WILD NOTHING _ "Cloudbusting" [Captured Tracks, 2010]
[Original: Kate Bush (1985)]
Muita boa gente aí desse lado lembrará com saudade a televisão de oitentas, ainda não rendida à ditadura da publicidade. Durante as inúmeras falhas técnicas, ou no intervalo dos raros jogos de futebol, era comum exibirem-se videoclipes musicais. Como a variedade não abundava, guardo na memória o incontável número de vezes que vi Kate Bush, na pele de um rapazito, empurrando uma geringonça encosta acima. Sei agora que o senhor que a acompanha no referido vídeo é o actor Donald Sutherland. Ele representa o psiquiatra autro-americano Wilhelm Reich, inventor da máquina a que o título de "Cloudbusting" alude, segundo o próprio, um gerador de chuva. A América da caça-às-bruxas, pouco tolerante a tão estranhas experiências, aprisionou Reich, que acabaria por falecer ainda no cárcere. Kate Bush representa o filho Peter, autor da obra A Book Of Dreams, em memória do pai, no qual "Cloudbusting" se inspira. Em traços gerais, podemos dizer que a canção descreve uma relação especial entre um pai e um filho, bem como o sentimento de uma criança perante a crueldade humana a actuar sobre um ente querido. É um dos temas mais afamados de Bush, e um dos muitos exemplos das suas capacidades vocais. Tanto a exuberância da voz, quanto o ritmo quebrado, remetem para a tradição musical inglesa, capaz de recuar até eras medievais. Como quase sempre em Kate Bush, "Cloudbusting" está carregado de um misticismo tão capaz de gerar paixões assolapadas, como ódios de estimação. Curioso é reparar que esta faceta exótica parece ter estado "fora de moda" durante décadas, mas encontra agora reflexo num sem número de cantoras/compositoras da nova geração.
Proposta significativamente diversa, desde logo pela contenção que roça a tmidez, tem Jack Tatum, o nerdezito seguidor dos princípios DIY que se esconde sob a designação Wild Nothing. Típico produto de gravação caseira, esta releitura de "Cloudbusting" sugere reclusão, sonho, e até ócio, numa cadência próxima da do original mas notoriamente mais lenta. Ao suave torpor e às atmosferas densas, Tatum adiciona uma pitada de mistério que faz a ponte com a canção original.
2 comentários:
obrigado pelo recuerdo do video da KATE publiquei no facebook e agradeci MA e coloquei o link do blog é must
Eu é que agradeço, Mr./Miss Bigstroke. Volte sempre!
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