"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Singles Bar #82









SPACEMEN 3
Revolution
[Fire, 1988]




No activo desde 1982, ainda na adolescência dos seus dois principais conspiradores - Pete "Sonic Boom" Kember e Jason "Spaceman" Pierce - os Spacemen 3 estiveram na vanguarda da recuperação das sonoridades mais marginais e transgressoras do rock de sessentas e setentas. Partindo da obsessão da dupla por bandas como Suicide, The Velvet Underground, The Stooges, ou The 13th Floor Elevators, entre tantas outras, desenvolveram uma identidade própria, pondo o psicadelismo de novo na ordem do dia e deixando uma vasta legião de seguidores, hoje mais activa que nunca. As referências narcóticas não se restringiam à música e às letras, eram antes um modo de vida, perfeitamente explícito no quase mote da banda: Taking drugs to make music to take drugs to.

Nesses tempos de inocência e aprendizagem, os Spacemen 3 ainda estavam longe de atingir o zénite criativo, a expressão máxima de uma sonoridade única a partir das referências perfeitamente identificáveis, algo que ocorreu com os álbuns The Perfect Prescription (1987) e Playing With Fire (1989). A vida no fio da navalha, e as tensões daí adjacentes entre os dois compositores, fariam com que o segundo fosse o último álbum dos Spacemen 3 concebido por Kember e Pierce em conjunto. Em 1991, já em desagregação, editaram ainda Recurring, este com os temas da autoria de cada um separado a preencher cada um dos lados do LP. Antes de Playing With Fire, e em jeito de aperitivo, a banda deu a conhecer a mundo o seu tema definitivo, uma fórmula cristalizada num monolito de seis minutos. Com efeito, "Revolution" faz da repetição um trunfo. Acompanhados de uma discreta secção rítmica, Kember e Pierce repetem ad eternum um riff cortante que, por incrível que pareça, se torna mais opressivo e quase paranóico à medida que o tema se desenrola. Estamos perante uma revisitação do espírito mais experimentalista de uns Velvet Underground já libertos da amarra Andy Warhol, devidamente reactualizado para uma geração pós-punk. A letra, e ao contrário do que normalmente acontecia, não é um abstraccionismo derivado dos hábitos narcóticos. É antes um manifesto de intenções, os Spacemen 3 na sua faceta sócio-política e tão virulentos nas palavras quanto nas guitarras.

No lado B do single que apresentou "Revolution", a banda opta por duas versões, um hábito ainda frequente nos projectos subsequentes, tanto de Pete Kember como de Jason Pierce. A primeira é uma reapropriação de "Che", uma das várias "homenagens" aos Suicide que retém a atmosfera planante do original, se bem que com um calor emocional que não está presente na frieza inumana do original. A outra é uma interpretação do tradicional "May The Circle Be Unbroken", com os necessários elementos folksy mas suficientemente lisérgico, à boa maneira dos Spacemen 3.


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