"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

10 anos é muito tempo #24








THE TWILIGHT SINGERS
Twilight As Played By The Twilight Singers
[Columbia, 2000]




Hoje uma banda de corpo inteiro, os Twilght Singers foram primeiramente o projecto muito pessoal de Greg Dulli, o escape na superação do fim inglório dos Afghan Whigs. Nesta fase, Dulli abre mão da rudeza rock da banda anterior e, corajoso, cede em definitivo ao acetinado da soul, algo que já aflorava por entre o turbilhão de guitarras nos Whighs. Nesta missão de risco elevado contou com a algo inesperada co-produção dos Fila Brazillia, nome intimamente ligado às linguagens dançantes e às artes da remistura. O trabalho da dupla britânica nota-se não só na introdução das batidas sincopadas nos temas mais ritmados, como na criação de texturas mais atmosféricas, sobretudo na parte intermédia de Twilight. Nas vozes, Dulli socorre-se da apoio dos velhos amigos Harold "Happy" Chichester, membro "honorário" dos Whigs, e o enigmático Shawn Smith, músico de Seattle com os Brad, os Satchel, e os Pigeonhed no currículo. O primeiro oferece um timbre caloroso, enquanto Smith é reconhecido pelo falsetto exuberante, ambos contraponto ao tom granuloso, mas agora contido, de Greg Dulli. Em "Clyde", um dos pontos altos de Twilight, os três criam um jogo de contrastes paradoxalmente harmonioso. Num disco que se caracteriza pela coesão, a valer pelo todo, merecem igualmente destaque "The Twilite Kid" e "Twilight", estrategicamente colocados no início e no fim do disco, como que a sugerir uma obra conceptual. Os conceitos, sabem-no os conhecedores da escrita dulliana, são os mesmos de sempre: morte, desejo, culpa e redenção. Lá para meio, Twilight ganha uma densidade atmosférica, quase bucólica. É nesta ponto que encontramos o atípico "Verti-Marte", tema no qual o afamado misógino Greg Dulli dá o protagonismo ao sexo feminino. Elas expressam-se através de vinhetas que sugerem amores em crise, com a língua francesa a conferir uma dose de charme e os exuberantes oowah-oowahs (masculinos) carregados de líbido. O efeito provocado é quase cinemático. Cinema negro, pois claro.
Com uma serenidade que esconde histórias com finais pouco felizes, Twilight flui elegantemente com as suas diferentes roupagens estéticas, revelando-se extremamente apropriado para os horários crespusculares que o título sugere. Na formação do meu gosto musical está entre as primeiras obras que despertaram um interesse pela soul que não pára de crescer de dia para dia.


"The Twilite Kid"


"Clyde"


"Verti-Marte"

4 comentários:

hg disse...

Deste lado já se contam os dias para o 2 de Novembro.

M.A. disse...

Também por cá. Até porque a outra vinda, com os Gutter Twins, não me encheu plenamente as medidas.

hg disse...

Eu gosei bastante desse concerto. Talvez culpa do entusiasmo de ver ali tão perto o Dulli e poder finalmente ouvir a sua voz amplificada ao vivo e a cores (embora no caso das cores com pouca variação cromática). Mas por este próximo estou ainda mais entusiasmado. Conto, literalmente, os dias.

hg disse...

gostei* (e não gosei ou gozei... embora gozar também pudesse ter semelhante significado)