KEVIN AYERS
[1944-2013]
Se nas últimas semanas este "tasco" se começava a assemelhar a uma página de necrologia, a partir de hoje assume-se em definitivo como tal. Hoje cumpre-me registar mais uma triste notícia, concretamente a morte de Kevin Ayers, ocorrida anteontem, dia 18, alegadamente durante o sono na sua casa em França, país onde vivia há alguns anos e pelo qual tinha especial afeição. Símbolo do psicadelismo britânico, e um dos excêntricos do universo pop/rock, Ayers era dono de uma voz única, profundamente britânica e carregada de perversão, tal como a descrevia o radialista John Peel, seu amigo e um dos seus grandes entusiastas.
O início do percurso musical aconteceu ainda em meados de sessentas, na companhia de Robert Wyatt e de Hugh Hopper nos The Wilde Flowers, uma banda que, apesar de não deixar obra registada, desempenha um papel fulcral na chamada Canterbury scene. Tudo porque Ayers e Wyatt, ambos como vocalistas, o último também como baterista, foram fundadores dos lendários Soft Machine, o nome maior da "cena". Hopper juntar-se-ia posteriormente ao colectivo. Com uma forte componente jazzística, somada à deriva psicadélica, a música dos Soft Machine acabaria por deixar vasta descendência, apesar da fraca visibilidade comercial. O contributo de Ayers na obra gravada resume-se ao primeiro álbum, homónimo, registado a meio de uma tour de suporte a Jimi Hendrix. A rescisão foi amigável, não deixando Ayers de se queixar da crescente complexidade que a música ia assumindo. Adepto da boémia, foi viver para Ibiza, na palavras do próprio, apenas para gozar a vida.
O afastamento da música seria breve, já que no retiro espanhol aconteceu o reencontro com Daevid Allen, também ele um ex-Soft Machine, e do reencontro gerou-se o clique para a composição de Joy Of A Toy (1969), o primeiro álbum de Ayers a solo e talvez o mais celebrado. Com a constante promessa de ascender ao estrelato, nos anos seguintes gravou álbuns com uma frequência assinalável. Como convidados, e para além de velhos camaradas dos Soft Machine, contou com a presença de gente como Syd Barrett, Mike Oldfield ou Elton John. No currículo tem ainda um disco (ao vivo) juntamente com Nico, John Cale e Brian Eno. Ao todo deixou mais de dezena e meia de álbuns, sempre com aceitável nível qualitativo. O último data de 2007 e chama-se The Unfairground. Neste, Ayers contou com a colaboração de toda uma nova geração de entusiastas e seguidores, entre eles Norman Blake (Teenage Fanclub), Euros Childs (Gorky's Zygotic Mynci), ou Julian Koster (Neutral Milk Hotel). Curiosamente, foi um dos trabalhos mais bem sucedidos comercialmente da sua carreira.
[Probe, 1968]
[Harvest, 1969]
[LO-MAX, 2007]
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