Quando se fala de slow/sadcore ocorrem-nos os nomes dos Galaxie 500 e dos American Music Club como pioneiros, ou os dos Red House Painters e dos Low como vedetas da "cena". No entanto, dada a definição que o rótulo encerra, penso que não haverá no meio banda mais paradigmática do que os Codeine. No curto período que estiveram activos, entre 1990 e 1994, estes nova-iorquinos foram também um dos nomes mais sui generis do "género", com uma aproximação relativamente mais experimental e ruidosa da coisa do que os seus pares, como que estabelecendo a ponte entre a urgência post-hardcore e a contemplação post-rock. Para a posteridade deixaram uma singela obra de três registos: os álbuns Frigid Stars (1990) e The White Birch (1994) e o EP Barely Real (1992). Confesso que a minha preferência recai sobre o primeiro, embora de forma algo relutante, pois qualquer dos trabalhos dos Codeine é marcado pela mesma carga dramática, os mesmos ambientes claustrofóbicos, as mesmas notas repetidas com todo o vagar do mundo, e mesmas guitarras ríspidas a sublinhar os momentos de maior tensão. Se estão a pensar chamar-lhes repetitivos, chamem-lhes antes coerentes ou homogéneos.
Se o baterista Chris Brokaw cedo abandonou para se dedicar ao papel de guitarrista nos aparentados Come e se notabilizar em múltiplas colaborações com outros músicos, e o substituto Doug Scharin ocupou o tempo pós-Codeine em bandas de um espectro que vai do slowcore ao math-rock, passando pelo post-rock (Rex, June of 44, HiM), de 1994 para cá pouco ou nada se soube do vocalista/baixista Stephen Immerwahr e do guitarrista John Engle. A dupla voltou a ser falada só muito recentemente quando, juntamente com Brokaw, anunciou o regresso aos palcos. Desta ressurreição da qual se desconhecem outros planos já beneficiei com a presença num belíssimo concerto na última edição barcelonesa do Primavera Sound, concerto obviamente apinhado de devotos acérrimos. A ocasião proporcionou também a reedição quase obrigatória da obra integral dos Codeine, há muito fora de catálogo. A tarefa ficou a cargo do Numero Group, casa especializada neste género de edições com embalagens sempre cuidadas. Ao alinhamento original de cada disco foram acrescidos inúmeros temas extra (demos, Peel sessions, temas ao vivo) em edições duplas, tanto em vinil como em CD. O preço unitário é que não é o mais apelativo, mas ainda assim é bem mais acessível do que o da luxuosa caixa When I See The Sun, composta pelos mesmos três registos em ambos os formatos. Caso ainda gozem de algum desafogo nestes tempos de contenção orçamental, tentem a vossa sorte, mas sem demasiadas esperanças, pois consta que o pacote é limitado a 1000 exemplares.
"Loss Leader" [Sub Pop, 1994]
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