"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Ao vivo #89

















Wanda Jackson @ Ritz Clube, 06/07/2012

Pouco adepto das aventuras musicais de Jack White, tanto em nome próprio como em banda, tiro-lhe o chapéu na qualidade de produtor, sobretudo por ter sabido resgatado ao esquecimento algumas estrelas de outras eras. Foi assim há quase uma década com a diva country Loretta Lynn, e foi assim mais recentemente com Wanda Jackson. É mesmo na sequência de The Party Ain't Over, o disco do ano passado desta última por ele produzido, que a proclamada "rainha do rockabilly" aterrou na capital, depois de na véspera já ter passado pela Invicta.

Com uma assistência composta de devotos das sonoridades billy, melómanos em geral, ou simples curiosos, Wanda entrou em palco muito para além das 23h00 previstas, portanto, já em horário impróprio para a sua idade. Já lá estavam os Lost Highway, uma banda de jovens músicos franceses que a tem acompanhado e que me parece uma escolha acertada. A juventude da banda contrasta com a maturidade da estrela principal, com ar de velhinha que costumamos encontrar em salões de chá a aparentar mais do que os 74 anos do bilhete de identidade. Às primeiras notas sente-se que as cordas vocais já não têm o fulgor de outrora, mas nem por isso a voz deixa de reter bos parte das suas qualidades. Mas eis que, aí pelo terceiro tema, emperra e teme-se que a função possa vir a ser abruptamente encurtada. Falso alarme, pois logo a seguir, com a ajuda de um misterioso líquido milagroso, Wanda, qual máquina fiável com um grão na engrenagem, emabala para quase hora e meia de puro rock'n'roll. Os desvios à sonoridade dominante dão-se com os temas do último disco, com alguns desvios ao swing, à country, ou até à soul. É o caso de "You Know I'm No Good", de Amy Winehouse, interpretado com uma fidelidade reverente ao original. O resto são verdadeiras pérolas da história do rock'n'roll ("Let's Have A Party", "Mean, Mean Man", "Funnel Of Love", "Fujiyama Mama") recebidos num frenesim dançante.

Pelo pedaço de história proporcionado, e pelo clima de festa que ainda é capaz de incutir, a Wanda perdoamos os longos discursos entre cada tema, típicos de estrelas em curva descendente. Ela agradece a Elvis, ela agradece a Jack White, ela elogia Amy e auto-elogia-se, ela aborda episódios da vida pessoal acerca de namoricos, de drogas e do encontro com a fé... Mas nem por isso deixa de reinar a festa e, quando assim é, tudo o resto passa para segundo plano...

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