sangue novo no moribundo rock, renovando o interesse do público no dito ao ponto de, no curto espaço de 2/3 anos, haver um imenso rol de seguidistas cujos horizontes de "arqueologia musical" dificilmente iam além da "moda" do mês anterior.

Separados por dez anos, um e outro disco foram lançados em Setembro, pelo que ambos estão perto de cumprir aniversários redondos. Antecipando as efemérides, começaram já a surgir acções comemorativas. Primeiro foi a revista norte-americana Spin a oferecer gratuitamente Newermind, um conjunto de versões de cada uma das canções do histórico disco dos Nirvana, e mais recentemente a publicação digital Stereogum a patrocinar idêntica oferta com Stroked.

Em ambos os casos, e como e como já vem sendo comum em iniciativas do género, os resultados variam entre o óptimo e o desastroso, passando, obviamente, pelo satisfatório. No tributo aos Nirvana, as maiores desilusões ficam a cargo de Meat Puppets e The Vaselines, curiosamente duas bandas que beneficiaram sobremaneira com a adoração desmedida de Kurt Cobain. No pólo oposto, a merecer nota francamente positiva, estão Telekinesis, que realçam o sentir pop de "On A Plain", Titus Andronicus, personalizados no respeito pelo demolidor "Breed", EMA com uma catártica interpretação de "Endless Nameless", e o fantástico Charles Bradley, que reinventa "Stay Away" em cenário soul profusamente groovy. Mais equilibrada, a homenagem aos The Strokes é feita por alguns dos nomes queridos do buzz blogosférico. Tem, porém, um par de versões para esquecer a cargo de Owen Pallett (nada que me surpreenda, portanto) e de uns tais de Austra, muito próximos de alguns cozinhados recentes na peugada de Kate Bush. Muito acima da média está Frankie Rose, em estado de graça pop na interpretação de "Soma". Nas reinterpretações radicais de Heems (dos Das Racist), e dos Real Estate, Stroked conhece os seus pontos altos. O primeiro ataca "New York City Cops" com um arrojado hip-hop abastardado, enquanto os últimos dão mais um passo rumo à coroação como uma das bandas mais interessantes da actualidade com o assombro de pop estelar de "Barely Legal".


Charles Bradley & The Menham Street Band _ "Stay Away" [Spin, 2011]


Real Estate _ "Barely Legal" [Stereogum, 2011]

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Um míssil apontado ao coração da América















Os The War on Drugs não são daquelas bandas fáceis de colar a um único rótulo. Produto da mente de Adam Granduciel, tanto são capazes de pintar a desolação das paisagens áridas como, logo a seguir, atacar com as imponentes cavalgadas dignas de um Springsteen. Às referências, inevitavelmente presentes na colecção de discos do mentor da banda, podem ainda adicionar-se coisas tão díspares como os Sonic Youth, os Neu!, os My Bloody Valentine, os impulsos eléctricos de Bob Dylan, ou até os Spacemen 3. Chegaram de mansinho há cerca de três anos com Wagonwheel Blues, um disco aqui listado na base da listagem dos melhores do ano mas que, progressivamente, tem subido a olhos vistos na cotação deste escriba.

Na altura desse primeiro álbum, um dos integrantes da banda era Kurt Vile, prodígio da guitarra e da composição a quem se augura igual destino que aos próprios The War on Drugs: a inevitável subida de nível na escala mediática musical a breve trecho. Talvez derivado do abandono deste wonder kid, o EP do ano passado (Future Weather) era mais contido na pirotecnia, apostando antes na elaboração de texturas mais complexas. Terá sido esse o tubo de ensaio Slave Ambient, o segundo álbum que sai em meados do próximo mês e que inclui regravações de duas canções do anterior registo. Para já, é conhecido também um par de temas do alinhamento. Um deles é uma estranha progressão que combina raízes americana com uma pulsão rítmica absolutamente motorik. O outro, que podem escutar (e vejam, sff!) mais abaixo, também não deixa de lado o travo teutónico. Contudo, mais de acordo com aquilo que conhecíamos do primeiro álbum, invoca simultaneamente o Boss e Dylan num daqueles números em que o coração fica muito próximo da garganta. Um dia, quando os Arcade Fire resistiram aos ímpetos de grandiosidade barroca talvez possam soar assim:

"Baby Missiles" [Secretly Canadian, 2011]

terça-feira, 26 de julho de 2011

10 anos é muito tempo #31








SUPER FURRY ANIMALS
Rings Around The World
[Epic, 2001]




Dizem os "analistas" que os Super Furry Animals foram a última grande banda recrutada para o catálogo da Creation Records e eu tendo a concordar. Quando partiram para o quinto álbum (o segundo fora da alçada da editora de Alan McGee) já estes irredutíveis galeses tinham no currículo loucuras como manobras promocionais com verdadeiros tanques de guerra a debitar música techno, hits sob a forma de canções que repetiam a F word um número incontável de vezes, e discos integralmente cantados na impenetrável língua materna. Colectivo de freaks nada tolos, os SFA são profundos conhecedores dos vários espectros da música popular, que combinam de forma engenhosa e sem preconceitos. Tanto recorrem à sunshine pop dos Beach Boys como à sumptuosidade soul instituída de setentas, aos desvarios psicadélicos como ao imediatismo do easy-listening.

Concebido como mais uma amálgama de diferentes linguagens, Rings Around The World é, porventura, o mais convencional dos discos dos SFA. Contudo, os conhecedores sabem que, no léxico da banda, o termo "convencional" tem um significado mais difuso do que para os restantes mortais. A título de exemplo desta invulgar proposta, remeto de imediato para "Receptacle For The Respectable", um tema que começa no mais puro registo ensolarado, com palminhas, pa-pa-pas e harmonias vocais incluídas, e termina num devaneio com vocalizações guturais mais consentâneas com o género death metal. É um dos pontos altos de Rings... - na realidade, não há por aqui pontos baixos -, tal como o é "Run! Christian, Run!", este contaminado por uma preguiça birdsyana que se arrasta por mais de sete minutos. No capítulo das referências óbvias, "(Drawing) Rings Around The World" tem paralelismos com um conhecido tema de uns tais Status Quo que vão muito para além do título. Também "No Sympathy", que ataca com o mais terno "you deserve to die" alguma vez pronunciado, deixa escapar ecos de uma aberração intitulada "Bohemian Rhapsody", felizmente por breves instantes. Num e noutro caso, estamos em querer estas são apenas manifestações do humor inteligente, mas profundamente satírico e retorcido, que caracterizam tanto a abordagem da banda como as letras de Gruff Rhys. Tal como em "Presidential Suite", espécie de balada para grandes salões que menciona os hábitos nada politicamente correctos das vidas pessoais dos líderes das duas grandes super-potências: Bill Clinton e os affairs com secretárias, Boris Yeltsin e os problemas com a bebida. Ou em "Juxtaposed With U", tema perfeitamente enquadrável em bailes de cruzeiros marítimos, apesar da utilização abusiva do vocoder, que atira com um genial "you've got to tolerate all those people that you hate / I'm not in love with you but I won't hold that against you". Igualmente dado ao salão de festas, com bola de espelhos e tudo, "Shoot Doris Day" é o apogeu da veia orquestral que aflora timidamente noutros temas.

Em certa medida, Rings Around The World deve ser catalogado como um disco conceptual. Como antídoto ao período louco do fim de milénio que o antecedeu, celebra valores nobres como a tolerância, a amizade e a compreensão, porém sem a militância e os clichés de hippies mal-cheirosos. Antes com muito optimismo (oiça-se "It's Not The End Of The World?") e sem se querer levar demasiado a sério. Tão pouco que, convoca antigos membros de bandas da dimensão de The Beatles e The Velvet Underground, e resume a participação de ambos à maior discrição...

Outra particularidade associada ao quinto álbum dos SFA é o facto de ter sido o primeiro álbum lançado simultaneamente em DVD, com vídeos criados por diferentes realizadores para cada canção. Alguns deles têm como protagonistas os "bonecos" criados pelo amigo e compatriota Pete Fowler, autor de (mais) um fabuloso trabalho no artwork de Rings Around The World. Deixo-vos três deles:

"Receptacle For The Respectable"

"Presidential Suite"

"It's Not The End Of The World?"

segunda-feira, 25 de julho de 2011

First Exposure #34














BLEEDING KNEES CLUB

Formação: Alex Wall (voz, btr); Jordan Malane (gtr, voz)
Origem: Brisbane, Queensland [AU]
Género(s): Indie-Rock, Punk-Rock, Lo-Fi, Jangle-Rock, Surf-Rock, Rock'n'Roll
Influências / Referências: Wavves, No Age, Japandroids, The White Stripes, Ty Segall, Pixies

http://www.myspace.com/thebleedingkneesclub

"Have Fun" [Noir, 2011]

Transístor em AM













Mesmo com a torrente de informação e novidades com que diariamente somos assaltados, há bandas e projectos, já com carreira feita, que nos fogem ao radar. Aconteceu-me com The Ladybug Transistor, "descobertos" por um feliz acaso num simpático concerto que abriu um pequeno festival no país vizinho há perto de dois anos. Investigações posteriores fizeram-me saber que já cá andam desde meados da década de 1990, que inicialmente eram um projecto de formação variável em torno do mentor Gary Olson, e que numa fase posterior evoluíram para line-ups com alguma estabilidade. Fiquei também a saber que, embora originários de Brooklyn, Nova Iorque, estiveram outrora ligados ao colectivo Elephant Six, coglomerado de alquimistas pop com sede no Colorado.

Após a descoberta, tenho feito os possíveis por explorar a sua discografia que, até há pouco, compreendia já meia dúzia de álbuns. O sétimo, chegado há pouco, interrompe um silêncio de quatro anos motivado pela indefinição após a morte do baterista de longa data. O disco chama-se Clutching Stems e consiste numa dezena de temas de uma pop elegante e sem tempo, cujo maior adorno é a suavidade do barítono de Gary Olson. Por vezes, revela ecos do romantismo desencantado dos Go-Betweens, outras da nostalgia implícita nas novas canções dos Feelies, outras ainda, ostenta uma ligeira dose da melancolia sóbria típica de The Clientele. Não sendo propriamente o disco que vai mudar o mundo, não deixa de ser uma óptima companhia para a lazeira de fim de tarde típica deste período de estio. Fazendo jus à categoria de pop referencial, de uma penada, a amostra abaixo cita dois clássicos de outras eras: uma dos Joy Division, outra de um tal Neil Young. Desafio-vos a descortiná-las:


"Oh Cristina" [Merge, 2011]

domingo, 24 de julho de 2011

R.I.P.


AMY WINEHOUSE
[1983-2011]

Por esta altura, sobre Amy Winehouse já muito foi dito e escrito. Até demais! Sobre ela, vou acrescentar apenas uma achega, talvez a fundamental: com a sua morte a soul perdeu a mais digna representante das últimas duas décadas, o que não deixa de ser irónico tendo em conta que era inglesa e era branca...

"You Know I'm No Good" [Island, 2006]

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Ao vivo #68















Dirty Beaches @ Galeria Zé dos Bois, 21/07/2011

Tal como no caso de Alan Vega, dos Suicide, Alex Zhang Hungtai, o rapaz que adoptou a denominação Dirty Beaches, tem uma obsessão com o ícone do Elvis decadente. Mas, se o primeiro tem uma abordagem visceral e de confronto, o nativo de Taiwan migrado na Califórnia, via Vancouver, opera com algum recolhimento, numa espécie de tela sépia que remete para a beleza extraída das sombras nas películas de David Lynch.

As diferenças acima referidas, evidentes em disco, esbatem-se em palco. Neste habitat, Alex, sozinho com guitarra eléctrica e "máquinas", solta-se e entremeia o balbuciar melancólico com urros catárticos. A adopção deste cenário minimalista, combinado com os ecos e o baixo volume do som granuloso, revela-se o ideal para uma música de tons esbatidos, percorrida por um certo sentimento de nostalgia. O público, em número invulgarmente alto para uma quinta-feira, sabe ao que vai, e sintoniza-se desde o primeiro instante. 

Com tal clima de empatia mútua, o concerto não se poderia ficar pelos cerca de 40 minutos, e Alex percebe-o, adiando até ao limite a saída de palco. Primeiro com uma versão dos DNA, tocada com igual teor cacofónico ao das lendas da no-wave. Seria o fim perfeito, não fosse o músico ceder aos caprichos da turba e tocar mais dois ou três temas que soaram mal preparados. Mais do que empobrecer o resultado do todo, este final serviu, essencialmente, como momento de comunhão que satisfez ambas as partes.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Good cover versions #56

(Pedimos desculpas pela insistência nas mesmas caras. As edições regulares do April Skies seguem dentro de momentos.)











DUM DUM GIRLS _ "Baby Don't Go" [Sub Pop, 2010]
[Original: Sonny & Cher (1964)]



Um pouco à semelhança de Tina Turner, Cher viveu os seus maiores momentos musicais enquanto vivia as agruras de um casamento pouco saudável. A APAV que me perdoe mas, em qualquer dos casos, e após a separação das respectivas caras-metade, é doloroso para qualquer apreciador da boa música assistir à degradação, até ao cúmulo do ridículo, de dois dos mais fulgurosos ícones femininos da música dos sixties.

Por ora, as atenções vão para Cherilyn Sarkisian - nome de baptismo -, que enquanto casada com Sonny Bono, teve um marido que, além de lhe escrever canções de boa lavra, ainda a levou à companhia de gente como Phil Spector, produtor que usou a sua voz para adornar os coros de alguns dos seus inúmeros hits. Nesses tempos distantes, o casal era figura de proa nas tabelas de vendas com temas assentes numa raiz folk. Normalmente, todo o protagonismo era dela, chamada à linha da frente, com ele, discreto, lá atrás a introduzir uns corozitos e a dirigir toda a parte instrumental. Dá-se o caso de "Baby Don't Go", um tema que, apesar da matriz da mais rudimentar country, tem um sentir pop que envergonha muita da produção actual que enverga tal rótulo. 

Bem diferente do original, a versão das Dum Dum Girls resulta no tema perfeito para o encerramento do álbum I Will Be, depois do desfile de uns quantos temas de uma pop doce mas ruidosa. Resumido essencialmente a uma guitarra e um sintetizador planante, cria um ambiente brumoso no qual umas notas sinistras de guitarra eléctrica espreitam timidamente. Por várias vezes, a voz de menina-moça de Dee Dee fica suspensa, dando um ar de fragilidade que contrasta com habitual postura confiante. Contudo, e pela ligação ao original presente na letra inalterada, não deixa de ser uma canção de amour fou como as que a antecedem no alinhamento daquele disco.

terça-feira, 19 de julho de 2011

Dee Dee só em sonhos
















Foto: Shawn Brackbill

Kristin Gundred, a rapariga que gosta de ser tratada por Dee Dee Penny, deve ser daquelas que passam o tempo de mangas arregaçadas. No último ano e meio já nos deu um álbum e um EP das suas Dum Dum Girls, ambos merecedores de aprovação com louvor no difícil teste apriskieniano. Recentemente, juntou-se à líder dos Tamaryn sob a designação designação Les Demoniaques, projecto do qual se desconhecem planos futuros, mas que já nos presenteou com uma soberba versão de um tema dos Mary Chain, banda do coração de ambas as moças.

Neste ritmo imparável, anuncia-se já novo álbum com as Dum Dum Girls para finais de Setembro. Chama-se Only In Dreams e parece querer aprofundar a exploração da veia grandiloquente que já aflorava no anterior EP, à mistura com as heranças dos girl groups de sessentas e da geração C86 que nortearam os primeiros passos da banda. Pelo menos é que nos leva a crer o primeiro avanço, um tema com uma duração muito acima do que é normal nestas garotas e que consiste numa balada com um ar de gravidade - diria mesmo de assombração - que contrasta com as canções sobre assuntos mundanos do passado. A razão para tal, diz a autora, é a sua concepção no período que se seguiu à morte da mãe. Este acontecimento parece também ter tido a sua influência na fabulosa imagem da capa. Como poderão constatar pela audição, a performance vocal não disfarça ecos de uma Siouxsie Sioux, e até de uma Chrissie Hynde. A primeira mais presente no timbre, a última mais no espírito.


"Coming Down" [Sub Pop, 2011]

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Um submarino multicolor

















Não tivesse sido a inclusão daquela soberba versão num filme simpático de meados de noventas e, provavelmente, os Urge Overkill não passariam de nota de rodapé, mesmo na memória dos melómanos mais esclarecidos. O que seria uma tremenda injustiça, pois foram uma verdadeira lufada de ar fresco, precisamente na altura que a MTV impunha a pose estudada de alguns maltrapilhos de camisa de flanela e jeans rasgados. No capítulo da indumentária, contrapunham com roupas de cores garridas, uniformes kitsch, e até fatos de corte retro dignos de quem bebe cocktails em bares do Caribe. Em termos musicais, na mesma altura, e não obstante os resquícios punky herdados dos primórdios, ofereciam uma fórmula rock básica insuflada de um espírito festivo que celebra os excessos de setentas. Excepção aberta para Exit The Dragon (1995), disco soturno que documenta a incompreensão das políticas das editoras multinacionais, bem como uma fase marcada por consumos pouco recomendáveis. Uma e outra coisa, e a tensão inerente de ambas, ditaria um fim prematuro da banda de Chicago nos idos de 1997.

Discretamente, e cientes de que a sua missão não estava terminada, os Urge Overkill regressaram ao activo há coisa de meia dúzia de anos. Agora alargados a quarteto, e deixando de fora o baterista Blackie Onassis, o tal a quem, na opinião do mentor e guitarrista Nash Kato, são atribuídas algumas responsabilidades pelas fricções do passado. Também de mansinho, chegou recentemente Rock & Roll Submarine, o auto-editado primeiro fruto da reunião. Trata-se de um álbum de rock descarnado, directo, e sem pruridos que em nada desonra as credenciais dos seus autores. Não é particularmente inventivo, mas em tempos que se louvam azeiterices do tipo Reis de Leão, a fórmula sem maneirismos dos Urge Overkill resulta até como um bálsamo. Como já não vão para novos, duvido é que sejam merecedores de grandes parangonas. É que esta é uma era reservada a neófitos, em que cada um vislumbra semanalmente o Santo Graal musical ao virar da esquina...

"Effigy" (live @ Bottom Lounge, Chicago) [UO, 2011]

domingo, 17 de julho de 2011

Singles Bar #66








THE CHURCH
Under The Milky Way
[Mushroom, 1988]






Não se pode propriamente afirmar que o reconhecimento em massa tenha um relacionamento próximo com a pop australiana de oitentas. Se exceptuarmos o caso dos dos INXS, e mesmo estes com sucesso internacional tardio, e algumas inconsequências juvenis, não me ocorrem outros nomes do país dos cangurus que, nesse período, tenham estado debaixo dos holofotes da fama. No extremo oposto, peguemos, por exemplo, nos casos de The Go-Betweens e The Triffids, duas bandas para as quais os favores da crítica e o culto fervoroso de alguns seguidores não se traduziu em números de vendas.

Idêntica experiência à da dupla citada viveram os The Church, banda ainda no activo ao fim de trinta anos, e admirável caso de coerência numa discografia que compreende cerca de uma vintena de álbuns. Contudo, no caso deste quarteto de Sydney, houve um raro momento (irrepetível) em que as rádios generalistas, tanto da Europa como da América do Norte, deram o merecido destaque à sua pop de contornos épicos. Tudo graças a "Under The Milky Way", uma daquelas canções que justificam a existência de adjectivos como "intemporal". Os motivos para tal serão, porventura, o rigor da melodia traçada pela guitarra de doze cordas, e a sobriedade da voz de Steve Kilbey, num registo crooner capaz de ombrear com o de um Neil Diamond. Alegadamente, a inspiração para a letra partiu do Melkweg ("via láctea" em holandês), complexo pluri-artístico situado em Amsterdão habitualmente frequentado pelo vocalista dos The Church. Mas o que o ouvinte retém, alheado dessa referência, é a veia de um romantismo sonhador, também muitas vezes detectada nas sublimes canções dos mencionados The Go-Betweens.

Ideias que funcionam
















Em termos musicais, fala-se em Chicago e a associação a algumas das aventuras mais arrojadas do chamado post-rock é inevitável. Recuando no tempo, a windy city surge ligada às primeiras manifestações do mais abrasivo noise-rock. O trio Brain Idea vem dessas paragens mas renega por completo as tendências dominantes da cidade natal. A opção óbvia é pelo mais canónico indie-pop, tal como já demonstrado no longa-duração Survival Scrolls, o disco do ano passado que passou completamente ao lado dos falatórios blogosféricos. Aqui no April Skies fazemos mea culpa pela chegada tardia desse exemplar conjunto de canções.

Melhor sorte conheceu o recente EP, acabadinho de chegar à "redacção" e que, para além das semelhanças do título, nada partilha com as sensibilidades southern rock de determinado clássico de setentas. As cinco faixas do novíssimo Cosmos Factory tresandam às memórias da pop neozelandesa, em particular daquela ligada à excelsa Flying Nun Records. Não se remetendo a esta ou àquela referência, os Brain Idea fazem a súmula possível no tempo disponível da "coisa". Por isso, tanto podem evocar a falta de polimento de bandas como The Clean ou Tall Dwarfs, como remeter para o formalismo em busca da perfeição característico de The Chills, The Bats, ou The Verlaines. Pelo elevado nível qualitativo do conjunto, Cosmos Factory é pois de aquisição obrigatória por parte dos saudosistas desse pedaço mítico da história pop. Como valor acrescentado, a limitação a 500 exemplares da edição física torna-o produto ainda mais apetecível.

"Oh I'm Free (Earn Your Card)" [Mexican Summer, 2011]

terça-feira, 12 de julho de 2011

Discos pe(r)didos #55








14 ICED BEARS
14 Iced Bears
[Thunderball, 1988]




Hoje praticamente esquecidos pelas massas consumidoras de música, em tempos idos, os 14 Iced Bears foram uma das mais laudadas bandas da explosão indie da segunda metade de oitentas. Nascidos em Londres sob a égide das premissas da C86, assentaram arraiais na cidade de Brighton. Foi nessa sede que desenvolveram uma linguagem musical muito própria, que à raiz indie juntava uma indisfarçável devoção pelos sons da psicadelia de outras eras. E isto numa era de relativo desprezo pelas heranças dos sixties...

O primeiro álbum, homónimo, é bem demonstrativo da invulgar proposta dos 14 Iced Bears. A abrir, "Take It" é momento único em todo o reportório da banda, com uma tempestade de fuzz que liberta silvos de feedback. Nas vezes do refrão inexistente, uma rajada de distorção lança algumas das sementes dessa vertente da pop ruidosa a que se convencionou chamar shoegaze. Devidamente alinhadas no espírito psych, tal como professado pelos 13th Floor Elevators, pelos United States of America, ou por outras luminárias afins, são "Train Song" (tomado pelo ritmo vertiginoso), "Florence" (que evolui do difuso para uma espiral caocofónica), e Spangle (a expirar ares de "garagem"). No segmento intermédio de 14 Iced Bears, o quarteto investe todo o seu poder lisérgico, com uma dupla de semi-canções-de-embalar. Em "Moths", uma guitarra lânguida realça o tom terno da voz de Rob Sekula, enquanto "Hay Fever" envereda por uma via mais melodiosa, com discretas harmonias vocais incluídas. Outra faceta da banda, bem mais da acordo com o seu tempo, é expressa em temas como "Dust Remains" e "Cut", ambos em consonância com a facção indie letrada e sensível da qual foram expoentes The Housemartins e The Smiths. No último, significativamente mais jangly, os dedilhados característicos de um Johnny Marr espreitam a cada recanto. Para o encerramento fica guardado "Surfacer", o tema mais longo de todo o alinhamento e que lança pistas para o regime jam aflorado no subsequente Wonder (1991).

Depois de escassos dois álbuns, e um número razoável de singles, os 14 Iced Bears encerraram actividades em 1992, incapazes de remar contra a maré de bandas de guitarras que chegavam do outro lado do Atlântico. Recentemente, e de forma algo discreta, renderam-se ao mercado da saudade e reagruparam-se para alguns concertos. Por estas bandas, cruzam-se os dedos para que aterrem no cartaz de um "certo" festival do país vizinho.


"Take It"


"Florence"


"Cut"

segunda-feira, 11 de julho de 2011

The Don


















Para merecer um lugar no panteão dos históricas da música dita "alternativa", a Don Fleming bastaria o trabalho como produtor. Foi ele o responsável por moldar obras superlativas de gente como Sonic Youth, Teenage Fanclub, ou The Posies, para citar apenas alguns. Ao trabalho técnico, acresce ainda a obra como músico que, entre incontáveis colaborações, incluem a liderança dos Velvet Monkeys, banda seminal do lo-fi de propensões sónicas cuja fundação remonta a inícios de oitentas, e dos power-poppers Gumball, estes surgidos em pleno apogeu da música de guitarras de inícios de noventas.

Paralelamente, Fleming tem também uma menos produtiva carreira a solo, da qual não havia novidades há mais de uma dúzia de anos. É já amanhã que sai para a rua, em formato digital (a edição física surge em inícios de Agosto), Don Fleming 4 que é, como o nome deixa supor, apenas o quarto registo em nome próprio. É um EP de quatro temas e conta com as preciosas colaborações de Kim Gordon (Sonic Youth, Free Kitten), Julie Cafritz (Pussy Galore, Free Kitten), e da lenda lo-fi R. Stevie Moore. O contributo deste último pode ser escutado abaixo. Trata-se do primeiro tema do alinhamento que, porventura, poderá servir para diminuir a saudade de novidades musicais dos Pavement.

"My Little Lamb" [Instant Mayhem, 2011]

Rei posto


















Das paragens invulgares da última publicação, voltamos hoje a destinos habituais nesta casa. Mais propriamente à Escócia, terra fértil de tesouros musicais na óptica deste escriba. Hoje não vos pretendo falar de nenhum dos suspeitos do costume, mas sim da "novidade" King Post Kitsch. Apesar do nome sugerir uma banda, este é o projecto solitário de Charlie Day, um rapaz de Glasgow cujas canções me chegaram aos ouvidos há algum tempo através de um EP de gravações caseiras de distribuição gratuita.

Pouco tempo decorrido desde a descoberta, já Charlie nos presenteia com o primeiro longa-duração. Embora concebido em ambiente de estúdio, The Party's Over não esconde a devoção do seu autor pela baixa-fidelidade. Seguindo as excelentes pistas lançadas pelo antecessor, é também um compêndio na arte de escrever pequenas canções que privilegiam o substrato em detrimento do artifício. Uma boa parte delas têm uma fragilidade, com ligeiro cunho pastoral, que remete para reminiscências kinksianas. Já nos temas em que deixa a electricidade libertar-se, Charlie traz à memória dos petardos rock inacabados dos Sebadoh dos primórdios. É o caso da amostra infra, cujo significado do título é uma incógnita.


"Don't You Touch My Fucking Honeytone" [Song, by Toad, 2011]

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Kelly Family
















Começo a acreditar num artigo em que tropecei aqui há atrasado, que dava conta de um eclodir de bandas femininas com proveniência na América Latina. Já aqui vos tinha dado conta das costa-riquenhas Las Robertas, e hoje gostava de vos falar de Las Kellies, geradas uns milhares de quilómetros mais a sul, na Argentina, e que com elas têm partilhado palcos por essa Europa. Se as primeiras alinham pela tendência vigente na América de Norte de recuperação do noise-pop descendente da britânica C86, estas últimas vão buscar as referência ligeiramente mais atrás. No genoma, Las Kellies ostentam as características da militância feminina (e feminista) de bandas ligadas ao post-punk como ESG, The Raincoats, The Slits, ou Delta 5.

Depois de um par de lançamentos para consumo interno, e que serviram essencialmente para aprimorar a receita, e da redução de quarteto a trio, Las Kellies chegaram aos ouvidos do influente Everett True, que não lhes poupou encómios. Daí à assinatura com a prestigiada Fire Records foi um passo. É essa editora que acaba de lançar o terceiro álbum (homónimo), o primeiro com distribuição internacional. A audição de Kellies não tenta disfarçar as influências, ao ponto de incluir uma versão de "Erase You", original das citadas ESG. Porém, a irreverência  e o ritmo insinuante soam de tal forma sinceros que, na comparação com a maioria dos sub-produtos actuais dedicados à ruminância do passado, as três muchachas saem a ganhar por larga margem. Para tal, muito terá contribuído o trabalho de um produtor com currículo nestes meandros - Dennis Bovell, o caribenho com raízes no reggae co-responsável pelo primitivismo terceiro-mundista que encontramos em discos de gente como Orange Juice, The Pop Group, ou The Slits. Ao longo do disco, não se surpreendam ao ser confrontados com a alternância de línguas, do inglês ao castelhano, do francês ao português (do Brasil, claro!).

"Perro Rompebolas" [Fire, 2011]

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Em escuta #59











GANG GANG DANCE _ Eye Contact [4AD, 2011]

Em relação aos GGD, tenho de admitir que nunca me senti particularmente seduzido pelas colagens surrealistas dos primórdios. E que também não foi a mudança estética do anterior e mui celebrado Saint Dymphna que me fez render ao colectivo nova-iorquino. Já o novo álbum (o quinto) é outra loiça... Caracterizado pela solidez e intersecção entre temas, Eye Contact é o estado actual da pop, num mundo acelerado e miscigenado culturalmente, materializado num disco. Para o melting pot concorrem melodias arabizantes, propulsões rítmicas dançantes, funk electrificado e abastardado, pedaços de velhas canções napolitanas, batidas tribalistas, revisões das "danças" de noventas, e o que mais vier à cabeça dos GGD. Sobre a unidade dos diferentes elementos, pairam os sintetizadores em estado líquido, em perfeita fusão com o exotismo da voz de Lizzi Bougatsos, uma espécie de Liz Fraser rendida ao esplendor multicolor dos ritmos. [8,5] 


IMPLODES _ Black Earth [Kranky, 2011]

Banda pouco dada à luz intensa, estes debutantes de Chicago vivem num mundo gelado e obscurecido. Amigos do ruído e das atmosferas densas, resgatam heranças noise e da psicadelia. Escondidas sob as camadas de reverberação, as guitarras e a voz debatem-se para se erguer nas trevas. Nos melhores momentos, que compõem quase metade do disco, os Implodes conseguem os seus intentos, ao criar um ambiente de um frio glaciar que seduz por via de um hipnotismo soturno. No resto, que são os temas que ali parecem estar para encher, falta-lhes engenho para criar algo mais que descargas de distorção arrastadas. Talvez, um futuro próximo, traga maior clarividência de ideias. [6]


GIRLS NAMES _ Dead To Me [Tough Love / Slumberland, 2011]

Poderiam vir da costa oeste dos states, mas não, estes Girls Names são uma daquelas bandas que muito esporadicamente são geradas na conturbada Irlanda do Norte. E digo que poderiam porque têm todas as marcas identitárias do noise-pop - derivado dos seminais Black Tambourine - que por estes dias germina livremente por aquelas paragens. Há falta de traços distintivos, porém, exibem um invulgar sentido melódico que se manifesta em canções escorreitas, divididas entre um sol tímido e uma cave obscurecida, ou a meio caminho entre a exultação surfy e a seriedade introspectiva. A isto adiciona-se um alarmante travo vintage, e está lançada a hipótese de como soariam os Crystal Stilts se convivessem mais horas com a luz do dia. [7,5]


LET'S WRESTLE _ Nursing Home [Merge, 2011]

Sem grande alarido, os Let's Wrestle lá são firmando como um dos valores seguros da "nova" música britânica, ao ponto de já terem assegurado transferência para uma das maiores independentes do outro lado do Atlântico. Esta proeza é tão mais notável se tivermos em conta que são uma banda que não encaixa em qualquer das tendências que presentemente movem as massas. O seu maior trunfo talvez seja o conhecimento que têm, como poucos, dos truques com que cose uma boa canção rock, facção punky galhofeira, matéria que amiúde afloram nas letras. Por conseguinte, Nursing Home é, sem grande novidade, mais um disco pejado de temas de guitarras picadinhas e voz de puto reguila, que não aspiram a mais do que alimentar o espírito lúdico de banda e público,  Desta feita, como bónus, oferecem um trio de temas em ritmo mais refreado, os quais, mais não são do que tiradas de um apurado sentido de humor, progressivamente de uma subtileza mais refinada. Aos comandos esteve Steve Albini que, pasme-se!, conseguiu fazer deste o registo mais alinhado com a "alta fidelidade" dos londrinos. À memória vem idêntico trabalho desenvolvido com os Wedding Present em Seamonters (1991), embora, claro, no caso dos Let's Wrestle sem o rigor sombrio daqueles. [7,5]


THURSTON MOORE _ Demolished Thoughts [Ecstatic Peace / Matador, 2011]

Não deixa de ser curioso constatar que, tal como o velho compincha J Mascis, outro embaixador da guitarra enquanto máquina fazedora de ruído, também o cabecilha dos Sonic Youth enverede pela via acústica na mais recente aventura em solitário. Mas, se aquele apostava sobretudo na nudez da canção, sublinhada pela quase solidão da guitarra, Thurston Moore investe mais na elaboração de um ambiente (soturno), deixando muitas vezes que longos devaneios instrumentais preencham a ausência das palavras. A acompanhar a guitarra, há um enchimento por via dos sintetizadores, da harpa, ou do violino, com este último a realçar o pendor melancólico que percorre o disco. Produzido por Beck, Demolished Thoughts acusa a imponência da sonoridade luxuriante dos trabalhos mais introspectivos do wunderkind. Por acaso, ou talvez não, remete para Sea Change (2002), o exercício de expiação da dor-de-corno perpetrado pelo rapaz encarregue da produção. Desconhecem-se é quaisquer desavenças no lar do casal Gordon-Moore... [7]

terça-feira, 5 de julho de 2011

Mil imagens #20


Mark E. Smith (The Fall) - Sheffield, 2005
[Foto: Steve Gullick]

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Ao terceiro horror, o Céu?















Há gente que não pára, trabalha que se farta. Deve ser o caso de Faris Badwan que, ainda mal deixou assentar a poeira sobre o disco do projecto Cat's Eyes, e já tem pronto o novo álbum da banda que lhe toma a maior parte do tempo. Falo, obviamente, de The Horrors, que dentro de exctamente uma semana lançam Skying, o terceiro longa-duração que desenvolve algumas das pistas caleidoscópico Primary Colours (2009). O mesmo é dizer que quinteto se afasta ainda mais das raízes garage-punk, com laivos góticos, do já "longínquo" debutante Strange House (2007). 

Após um par de audições a acompanhar algumas tarefas domésticas, numa análise ainda bastante precoce, sou levado a dar o aval a Skying, digno sucessor do disco que catapultou a banda para a primeira divisão da música britânica. E até que não começa muito convincente, o disco, com a dupla inicial de temas, dominados pelos teclados, a situar-se algures entre o Bowie da pior safra e esse híbrido de génese oitentista que faz as delícias de gente facilmente impressionável. Nestes, o único trunfo acaba por ser a voz do próprio Faris, agora menos imponente, mas mais segura das suas capacidades. A partir do terceiro tema, inclusive, e excluindo o menor (mas longo) "Moving Further Away", Skying entra realmente nos eixos e revela uma banda consciente das suas possibilidades e dos seus objectivos. A dinâmica dos sintetizadores com as guitarras encontra um ponto de equilíbrio, com os primeiros a pintar planícies inóspitas, e os segundos a realçar a tensão (desculpem-me, mas falar de shoegaze, tal como já aconteceu com disco prévio, é um disparate tão pegado como pensar que uns tais Fleet Foxes inventaram a roda). Pressentem-se ecos de kraut, bem mais diluídos que no antecessor, e estilhaços da facção letrada do rock de oitentas, representada por bandas como The Psychedelic Furs e Echo & The Bunnymen, mas tudo perfeitamente assimilado de forma a evitar colagens óbvias. Relativamente às afinidades com estes últimos, oiça-se o contemplativo e derradeiro "Oceans Burning", ao qual nem sequer faltam as referências marítimas. Aproveitem e oiçam também todos os outros e tirem as vossas conclusões:

The Horrors _ Skying [XL, 2011]

domingo, 3 de julho de 2011

Manchester em chamas















Os WU LYF (pronuncia-se Woo Life e por extenso deve ler-se World Unite! Lucifer Youth Foundation) são um colectivo de Manchester que faz da independência e do mistério modos de vida. Por enquanto, não dão entrevistas, resistem aos acenos das editoras instituídas, e consta que já tenham rejeitado um convite (não se sabe bem para quê) do realizador Michel Gondry. Como uma espécie de comuna de activistas de uma qualquer causa obscura, preferem concentrar energias na produção e divulgação de uma música sobejamente atípica pelos canais menos convencionais.

Por contradição, esta postura de rebeldes, faz dos WU LYF um projecto sobre o qual se concentram muitas atenções. Imune à pressão, a banda acaba de editar Go Tell Fire To The Mountain, o primeiro álbum que é um autêntico exercício de catarse, um ovni no deserto de ideias da música actual. Órgãos de tubos, guitarras tortuosas, coros ora tribais, ora diáfanos, uma voz de laringe arranhada, e letras de um surrealismo indecifrável, são as matérias primas deste disco que se recusa a encaixar em qualquer tipo de rótulo. Recupera dinâmicas de algum post-rock, até de algum post-hardcore, mas não se detêm em qualquer colagem óbvia. Numa primeira aproximação, vêm à cabeça os norte-americanos Cymbals Eat Guitars, mas esse ideia cedo se desvanece, à medida que se abate a atmosfera pesada e malsã que domina Go Tell Fire To The Mountain. Na amostra infra, apraz-me registar o perfeito emparelhamento de música e imagem. Como poderão verificar, o corte dos WU LYF com o longo historial da cidade que lhes dá guarida é radical.

"Dirt" [LYF, 2011]

sábado, 2 de julho de 2011

First Exposure #33














S.C.U.M

Formação: Tom Cohen (voz); Bradley Baker (sntzr, tcls); Sammy Seven (sntzr, tcls); Huw Webb (bx); Mel Rigby (btr)
Origem: Londres, Inglaterra [UK]
Género(s): Post-Punk, Art-Rock, Industrial; Noise; Dark
Influências / Referências: Liars, Throbbing Gristle, Public Image Ltd., 23 Skidoo, HEALTH, The Horrors

http://www.myspace.com/scum1968

"SIGNALS 1 'WARSAW'" [auto-editado, 2009]

"Amber Hands" [Mute, 2011]