"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

domingo, 17 de outubro de 2010

Perto dos deuses

















Quase três anos volvidos desde o desequilibrado Do You Like Rock Music? que, talvez pela partilha de produtor, ostentava vários exemplares da previsibilidade épica de uns Arcade Fire, os British Sea Power parecem apostados em retomar o trilho como um das mais peculiares e especiais propostas musicais surgidas no Reino Unido do novo século. As primeiras semanas do próximo ano prometem novo álbum, mas já lhes podemos tomar o pulso pelo costumeiro EP de preparação das hostes. Pelo menos na sua edição em CD, o novíssimo Zeus atira-se para uns generosos e invulgares 43 minutos de duração, pelo que, falar em EP é apenas fazer a vontade a banda e editora. Designações de formatos à parte, o que interessa é que, em toda a sua extensão, Zeus dá o tempo dos amantes da pop mais desafiante como bem empregue. O tema-título, a pedir a catalogação art-pop, é um longo jogo de inflexões com batidas marciais, guitarras ora em cascata, ora em fúria, e uma letra inevitavelmente ambígua com as habituais referências históricas. "Cleaning Out The Rooms", "Bear" e o extra "Retreat" são as semi-baladas progressivas e inevitavelmente nostálgicas que mais ninguém faz como os BSP. Prenhe de descargas eléctricas e com uma vocalização granulosa e ensandecida, "Can We Do It" faz-nos recuar até aos números mais descarnados dos primórdios da banda. "Pardon My Friends" é um curto trecho planante de fragilidade aparente. A grande surpresa fica a cargo "kW-h", com a voz vocoderizada, os riffs desconexos, e a bateria ribombante, a atirarem a coisa para os meandros do puro devaneio que os Super Furry Animals tão bem conhecem
O mais ecléctico de todos os trabalhos da banda, Zeus é também a evidência de uns BSP conscientes da sua valia para poderem correr grandes riscos sem que isso implique perda de sobriedade. Mesmo tendo em conta que, a espaços, fique a sensação que a mente dos quatro músicos vagueia muitos quilómetros acima da superfície habitada pelos comuns terrenos.


"Zeus (edit)" [Rough Trade, 2010]

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