"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Ao vivo #57


Faust @ Teatro Maria Matos, 06/10/2010

Antes de mais convém esclarecer que a formação dos Faust que anteontem aterrou no palco do Maria Matos, e que integra os fundadores Werner "Zappi" Diermaier e Jean-Hervé Péron, é aquela que hoje é legitimada como representante da lenda krautrock dos idos de setenta. Sim, porque, paralelamente e sem quaisquer conflitos, Jochen Irmler lidera outro colectivo com a mesma designação. A acompanhar a dupla de históricos, o casal James Johnston (sim, o dos Gallon Drunk) e Geraldine Swayne (manipuladora electrónica e também pintora que teve ocasião de mostrar a sua arte) são o sangue novo que catapulta a radicalidade dos veteranos para níveis pouco vistos por palcos lusos.
Catalogar a música dos Faust simplesmente como krautrock (eles, tal como outros congéneres, sempre rejeitaram tal rótulo) é simplesmente redutor. Quem acorreu ao MM, pôde constatar in loco um dos mais subversivos espectáculos aparentados de rock à face da Terra. Para o caos controlado, a partir de uma matriz rock, convergem linguagens como o free-jazz, o noise desenfreado, a electrónica mais radical, o industrialismo levado à letra pelo recurso a betoneiras, berbequins, lixadoras, e chapas de metal, e um sentido libertário que não se deixa prender a estereótipos estilísticos. Mas um concerto dos Faust é ainda pluridisciplinar. Pelo menos na quarta-feira, a juntar ao desafio desta música revolta, houve ainda demonstrações de pintura e de artes performativas. Jean-Hervé é o mestre de cerimónias. Ele canta, berra, declama panfletos sócio-políticos, provoca, desafia, e ainda manobra as referidas máquinas.  Por complemento, na sua discrição, o imponente Zappi é o barómetro que pauta todo o andamento com a batida de uma precisão maquinal. Neste festim incatalogável, a dupla mais jovem assume um papel que vai muito além do de meros figurantes. Ele, mais na guitarra mas também nos teclados, é o rocker de serviço e o elo a alguma normalidade que nos prende à superfície; ela, mais na manipulação sonora mas também na guitarra, exibe rebelia equiparável à dos mestres. Ao fim de quase duas horas, com direito a dedicatórias pouco ortodoxas a Bob Dylan, sobrevive-se ao confronto com os sentidos saciados em pleno. De tal forma que o  disparatado começo com o declamador Tiago Gomes, misto de Luxúria Canibal (na verborreia) e La Ciccone da fase cowgirl (nos adereços), estava já alojado nas memórias distantes.

4 comentários:

strange quark disse...

Aparte os devaneios metalomecânicos e de construção civil (pronto, não seria bem um concerto, mas mais uma performance, mas não é coisa que me entusiasme por aí além), foi um excelente concerto. Valeu também pela subversão e aquele ritmo da bateria e a leadership da guitarra foi imparável.

Achaste o declamador parecido com a Madonna? Eu diria que pelo porte e cabeleira, nos primeiros momentos que o vislumbrei ainda continuei a pensar no Adolfo. Mas faltava-lhe a inconfundível pronúncia do Norte.

Um abraço

M.A. disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
M.A. disse...

Parecido com a Madonna? Não! Foi o tal adereço na cabeça que me fez lembrar essa dama.

Abraço.

strange quark disse...

Haha! Eu sei, mas estava só a entrar contigo por causa da comparação algo improvável... a mim nunca me teria ocorrido. ;)

Um abraço