METZ + Cangarra @ Galeria Zé dos Bois, 13/02/2013
Para quem, como eu, nunca teve a oportunidade de assistir a um concerto dos Nirvana pós-1991, a ZdB proporcionou ontem algo ainda mais exclusivo: os Nirvana de 1989/90. E ainda os Big Black com uns pozinhos de Jesus Lizard e de algum post-punk britânico. Referir assim, de forma tão descarada as influências dos METZ, não deve ser entendido como pejorativo. Isto porque o trio canadiano assimila tais referências com tal honestidade e tal brio que só pode ser saudado pelos adeptos de uma boa chinfrineira à maneira de antigamente. É esse o entendimento da turba que na noite passada, mesmo a meio de uma semana de trabalho, encheu o "aquário" para uma sessão de fustigamento noise-rock. Contam-nos que, na véspera, já a cidade Invicta proporcionara idêntica recepção. Feito mais notável se atentarmos que o interesse em torno dos METZ não é fruto dos fazedores de "fenómenos" institucionalizados, apenas algo derivado da curiosidade de quem assume a música como uma paixão verdadeira independentemente de modas e tendências.
Num concerto curto a rondar os 45 minutos de duração, penso que nenhum dos presentes se terá sentido defraudado. O tempo, que incluiu um pequeno encore com guitarra emprestada depois dos maus tratos às cordas durante o "período regulamentar", foi o bastante para a banda desfilar a totalidade do seu bombástico álbum de estreia. Preservando a energia até ao último fôlego, o trio, e em particular o vocalista/guitarrista Alex Edkins, não parou de incitar à dança e à libertação de suor. O público respondeu à altura, inclusive com pernas pelo ar, a voar sobre as cabeças. Não obstante algumas queixas quanto ao volume do som, algo abaixo do que era expectável da audição do disco e de algumas crónicas de concertos avulsas, penso nada haver a apontar ao técnico responsável, que proporcionou a equalização perfeita para uma sala com as características da ZdB. Da massa sonora vinda do palco, com muita distorção e berraria, sobressai a principal qualidade dos METZ, uma unicidade entre a guitarra, o baixo, e a bateria, como se se tratasse de um monstro tricéfalo que arrasa tudo em seu redor.
A aquecer o ambiente estiveram os 'tugas Cangarra, dupla que integra metade dos Lobster, banda que é uma verdadeira instituição do underground nacional que tem espalhado as suas sementes - leia-se dois elementos - por uma miríade de projectos. Nestes caso, o envolvido é o baterista Ricardo Martins, com uma proposta cujas semelhanças com a banda-mãe vão muito para além do díptico guitarra-bateria. No entanto, se estes fossem os Lobster, já os teríamos num estágio avançado daquele noise em bruto que os notabilizou. Neste projecto, e a avaliar pela única (e longa) peça apresentada, a "viagem" sónica e mental é uma prioridade. O soco no estômago deu lugar a algo mais ponderado, diria até mais cerebral. Há, portanto, passagens por diferentes ambiências, desde o noise tecnicista, ao psych mais pesadão. Algumas ideias talvez ainda careçam de limagem, mas fica da prestação dos Cangarra a memória de terem cumprido aquilo a que se lhes pedia: um aquecimento ajustado para uma noite de chinfrim que ecoará nestes tímpanos por mais alguns dias.
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