"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Uma vida a preto e branco

















Foto: Richard Torrens

Na música popular vivemos uma época de constante retorno ao passado, é algo que já ninguém pode negar. Praticamente desde o começo do século, com mais ou menos engenho, poucas são as novas bandas que não ostentam, sem quaisquer disfarces, marcas de sonoridades de outras eras. Se há uns anos o período post-punk foi motivo para intenso surripianço, até ao enjoo, mais recentemente a máquina do tempo tem-nos guiado com alguma frequência para a década de 1960. Uma das bandas responsáveis foram os Girls Names, oriundos de Belfast, na Irlanda do Norte. Com Dead To Me (2011), um pequeno mas interessante disco que os deu a conhecer fora de portas, cruzavam sujidade, algum negrume, e laivos surf-rock, como se foseem fruto do encontro dos Velvet Underground com os Tornados sob um véu obscurecido. Parentes próximos de uns Crystal Stilts, portanto.

Foi essa a receita que trouxeram para a última edição do Primavera Sound barcelonês, com um simpático concerto no qual já apresentavam novos temas de um álbum que estava na forja. Esse disco acaba de ser lançado e leva o título The New Life, mais que ajustado, pois os Girls Names levam a cabo uma operação de cosmética, e apontam agora para uma outra era cronológica. Adensando o manto negro que paira sobre a música, apostam quase tudo na revisitação de algumas das sonoridades mais empedernidas dos alvores de oitentas. Abundam os teclados planantes, em sintonia com uns Joy Division, e os floreados das guitarras remetem amiúde para algumas aventuras dos The Cure. Com um som substancialmente mais límpido que no anterior registo, e sem se comprometerem propriamente com qualquer facção "proto-gótica", os Girls Names não apagam, contudo, traços do seu passado recente. As sonoridades de sessentas ainda evidenciam a sua marca, tanto nos ecos aplicados à voz de Cathal Cully, como no abuso da reverberação nas guitarras, mas principalmente na deriva psicadélica que os temas agora mais longos propiciam. Espécie de híbrido de diferentes tonalidades, The New Life acaba, no fim de contas, e ao contrário de muitos produtos do género, não soar assim tão derivativo como a descrição possa deixar supor. Talvez o deva às óptimas canções, bastante personalizadas, saídas da pena do vocalista e guitarrista, que na circunstância também produz.


"Pittura Infamante" [Tough Love / Slumberland, 2013]


"Hypnotic Regression" [Tough Love / Slumberland, 2013]

1 comentário:

O Puto disse...

Um dos meus preferidos deste início do ano. A Slumberland teve a cortesia de o colocar em audição prolongada no Soundcloud. Bendita por isso!