LES SAVY FAV _ Root For Ruin [Frenchkiss, 2010]
Há bandas que ziguezagueiam ao sabor das correntes. E há outras que, com pequenas nuances, seguem fiéis aos seus princípios. É este o caso dos Les Savy Fav, situados naquela zona nebulosa onde a angularidade post-punk encontra a frontalidade post-hardcore. O que quer dizer que o novo Root For Ruin é mais um melting pot surpreendentemente pacífico de caos e ritmo. Se em palco o frontman e entertainer Tim Harrington chama a si todo o protagonismo com as performances indescritíveis e irrepetíveis, em disco os LSF são uma democracia, com os restantes membros a oferecerem o groove que castiga o corpo. Sucede que, desta feita, a receita parece tão polida que ofusca a saudável insanidade de outros, e melhores tempos. [7]
THE DELTA MIRROR _ Machines That Listen [Lefse, 2010]
À falta de outras virtudes, o disco de estreia desta banda californiana guia-se por um estranho conceito: cada uma das nove faixas tem como cenário uma diferente sala de um hospital. Se já estão a estabelecer paralelismos com o último dos superlativos The Antlers desenganem-se - faltam aos Delta Mirror canções e "sentido de guião" para ombrear com aqueles. Machines... quer ser dramático e grandiloquente, mas não passa de uma sucessão de demonstrações de um frieza poseur e de um miserabilismo caricatural. Quando não envereda pela via tendencialmente mais electrónica de algum nu-gaze descartável, evoca levemente a memória da austeridade que nos encantou nos Interpol dos primórdios, embora envolta numa artificialidade robótica. Com as crónicas que dão conta do eminente revivalismo dark-wave, avento a hipótese de haver por aqui um potencial objecto de culto. A ver vamos... [4]
WOMEN _ Public Strain [Jagjaguwar, 2010]
Se na estreia homónima os canadianos Women separavam as águas entre rugosidade noisy e pureza pop de travo psicadélico, agora têm a coragem e a destreza para combinar esses elementos à partida antagónicos no mesma tema. Novamente sob a batuta de Chad VanGaalen, Public Strain é um disco que se revela com vagar, à medida que a cortina de nevoeiro se dissipa e revela as melodias catchy no meio do caos e as sabotagens experimentalistas no meio da harmonia. A produção inteligente envolve cada tema numa reverberação vintage que, sem outras referências, nega a possibilidade de os situar temporalmente, algo que no universo pop-rock se mostra tarefa cada vez mais árdua. [8]
FILM SCHOOL _ Fission [Hi-Speed Soul, 2010]
Primeiramente revelados como adeptos de uma nebulosidade idílica filiada nas correntes
shoegazing, os californianos Film School expandem agora a paleta sonora para territórios mais coloridos e apelativos às massas. Embora os Stereolab de outras eras ainda espreitem a cada esquina, e os ambientes lisérgicos ainda encontrem lugar nos temas com voz feminina,
Fission deixa-se levar para um híbrido aparentado de muitos sub-produtos habitualmente designados de neo-
post-punk. Com a primazia dos teclados e das baterias electrónicas, há por aqui material de trabalho para remisturadores capazes de subtrair algumas sombras e fazer de uma mão cheia de temas potenciais acepipes para serões dançantes. Muito pouco para quem, de uma penada, quer soar a New Order, Bloc Party e... Temper Trap...
[6]
SUPERCHUNK _ Majesty Shredding [Merge, 2010]
Nove anos volvidos desde o último longa-duração, aquela fome de juventude que o par de
EPs recentes tinham agudizado é finalmente saciada. Os anos passam, as tendências também, e para os Superchunk é sempre o Verão dos nossos dezoito anos. Mas quem é que quer crescer quando tem para se oferecer um bem urdido conjunto de temas do habitual
punk-power-pop povoado por guitarras rasgadinhas e
whoa-oh-ohs a surgirem como cogumelos depois das primeiras chuvas de Outono? Do alto dos seus quarenta e tais, e com aquela voz de puto reguila, Mac McCaughan parece debater-se com a problemática da preservação da pureza juvenil à medida que os anos avançam. A atestar por este pequeno tratado da escrita de canções, arrisco a dizer que, no caso, a idade é apenas uma questão de pormenor.
[8,5]