PLUSH
Three-Quarters Blind Eyes
[Drag City, 1994]
Liam Hayes não é propriamente um nome que soe familiar às massas, até porque costuma gravar sob o pseudónimo Plush. No entanto, este aficionado do perfeccionismo que escolheu uma carreira à margem da fama é um dos grandes artesãos da pop de câmara/orquestral/barroca dos nossos tempos, um digno herdeiro tanto de Burt Bacharach como de Brian Wilson. Originário da mesma ebulição de Chicago de inícios de noventas que gerou também Jim O'Rourke, Hayes contrasta em actividade com aquele músico hiper-produtivo: em duas décadas contam-se apenas três álbuns sob a chancela Plush, mas qualquer um deles objecto de culto por parte de qualquer amante da mais pura pop intemporal. Se é opção ou complexo de perfeição desconhece-se, mas é certo que a irregularidade temporal das suas edições são o principal motivo de uma projecção diminuta.
No entanto, ainda que se tivesse eclipsado para a eternidade, bastaria a Liam Hayes a primeira edição discográfica, e aquela que deixou o meio mundo atento à novidade de sobreaviso, para constar dos manuais pop. Lançado numa época em que o rock agreste massificado media forças em protagonismo com o bom momento da música de dança, pré-vulgarização, Three-Quarters Blind Eyes é apenas um single, mas uma pedrada no charco do marasmo eminente. Curiosamente, a excepcional canção que é tema-título não se insere propriamente no registo orquestrado que deu nome ao projecto Plush. Saído da pena de alguém que à época era próximo de um tal Will Oldham, chegando inclusive a colaborar em discos lançados sob as diferentes variações Palace, "Three-Quarters Blind Eyes" é um tema inserido naquele compartimento difuso em que o americana se deixa contaminar por décadas de cultura pop. Simplificando, digamos que é um tema de cantautor, registado com recursos mínimos, até com alguma rispidez, mas talvez por isso imortalizado com a pureza que só as canções no seu estado primário possuem. Já no lado B, o tema "Found A Baby" é o primeiro assomo dos propósitos estéticos de Hayes. Fabulosa lullaby de uma beleza imaculada, que o espírito sonhador de Brian Wilson poderia ter gerado, esta é uma canção que contrasta a simplicidade da estrutura com a opulência dos elementos (arranjos de cordas, sopros), porém com uma gestão discreta dentro das fronteiras de um extremo bom-gosto.
Depois das altas expectativas criadas por esta aparição, foi preciso esperar quatro anos por More You Becomes You, o primeiro e belíssimo álbum de Plush que pecou apenas por tardio, porque lançado numa época em que o formato "canção" era moeda em desuso. Outros dois se seguiram, com semelhantes hiatos de tempo a separá-los, perante a indiferença generalizada, mas directos ao coração daqueles que ainda privilegiam a mestria pop a qualquer tendência passageira.
3 comentários:
disculpa a molestia.escribo dende espanha.gostaria contactar contigo para falar sobre um libro que estou a escribir de nikki sudden.e possible? moito obrigado:Miguel
disculpa a molestia.escribo dende espanha.gostaria contactar contigo para falar sobre um libro que estou a escribir de nikki sudden.e possible? moito obrigado:Miguel
Olá Miguel!
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