Nina Nastasia @ Galeria Zé dos Bois, 01/10/2010
Os seguidores mais acérrimos de Steve Albini estranharão o apadrinhamento deste a Nina Nastasia, a cantautora norte-americana (de origem russa) que está nas antípodas estéticas do guru underground. Pela parte que me toca, não vejo tal relação de cumplicidade como inusitada, simplesmente porque ela imprime à sua obra gravada, que já vai na meia dúzia de álbuns, o despojamento que ele promove desde há décadas. Da cantora fechada e porta-voz de um profundo negrume tipicamente feminino, a actual Nina é apenas uma miragem. Como demonstra o recente Outlaster, Nina deixa agora fluir livremente a veia folksy, com canções progressivamente mais despidas mas, paradoxalmente, detentoras de arranjos mais complexos. Obviamente, é este o disco que serve uma boa parte da ementa do concerto da ZdB, pelo que, ficam evidentes não só as premissas já referidas, como o intenso treino que a sua voz agora revela. Capaz de ir do sussurro ao mais expressivo lamento, a voz surge embalada apenas pela guitarra acústica e um violino arranhado de forma pouco convencional. O tratamento técnico que é dado ao microfone tira algum lustro mas, em compensação, liberta um travo vintage que encontra poiso natural nestas canções que, embora mais arejadas que no passado, versam ainda os muitos desencontros amorosos. Nas incursões pelo repertório mais antigo, destaca-se o "velhinho" "In The Graveyard", apenas voz cristalina e violino, mas capaz de deixar a respiração em suspenso.
Contra as minhas previsões, a sala da ZdB não recebeu Nina Nastasia com uma das suas audiências mais numerosas. Em compensação, os presentes comportaram-se de forma raramente ordeira, fazendo por merecer um pouco mais de uma hora de música no seu estado mais puro, intercalada, nos intervalos entre canções, por uma série de tiradas tímidas mas de um fino recorte humorístico.
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