"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Discos pe(r)didos #19


















DINOSAUR JR.
You're Living All Over Me
[SST, 1987]

Do underground norte-americano de meados de oitenta brotaram muitas das pistas para o futuro da música dita alternativa. De entre um lote de discos marcantes lançados numa era altamente profícua, sobressai este You're Living All Over Me. Algo que não deixa de surpreender se tivermos em conta tratar-se de um disco de baixo custo, gerado por três putos a quem sobrava em ideias o que faltava em experiência: os fabulosos Dinosaur Jr.!
J Mascis, guitarrista/vocalista e líder incontestado do trio, disse em ocasiões futuras que se sentiu motivado a aprender guitarra para puder tocar os riffs de que realmente gostava. Por conseguinte, em You're Living... consumam-se muitas das intenções afloradas no disco de estreia (Dinosaur, de 1985): ruído amplificado incapaz de esconder um apelo pela melodia, e solos de guitarra no lugar dos refrões, subvertendo por completo o conceito de "canção".
Paradigma do "fórmula dinossáurica", que deixou descendência (já lá vamos...), será provavelmente "Sludgefest" nos seus mais de cinco minutos de alterações de ritmo, em que os diversos momentos de calma redundam em outras tantas explosões de distorção. Em registo diametralmente oposto, a quase acústica "In A Jar" é igualmente momento inspirado. Neste tema, fica patente uma certa devoção por Neil Young, uma das poucas influências assumidas por Mascis.
As letras, reflexo de um certo angst juvenil e invariavelmente cantadas num lamento, por contraponto à fúria post-hardcore vigente, permitem diferentes interpretações, roçando os limites do surreal. Tome-se por exemplo "Little Fury Things", a deliciosa faixa de abertura em que Lee Ranaldo (dos Sonic Youth) dá uma preciosa ajuda: o destinatário dos "recados" de Mascis é um coelho... que poderá muito bem ser uma miúda... ou nem uma coisa nem outra...
Reservando para si a parte de leão nas nove faixas do disco, o líder "permite" ainda que Lou Barlow dê um ar da sua graça nos dois temas finais. Se por um lado "Lose" segue a toada dominante, já o exercício lo-fi (com direito a ukelele e quatro minutos de devaneio de sons caseiros mais ou menos aleatórios) de "Poledo" é completamente atípico, lançando pistas para aquilo que este baixista de créditos firmados viria a desenvolver nos Sebadoh.
Depois de You're Living... nada seria como dantes. Se não acreditam, perguntem aos Lemonheads, aos Teenage Fanclub, aos Nirvana, ou até aos "rodados" Sonic Youth. Estes últimos retirariam daqui muitos ensinamentos para o incontornável Daydream Nation, disco lançado no ano seguinte e responsável pela afirmação definitiva de uma identidade. Mas isso é outra História...

"Little Fury Things"

2 comentários:

Shumway disse...

Absolutamente fundamentais para a definição do indie-guitar-rock.
Também já andava a pensar escrever algo sobre eles. Fica para daqui a algum tempo :-)

Abraço

eduardo disse...

Embora não seja o meu preferido, aí a escolha recai sobre o "Bug", não deixa de ser um belo e influente disco.