Parece quase uma inevitabilidade que, mais cedo ou mais tarde, as meninas do noise e do drone norte-americanos se emancipem e partam para outras sonoridades e outros públicos. Assim aconteceu com Bethany Cosentino que, enquanto rosto dos Best Coast, se tornou uma espécie de musa indie. Caminho semelhante seguiu Erika M. Anderson (EMA), que, embora mais não tão esteticamente afastada do seu passado, logrou alcançar públicos mais vastos. Antes delas já Liz Harris, com passado também ligado às sonoridades free-folk, editava com assinalável regularidade. Ao todo, e desde meados da década passada, sob o pseudónimo Grouper, esta californiana agora residente em Portland, já conta com duas mãos cheias de álbuns, alguns deles complementares de outros.
Do catálogo de Grouper destaca-se Dragging A Dead Deer Up A Hill (2008), talvez o seu disco mais acessível, no qual a voz se evidencia nas texturas drony que caracterizam o seu trabalho. É, consequentemente, um álbum com temas mais próximos da canção convencional. Da mesma altura da composição daquele, mas só agora gravados, datam os temas do novíssimo The Man Who Died In His Boat, este também um disco dado a canções dignas desse nome, embora geradoras de um torpor indutor dos sonhos. Às nuvens densas das programações drone, Liz Harris adiciona a guitarra acústica repetitiva e a voz de sereia, ora enevoada, ora cristalina. Apesar da fragilidade dos elementos, e do pendor dreamy da coisa, as canções são pesadas, quase com uma aura funérea que toca no lado mais negro da nosso íntimo. Daí resulta um disco com tanto de misterioso como apaixonante, seguramente dos melhores que ouviremos este ano. Consta que o título, ponto de partida para os onze temas que o integram, seja inspirado por acontecimentos que marcaram a infância de Liz Harris. Aliás, as memórias da tenra idade são presença assídua no sua obra como Grouper, algo que se reflecte também nas letras, muitas vezes próximas das lenga-lengas infantis.
"Vital" [Kranky, 2013]
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