"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Ao vivo #90

















Foto: JN

Optimus Alive 2012 @ Passeio Marítimo de Algés, 13/07/2012

Chamem-me pretensioso, chamem-me mete-nojo, mas cada vez me falta mais a paciência para os festivais realizados no rectângulo (desde que não organizados por espanhóis, está claro!). O Optinus Alive em particular, com as pretensões a Rock in Rio, tem a particularidade de me afugentar como nenhum outro. Ele é a salganhada do cartaz, ele é a morosidade inexplicável no acesso ao recinto, ele é o próprio recinto de dimensões mais que reduzidas para o número de público... Só que, no meio da salganhada, vai de quando em quando aparecendo um nome que me faz esquecer a fobia e lá me faz rumar ao circo de Algés. Foi assim há quatro anos por causa dos Spiritualized, e foi assim na passada sexta-feita por causa dos Stone Roses

Sobre a actuação da regressada banda de Manchester já muito se disse, em particular da fraca prestação vocal de Ian Brown. São justas as críticas, mas se querem que lhes diga dele não esperava propriamente um tenor, pelo que neste aspecto não fui tomado de surpresa. Porém, também serei justo se referir que o rapaz se desenrasca com maior desenvoltura quando se lhe pede que cante num tom mais melódico, e isso acontece na maioria dos temas que interessam, ou seja, os do simbólico primeiro álbum. Pontos altos, sem falhas dignas de nota, foram "This Is The One", o fulgurante final com "I Am The Resurrection", e "Fools Gold". Neste último, transfigurado para palco, com Brown fora de cena, John Squire, Mani e Reni, qual máquina afinada, proporcionam uma longa deriva psicadélica que sacia a maioria dos fiéis. Voltando aos débeis dotes vocais de Ian Brown, eles estiveram mais evidentes quando procurava ser mais contido, e isso aconteceu essencialmente com os temas do desequilibrado segundo disco, pelo que penso que ninguém que realmente tenha alguma devoção pelos Stone Roses terá ficado particularmente desiludido. Excepção feita, claro está, a "Love Spreads" e "Ten Storey Love Song", o par de canções pelos quais o disco ainda vale a pena, e onde o vocalista não comprometeu. Quando ao resto da banda, e em adenda ao que acima se disse, estará hoje tecnicamente mais evoluída do que no seu período de maior fulgor, na viragem dos oitentas para os noventas. Mas não é por isso que entra em demonstrações técnicas desnecessárias, limitando-se a executar a música na sua essência, com um ou outro floreado que em nada a descaracteriza.

Do resto do cartaz gostava ainda de realçar, muito pela positiva, os Death in Vegas. Antes do início do concerto disse a alguém que o aguardava com alguma curiosidade e algumas reticências, tal a particularidade dos discos do projecto de Richard Fearless, normalmente pejados de convidados que, obviamente, estavam ausentes. Cedo se desvaneceu o cepticismo, com a imersão numa espiral de densidade que incorpora laivos de kraut em fundo de negritude. Combinando o lado electrónico com a vertente orgânica sem predominância de nenhuma das facetas, a banda transfigura cada tema como parte de um todo, deixando escapar pontos de reconhecimento, quanto mais não seja pelas extractos de vozes sampladas. No final, soube a pouco pela curta duração.

Gostava ainda que ficassem a saber que, à margem de um verdadeiro delírio infanto-juvenil, tomei finalmente contacto com a música do fenómeno LMFAO. E se querem que lhes diga, palhaçadas da dupla à parte, detectei um hip-hop festivo de travo clássico que não me causa qualquer aversão. O mesmo não se poderá dizer de uma tal Zola Jesus, que quando se cruzou pela primeira vez no meu caminho mal sabia ainda encarar o público em cima de um palco. Agora é toda ela de uma teatralidade despropositada, e como tal, não menos ridícula. Quanto à "música" propriamente dita, é toda uma súmula de clichés da facção mais negra do post-punk, com os tiques de uma Siouxsie mais madura (e mais desinteressante) em maior evidência.

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