"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

R.I.P.



KEVIN AYERS
[1944-2013]

Se nas últimas semanas este "tasco" se começava a assemelhar a uma página de necrologia, a partir de hoje assume-se em definitivo como tal. Hoje cumpre-me registar mais uma triste notícia, concretamente a morte de Kevin Ayers, ocorrida anteontem, dia 18, alegadamente durante o sono na sua casa em França, país onde vivia há alguns anos e pelo qual tinha especial afeição. Símbolo do psicadelismo britânico, e um dos excêntricos do universo pop/rock, Ayers era dono de uma voz única, profundamente britânica e carregada de perversão, tal como a descrevia o radialista John Peel, seu amigo e um dos seus grandes entusiastas.

O início do percurso musical aconteceu ainda em meados de sessentas, na companhia de Robert Wyatt e de Hugh Hopper nos The Wilde Flowers, uma banda que, apesar de não deixar obra registada, desempenha um papel fulcral na chamada Canterbury scene. Tudo porque Ayers e Wyatt, ambos como vocalistas, o último também como baterista, foram fundadores dos lendários Soft Machine, o nome maior da "cena". Hopper juntar-se-ia posteriormente ao colectivo. Com uma forte componente jazzística, somada à deriva psicadélica, a música dos Soft Machine acabaria por deixar vasta descendência, apesar da fraca visibilidade comercial. O contributo de Ayers na obra gravada resume-se ao primeiro álbum, homónimo, registado a meio de uma tour de suporte a Jimi Hendrix. A rescisão foi amigável, não deixando Ayers de se queixar da crescente complexidade que a música ia assumindo. Adepto da boémia, foi viver para Ibiza, na palavras do próprio, apenas para gozar a vida.

O afastamento da música seria breve, já que no retiro espanhol aconteceu o reencontro com Daevid Allen, também ele um ex-Soft Machine, e do reencontro gerou-se o clique para a composição de Joy Of A Toy (1969), o primeiro álbum de Ayers a solo e talvez o mais celebrado. Com a constante promessa de ascender ao estrelato, nos anos seguintes gravou álbuns com uma frequência assinalável. Como convidados, e para além de velhos camaradas dos Soft Machine, contou com a presença de gente como Syd Barrett, Mike Oldfield ou Elton John. No currículo tem ainda um disco (ao vivo) juntamente com Nico, John Cale e Brian Eno. Ao todo deixou mais de dezena e meia de álbuns, sempre com aceitável nível qualitativo. O último data de 2007 e chama-se The Unfairground. Neste, Ayers contou com a colaboração de toda uma nova geração de entusiastas e seguidores, entre eles Norman Blake (Teenage Fanclub), Euros Childs (Gorky's Zygotic Mynci), ou Julian Koster (Neutral Milk Hotel). Curiosamente, foi um dos trabalhos mais bem sucedidos comercialmente da sua carreira.

Why Are We Sleeping? by Soft Machine on Grooveshark
[Probe, 1968] 

Song for Insane Times by Kevin Ayers on Grooveshark
[Harvest, 1969] 
 
Cold Shoulder by Kevin Ayers on Grooveshark
[LO-MAX, 2007]

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