"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

segunda-feira, 30 de junho de 2008

Singles Bar #21


















MISSION OF BURMA
Academy Fight Song
[Ace of Hearts, 1980]

The halls smell like piss
The rooms are underlit
Still it must be nice
You're such a perfect fit
What's that I hear?
The sound of marching feet
It has a strange allure
It has a strange... allure

Stay just as far from me
As me from you
Make sure that you are sure
Of everything I do
'Cause I'm not not not not not not not not
Your academy
Your academy

Sem o saberem, muitos conhecerão os Mission of Burma (MoB) de "That's When I Reach For My Revolver", canção já reinterpretada por gente como Graham Coxon ou Moby. No entanto, poucos serão os têm a noção do real peso da primeira vida desta banda de Boston (os MoB reagruparam-se em 2002) em posteriores desenvolvimentos da dita música alternativa. Michael Azerrad, no livro Our Band Could Be Your Life, vai ao ponto lhes atribuir o pontapé de saída do indie rock. Exagero? Talvez... Mas convém referir que a lista daqueles que se confessaram seus seguidores compreende nomes como R.E.M., Yo La Tengo, Fugazi, Nirvana, ou Sonic Youth, só para citar alguns. E isto, tendo deixado como legado desta primeira existência nada mais do que um álbum, um EP e dois singles.
Deram-se a conhecer ao mundo precisamente com este Academy Fight Song, um claro manifesto de intenções: post-punk de contornos arty, seco, cerebral e directo, na linha de bandas como os Gang of Four e os Wire. A letra do tema que preenche o lado A, qual canção de protesto "inteligente", aborda a temática da vida militar com muito sarcasmo. No lado B encontramos "Max Ernst" que, com as mesmas ferramentas do tema principal, lamenta a incompreensão de que foi alvo o artista plástico alemão que dá nome à canção, figura de referência dos movimentos dadaísta e surrealista.
Aos potenciais interessados lembro que estas canções, e todo o restante acervo da primeira encarnação dos MoB, estão incluídas no recente pacote de reedições da Matador Records.

domingo, 29 de junho de 2008

Baby, I'm bored
















Ainda não está 100% confirmado, mas parece que há fortes probabilidades de Evan Dando e sus muchachos aterrarem em Paredes de Coura a 3 de Agosto próximo.
F***-se! Logo este ano que já tenho tudo programado para comparecer no Alto Minho apenas durante o 1.º de Agosto, dia em que pretendo voar sobre os festivaleiros durante "Swastika Eyes".
Será que não dava para para retocarem o cartaz? Sei lá... estava a pensar numa troca com os ... hhmmmm... Editors...

The Lemonheads "My Drug Buddy" [Atlantic, 1992]

P.S.: Ainda agora, o televisor sintonizado na MTV2 aqui mesmo ao lado passava o vídeo de "Mrs. Robinson". Um sinal do Além?!

Ao vivo #21, ou o Amor é um gajo estranho, ou Arriba! Avanti Pop Dell' Arte!














Pop Dell' Arte @ ZdB, 28/06/2008

Compreensivelmente, e à semelhança de uma imensa minoria, não tive a sorte de ver os Pop Dell' Arte (PD'A) em concerto na sua fase quase mítica, vai para uns bons vinte anos. Depois de uma série de irritantes cancelamentos sucessivos, João Peste & Cia. regressariam em força em Julho de 2005 na sala do Fórum Lisboa. Seria essa a primeira vez que tinha o ensejo de ver in vivo os PD'A.
Se aquele excelente concerto de há três anos tinha sido uma espécie de super-produção, a consagração da Fénix renascida, ontem à noite aconteceu aquilo que imagino ser a reconstituição das míticas prestações do tempo em que os PD'A eram os maiores agitadores da pop made in Portugal. O carácter informal, o alinhamento tipo best of, e o ambiente criado pela assistência mais "boa onda" que jamais vi num concerto para isso contribuíram.
O espectáculo propriamente dito, que ultrapassou largamente a hora e meia de duração, dividiu-se em duas partes distintas: uma primeira, em jeito de aquecimento, com alguns temas mais introspectivos, nos quais se destaca o cunho performativo de Peste; e uma segunda reservada a um sem número de "clássicos" mais ritmados que puseram toda a gente a dançar, elevando a temperatura do espaço exíguo do aquário da ZdB para perto dos 50ºC. Como será fácil de adivinhar, não faltaram "My Funny Ana Lana", "Querelle", "Sonhos Pop", ou "All You Need Is Money". Já em encore, lá viria finalmente "Zip Zap Woman" (insistentemente pedido desde o início da noite), "Esborre" e - surpresa, ou nem tanto - uma versão de "20th Century Boy" dos T.Rex.
Este concerto surge num período em que circulam rumores de um possível novo disco dos PD'A, o que, vindo de quem vem, é esperar para ver... Resta-nos acreditar que este Peste renascido ainda tenha um sonho ou dois...

sexta-feira, 27 de junho de 2008

Vantagens do exercício físico

Provenientes de Austin, os White Denim são já a quarta banda texana de que vos falo nos últimos dias. John Robinson, numa resenha publicada no último número da Uncut, sintetiza a música deste trio de forma curiosa: "provavelmente o retrato de Dorian Gray no sótão de James Murphy".
De facto, e à semelhança do maestro dos LCD Soundsystem, esta malta revela um inusitado engenho na conciliação de referências dentro de uma linguagem muito própria. No entanto, ao contrário daquele, os White Denim dispensam adornos que tornem o som mais atractivo. O resultado é uma maradice que exala um intenso a garagem.
Chamaram a atenção dos mais atentos com um surpreendente single no ano passado (v. vídeo mais abaixo). Agora, chega finalmente Workout Holiday, o debute em longa-duração que, aposto, dividirá opiniões. Mas, uma coisa é certa: depois de ouvir os White Denim, ninguém fica indiferente!

White Denim no MySpace


"Let's Talk About It" [Full Time Hobby, 2007]

quinta-feira, 26 de junho de 2008

Going blank again #23




















EXPERIMENTAL AIRCRAFT

Origem: Austin, Texas (US)
Período de actividade: 1997-
Influências: Slowdive, Mojave 3, Stereolab, The Cure, The Velvet Underground, Sonic Youth
A ouvir: Third Transmission: Meet Me On Echo Echo Terrace (Graveface, 2008)

MySpace

Em escuta #30


















THE BLACK ANGELS
Directions To See A Ghost
[Light In The Attic, 2008]

Quando se deu a conhecer, há coisa de dois anos, este combo texano foi, desde logo, motivo de júbilo por estas bandas. Traziam na bagagem Passover, álbum de estreia pungente e negro, com vista para o psicadelismo de finais de sessentas.
Ao primeiro contacto, sobressai no novo Directions To See A Ghost uma clara perda do poder de fogo do seu antecessor, sendo, neste particular, "You On The Run" a excepção. Não será por acaso que foi escolhido para tema de abertura. Dessa primeira audição fica também uma ligeira sensação de repetição, com os onze temas a soarem muito semelhantes entre si. Sensação essa que se desvanece à medida que, em escutas sucessivas, nos vamos deixando embrenhar na teia urdida pelas Black Angels, quais Jefferson Airplane sujeitos a uma dieta de Spacemen 3. A partir daqui, digo-vos, o efeito de Directions... é hipnótico.
Num disco compacto e homogéneo (não confundir com monótono), há ainda assim temas que sobressaem. É o caso de "Deer-Ree-Shee", grande surpresa ao introduzir a sitar (com solo e tudo!) no universo dos anjos negros. O final deste tema funde-se com o início de "Never/Ever", oito minutos e meio de tirar o fôlego: cântico tribal de início, a dar lugar ao duelo da guitarra com a drone machine, com uma bateria marcial a pautar o ritmo. Entre os pontos altos, destaquemos ainda o já citado tema inaugural. No extremo oposto, como momento relativamente falhado, está "Snake In The Grass", o tema de encerramento que, nos seus mais de dezasseis minutos de duração, estica demasiado a fórmula.
A voz de Alex Maas, no passado acusatória e inflamada, com recados mais ou menos óbvios ao ocupante da Casa Branca e obreiro da 2.ª Guerra do Golfo, surge agora "afogada" na instrumentação densa. Desta feita, as letras, mais difusas, abordam temas negros da construção da Nação Americana como os massacres dos nativos.
Não provocando o efeito surpresa do antecessor, entenda-se Directions... como uma variação sobre o mesmo tema, garantindo aos Black Angels a passagem com distinção na prova de fogo do segundo disco. Num terceiro fôlego, em que já não contarão com a drone machine de Jennifer Raines, que entretanto abandonou o barco, é legítimo que se lhes exijam outras direcções...

terça-feira, 24 de junho de 2008

Gralhas e aves marinhas

Foto: Mary Sledd

A origem dos Shearwater remonta à alvorada da corrente década, quando Jonathan Meiburg e Will Sheff, membros dos Okkervil River, sentiram a necessidade de criar um projecto paralelo para dar vazão a uma série de canções mais calmas que não encaixavam na sua banda principal. Dado o primeiro passo, cedo o primeiro assumiu esta empreitada a tempo inteiro, enquanto Sheff vai colaborando como pode nas horas vagas da cada vez mais carregada agenda ao leme dos Okkervil River.
Com Rook, o quinto álbum lançado recentemente, estreiam-se na respeitável Matador Records. Este disco sucede a Palo Santo (2006), responsável pela afirmação dos Shearwater como nome maior do cenário indie-folk. As dez delicadas canções que compõem Rook, reminiscentes de Tim Buckley, Leonard Cohen, ou Nick Drake, parecem prometer voos mais altos para a banda responsável por aquele que será, seguramente, um dos discos mais bonitos do ano.

Shearwater no MySpace

segunda-feira, 23 de junho de 2008

O fogo que não se apaga

















SEBADOH
Bubble And Scrape
[Sub Pop, 1993; Reedição: Domino, 2008]

Para além de nova música, que tem lançado em quantidade e qualidade no últimos quinze anos, a Domino Records tem nos últimos tempos desempenhado um especial papel no mercado das reedições, recuperando assim inúmeros tesouros há muito indisponíveis. Neste particular é compreensível que os Sebadoh tenham tratamento especial, ou não tivesse o trio de Boston motivado a fundação da editora londrina.
Com a edição comemorativa do 15.º aniversário deste compêndio lo-fi ("remastered to imperfect perfection", como se lê no autocolante da caixa do CD) fecha-se com chave-de-ouro a recuperação da primeira fase da vida dos Sebadoh, para muitos a mais criativa.
Gravado em condições paupérrimas, Bubble And Scrape (B&S) representa o amadurecimento de uma fórmula, i.e., a conjugação, qual carrossel esquizofrénico, das diferentes sensibilidades dos três compositores da banda: Lou Barlow, Eric Gaffney e Jason Loewenstein, com o primeiro a revelar-se um especialista na feitura de canções de amor de travo agridoce.
Como é costume nestas ocasiões, esta deluxe edition vem acrescida de inúmeros extras (quinze ao todo), expandindo-se até um total de 32 faixas num só disco, o que diz bem da duração média dos temas. Além disso, no booklet, cada uma dos músicos relata as suas memórias do período de gravação de B&S, com denominador comum nas tensões entre Barlow e Gaffney que levariam ao abandono deste último.
Ainda que não fosse o disco histórico que inegavelmente é, B&S seria sempre lembrado por esse assombro de tema com que abre e que nunca é demais recordar.


Pensamento positivo

A partir de hoje ficam a faltar apenas três semanas para o lançamento de Stay Positive, quarto álbum na carreira dos Hold Steady e digno sucessor de Boys And Girls In America (2006), aquele que é - repito - um dos mais fascinantes discos dos últimos anos.
Se o antecessor traçava um retrato romantizado e algo desencantado da juventude norte-americana, que bebe em excesso e se deita tarde, Stay Positive é uma espécie de sequela: os putos são agora adultos e o comprimido tomou o lugar da cerveja.
Uma vez mais é de realçar a mestria da escrita do frontman Craig Finn, que afasta qualquer hipótese de ironia contida no título, esclarecendo antes tratar-se do fechar de um ciclo, já que o primeiro disco dos Hold Steady (Almost Killed Me, de 2004) se iniciava com a linha "I started this band as a positive jam".

The Hold Steady no MySpace

domingo, 22 de junho de 2008

Let's celebrate the irony












Os Wombats são três putos de Liverpool que usam a música como meio de diversão. Nada de condenável. Sendo certo que não trazem nada de novo ao mundo, têm a seu favor uma característica que aprecio: um sentido de humor mordaz, como podem constatar mais abaixo.
Ontem à noite, no Incógnito, ao observar a reacção de efusiva de algumas pessoas aos primeiros acordes de um tema dos Joy Division, lembrei-me dos Wombats. Vá-se lá saber porquê...

The Wombats "Let's Dance To Joy Division" (14th Floor, 2007)

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Going blank again #22




















THE WARLOCKS

Origem: Los Angeles, Califórnia (US)
Período de actividade: 1998-
Influências: Spacemen 3, Loop, Spritualized, The Brian Jonestown Massacre, The Velvet Underground
A ouvir: Surgery (Mute, 2005)

MySpace

Abriu a caça aos veados

Goste-se ou não, Bradford Cox é das personagens mais fascinantes do cenário pop/rock actual. E é também das mais prolíficas.
Ainda a malta não digeriu o primeiro álbum de Atlas Sound, o seu projecto solo, e o rapaz acena já com Microcastle, o terceiro longa-duração dos Deerhunter com lançamento marcado para inícios de Agosto.
Diz quem já o ouviu, que este disco é mais song oriented que o antecessor (Cryptograms, de 2007), sem que isso signifique um menor pendor experimentalista. O título, segundo Cox, está relacionado com a atenção dada às micro-estruturas dentro de cada tema. Enquanto Agosto não chega, podemos já degustar os dois temas disponibilizados no MySpace.

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Teenage kicks right through the night




















Sempre atento aos talentos mais precoces, apresento-vos hoje as Smoosh, um duo de Seattle constituído pelas irmãs Asya e Chloe (o apelido continua secreto). Só para terem uma ideia da idade das moças, posso dizer-vos que qualquer uma delas ainda nem sequer era nascida quando Nevermind foi lançado... Nada que as impeça de ter já dois longa-duração em carteira. O último dos quais é Free To Stay, originalmente lançado nos states há dois anos e só agora disponível do lado de cá do Atlântico.
Não obstante o papel de destaque assumido pelos teclados, por entre referências avulsas, este segundo disco traz à memória algumas das glórias no feminino do indie-rock de guitarras da década passada, facção ianque: Sleater-Kinney, Helium, Velocity Girl.
Pese embora o facto de revelarem ainda alguma verdura, tanto na voz imberbe de Asya, como na simplicidade das composições, as Smoosh são seguramente um nome a ter em conta no futuro. Por ora, são já capazes de fazer corar de vergonha alguns músicos mais maduros...

Smoosh no MySpace

"Find A Way" (Barsuk, 2006)

terça-feira, 17 de junho de 2008

O fim do magnetismo?!

Quatro meses volvidos desde o último número, e a Magnet - uma publicação supostamente bi-mensal - teima em não dar sinais de vida... Por sinal, essa foi a única edição da revista em 2008...

Good cover versions #8













CHROMATICS "I'm On Fire" (Italians Do It Better, 2007)
[Original: Bruce Springsteen (1984)]

No que respeita a gostos musicais, é já conhecida a predilecção do público luso por uma certa boçalidade. Por isso, não me surpreendeu a calorosa recepção por estas bandas a Night Drive, o disco do ano passado que marcou a reinvenção dos norte-americanos Chromatics.
Constituído por canções que vagueiam entre a synth e a dream pop, na sua simplicidade extrema, Night Drive é para mim uma espécie de versão nocturna (e gravada em melhores condições) do único álbum oficial dos sobrevalorizados Young Marble Giants. As melhores canções não passam de simpáticas: ouvem-se com agrado contido e esquecem-se no dia seguinte.
Os resultados poderiam ser outros se os Chromatics fizessem um maior investimento na melodia, como é o caso deste tema disponibilizado como b-side de um dos singles do referido álbum - In The City, para que conste.
Originalmente incluída no multi-platinado Born In The U.S.A., "I'm On Fire" é uma das melhores canções do Boss - um senhor que tenho aprendido a respeitar - e foi já alvo de inúmeras versões: Tori Amos, Electrelane, Johnny Cash, Heather Nova... A recriação em tons sépia dos Chromatics é uma das mais recentes e, provavelmente, a melhor que conheço.

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Discos pe(r)didos #19


















DINOSAUR JR.
You're Living All Over Me
[SST, 1987]

Do underground norte-americano de meados de oitenta brotaram muitas das pistas para o futuro da música dita alternativa. De entre um lote de discos marcantes lançados numa era altamente profícua, sobressai este You're Living All Over Me. Algo que não deixa de surpreender se tivermos em conta tratar-se de um disco de baixo custo, gerado por três putos a quem sobrava em ideias o que faltava em experiência: os fabulosos Dinosaur Jr.!
J Mascis, guitarrista/vocalista e líder incontestado do trio, disse em ocasiões futuras que se sentiu motivado a aprender guitarra para puder tocar os riffs de que realmente gostava. Por conseguinte, em You're Living... consumam-se muitas das intenções afloradas no disco de estreia (Dinosaur, de 1985): ruído amplificado incapaz de esconder um apelo pela melodia, e solos de guitarra no lugar dos refrões, subvertendo por completo o conceito de "canção".
Paradigma do "fórmula dinossáurica", que deixou descendência (já lá vamos...), será provavelmente "Sludgefest" nos seus mais de cinco minutos de alterações de ritmo, em que os diversos momentos de calma redundam em outras tantas explosões de distorção. Em registo diametralmente oposto, a quase acústica "In A Jar" é igualmente momento inspirado. Neste tema, fica patente uma certa devoção por Neil Young, uma das poucas influências assumidas por Mascis.
As letras, reflexo de um certo angst juvenil e invariavelmente cantadas num lamento, por contraponto à fúria post-hardcore vigente, permitem diferentes interpretações, roçando os limites do surreal. Tome-se por exemplo "Little Fury Things", a deliciosa faixa de abertura em que Lee Ranaldo (dos Sonic Youth) dá uma preciosa ajuda: o destinatário dos "recados" de Mascis é um coelho... que poderá muito bem ser uma miúda... ou nem uma coisa nem outra...
Reservando para si a parte de leão nas nove faixas do disco, o líder "permite" ainda que Lou Barlow dê um ar da sua graça nos dois temas finais. Se por um lado "Lose" segue a toada dominante, já o exercício lo-fi (com direito a ukelele e quatro minutos de devaneio de sons caseiros mais ou menos aleatórios) de "Poledo" é completamente atípico, lançando pistas para aquilo que este baixista de créditos firmados viria a desenvolver nos Sebadoh.
Depois de You're Living... nada seria como dantes. Se não acreditam, perguntem aos Lemonheads, aos Teenage Fanclub, aos Nirvana, ou até aos "rodados" Sonic Youth. Estes últimos retirariam daqui muitos ensinamentos para o incontornável Daydream Nation, disco lançado no ano seguinte e responsável pela afirmação definitiva de uma identidade. Mas isso é outra História...

"Little Fury Things"

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Going blank again #21

THE MANHATTAN LOVE SUICIDES

Origem: Leeds (UK)
Período de actividade: 2005-
Influências: The Jesus and Mary Chain, My Bloody Valentine, Talulah Gosh, Lush, The Primitives, Shop Assistants
A ouvir: The Manhattan Love Suicides (Magic Marker, 2006)

MySpace

Velhas raposas

Após o lançamento do EP Sun Giant nos primeiros meses do ano, os Fleet Foxes foram apontados, desde logo, como um nome a seguir. As expectativas criadas não saem defraudadas no recém lançado longa-duração homónimo, com selo da Sub Pop, ou não fossem os Fleet Foxes oriundos de Seattle (Nota: Na Europa, a distribuição fica a cargo da Bella Union).
Neste disco, tal como no antecessor em formato mais reduzido, o quinteto denuncia que, na sua colecção de discos, haverá muita música de outras eras: folk-rock, pop solarenga, psicadelismo west coast. Isto, trocado em miúdos, significa CS&N, The Beach Boys, ou The Byrds.
Phil Ek, o reputado produtor que já trabalhou com gente tão distinta como Built to Spill, The Shins, ou Band of Horses, enche Fleet Foxes de reverberação, algo que tem valido inevitáveis comparações aos My Morning Jacket. No fundo, pop barroca para dias longos, de céu azul.
Bem-vindos ao Verão!


Fleet Foxes no MySpace

quarta-feira, 11 de junho de 2008

10 anos é muito tempo #6


















GODSPEED YOU BLACK EMPEROR!
F#A#∞
[Kranky, 1998]

Embora tenha conhecido uma primeira edição limitada a 500 exemplares em 1997, só um ano depois o mundo exterior ao Canadá, de onde os GYBE! provêm, teria acesso à versão final e definitiva de F#A#∞: três longas faixas dividas em diversos andamentos, como se de uma obra erudita se tratasse.
O monólogo do trecho inicial - "The Dead Flag Blues" - deixa o aviso: o apocalipse está próximo! Uma temática recorrente em finais de milénio, mas desenvolvida pelos GYBE! com uma convicção sem igual, mesmo que F#A#∞ abdique, quase em absoluto, do recurso à palavra.
Nos segmentos seguintes, somos guiados por um cenário de devastação. A espaços, a luz emana, e renasce uma esperança ténue. Logo, regresso ao caos em mais um crescendo galopante, até ao Fim inevitável, assinalado nos minutos de silêncio do penúltimo trecho de "Providence".
Como obra seminal que é, F#A#∞ geraria uma miríade de derivados, até à total saturação de uma fórmula. Porém, dez anos volvidos, a sua aura permanece intacta, elevando-o acima de qualquer tentativa de clonagem.
Um disco intemporal e obrigatório para melhor entender algumas das coordenadas da música actual. Poético, cinemático, misterioso, denso, negro, mas infinitamente belo...

terça-feira, 10 de junho de 2008

Ao vivo #20

Liars + Loosers @ Santiago Alquimista, 09/06/2008

A fechar com chave de ouro uma série verdadeiramente louca de concertos, nada melhor do que aquela que é já uma das mais importantes bandas desta década - os nova-iorquinos Liars.
Sendo esta a terceira vez que os via ao vivo, dos Liars já me habituei a esperar novas surpresas a cada espectáculo, até porque a música produzida pelo trio, num registo sobejamente free, permite inúmeras roupagens.
Desta feita, ao núcleo duro acrescentam um quarto membro (guitarrista), o que confere uma maior envergadura aos temas. No entanto, o resultado fica aquém do esperado, muito por culpa das péssimas condições de acústica da sala. O maior prejuízo sente-se nos temas mais escorreitos do último disco, obviamente prato principal do alinhamento apresentado.
Estranhamente, Angus Andrew, um entertainer por natureza, apresentou-se ontem mais circunspecto do que o habitual. Ainda assim, na segunda metade do concerto tornou-se mais dialogante, chegando a prometer uma surpresa. Muitos esperaram, em vão, algo do calibre de "Territorial Pissings", dos Nirvana, que encerrou o concerto de há dois anos. Em todo o caso, saldo positivo.

Dos espasmos post-punk que caracterizavam o EP de estreia dos Loosers resta apenas a memória. Cada concerto da banda lisboeta - curiosamente alargada a quarteto, tal como a principal atracção da noite - é uma experiência nova, um teste aos sentidos. Por vezes a coisa resulta, outras nem por isso...
Ontem, os intentos foram plenamente conseguidos, com um único tema (longo, obviamente) em que o groove é palavra de ordem. Free-jazz, post-rock da escola de Chicago, ecos tribalistas, tudo cabe na música dos Loosers, ontem, mais do que nunca, a fazerem lembrar aquela que me parece ser a maior influência da música intuitiva actual: os (injustamente) esquecidos Savage Republic. Confiram, sff.

Ao vivo #19

















Sunset Rubdown @ ZdB, 08/06/2008

Dos inúmeros projectos que envolvem membros dos Wolf Parade, estes Sunset Rubdown (SR) não eram dos que mais me cativavam, pelo que, as expectativas para o concerto de domingo à noite eram apenas moderadas.
Debelados os problemas de som que marcaram o primeiro tema da noite, os SR arrancariam para uma prestação quase irrepreensível, apenas beliscada pelos longos intervalos entre cada canção, facto que o mestre de cerimónias Spencer Krug contornou com uma atitude muito comunicativa. Em palco, e à medida que o espectáculo avança, três dos cinco músicos vão rodando entre as guitarras e a bateria, numa singular demonstração de polivalência. O público reage positivamente, sem entrar em histerias desmedidas, o que deixa a banda extremamente agradada e surpreendida.
Após o alinhamento previsto, baseado no último Random Spirit Lover (2007), regressariam ao palco sob uma intensa chuva de palmas para mais um tema, apresentado pela percussionista/vocalista Camilla Wynn Ingr como uma party song. O dito permitiu constatar o quão relativo pode ser o conceito de "festa".
Se em disco as canções dos SR, descendentes de algumas tendências art rock de setentas, me pareciam excessivamente frenéticas, em palco ganham em intensidade. A este facto não será alheia a entrega dos cinco músicos que, estoicamente, resistiram ao calor infernal do aquário da ZdB.

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Going blank again #20















THE LASSIE FOUNDATION

Origem: Los Angeles, Califórnia (US)
Período de actividade: 1996-2006; 2008-
Influências: Chapterhouse, Lilys, The Beach Boys, Ride
A ouvir: Pacifico (Grand Theft Autumn, 1999)

MySpace

Ao vivo #18



















Awesome Color @ Lounge, 04/06/2008

A sala do Lounge foi pequena para todos quantos quiseram presenciar in loco a descarga sónica dos Awesome Color (AC), esse fabuloso trio do catálogo da Ecstatic Peace.
Os que responderam à chamada foram surpreendidos por um concerto curto e directo, feito de uma mescla do rock primário dos Stooges (ou não fossem os AC provenientes do Michigan) com o psicadelismo dos 13th Floor Elevators, servida informalmente por putos nascidos após a explosão punk de 1977. Tudo, obviamente, com um volume ensurdecedor. Verdadeiramente impressionante, é o que eu vos digo.

Apesar do adiantado da hora, não poderia deixar de passar pelo Incógnito para saudar este camarada de armas no arranque simbólico de uma nova aventura na qual lhe desejo a melhor das sortes. A ocasião serviu também para trocar dois dedos de conversa com muita beautiful people. Um serão perfeito... O pior foi a manhã seguinte...

terça-feira, 3 de junho de 2008

Teenage riot

Dos Operator Please conhecia alguns factos: uma banda de miúdos australianos que tem causado algum furor no Reino Unido. Desconhecia por completo que lhes pertencesse a autoria do tema que se segue, responsável pelo gasto de algumas calorias por parte deste que vos escreve.
O motivo de tamanho burburinho é Yes Yes Vindictive, o debute em formato longo lançado no ano passado na Austrália natal e com edição recente na Europa, se bem que, com um alinhamento diferente. Se derem um salto até ao MySpace da banda, onde o dito se encontra disponível para audição na íntegra, encontrarão um conjunto de canções enérgicas e imediatas, muito semelhantes entre si, que facilmente apelam à dança. Repararão também que, esta miudagem joga no mesmo campeonato de gente como The Duke Spirit, Be Your Own Pet e Sons and Daughters. O mesmo em que jogavam os Long Blondes antes de serem relegados para uma liga secundária... Ainda assim, os Operator Please exibem alguns sinais identitários, seja pela potente voz de Amandah Wilkinson, seja pelo uso do violino.
Atente-se então no vídeo, que merece a dispensa de 3' 34'' do vosso precioso tempo.

"Leave It Alone" [Virgin, 2007/2008]

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Ao vivo #17















Scout Niblett @ Zdb, 30/05/2008

Tenho de o confessar: Scout Niblett era, até há pouco tempo, alguém a quem conhecia pouco mais do que o nome. Tudo mudou com a descoberta recente de This Fool Can Die Now, o opus do ano passado. Compreendo agora o porquê de ser uma das "protegidas" de Steve Albini.
É britânica, mas a sua música assenta mais na tradição norte-americana. Comparações frequentes colocam-na a par de Will Oldham (o mesmo que participa em quatro dos temas do disco citado) ou da crueza de PJ Harvey dos primórdios. Partilha igualmente afinidades com Nina Nastasia ou Shannon Wright. Pela parte que me toca, sinto por vezes na música de Niblett algo de semelhante ao lado mais descarnado de Kurt Cobain que nunca tive a sorte de ver
in vivo. Sacrilégio dirão alguns, mas a sensação sai reforçada depois do excelente concerto de sexta-feira passada.
Com um atraso mais curto do que o habitual na ZdB, entrei na sala, bem composta mas não lotada, já ao som de "Do You Want To Be Buried With My People?". No palco, vislumbravam-se apenas a cantora munida da sua guitarra eléctrica e o baterista que a acompanha. Música simples e directa, contida nos recursos, em que o silêncio desempenha papel especial e que, por isso, só pode sair a ganhar com um som decente, tal como aconteceu. Pelo feito, raro naquela sala, deixo o meu aplauso à técnica responsável.
Ao 3.º/4.º tema, o espectáculo foi interrompido por breves instantes por alegada fadiga (quebra de tensão?) da artista. Durante a pausa, como ao longo de todo o concerto, o público foi paciente e respeitador. Como que redimindo-se deste pequeno incidente, daí em diante, Scout Niblett deu o melhor de si aos presentes: após o que se supõe ser o alinhamento previsto, obviamente assente no último álbum, houve direito a uma curta sessão de pedidos, e até um tema acompanhado apenas de bateria, tocada pela própria.
Nota muito positiva para um concerto de canções perturbadas e perturbadoras mas, simultaneamente, sinceras e ternas. Como momentos altos elegeria "Nevada" e "Dinosaur Egg", este último tocado a pedido.

Parece que...






... a fazer fé no anúncio que passou há minutos, a actual crise das pescas é o tema do show desta semana. Ou seja, FCF no seu habitat natural (ou, se preferirem, como peixe na água): as peixeiradas...

R.I.P.

BO DIDDLEY
1928-2008

O rock'n'roll fica mais pobre com o desaparecimento de um dos seus maiores profetas. Em jeito de homenagem, um recuerdo de uma trupe de fiéis discípulos. Justamente, um tema que foi b-side da canção que dá nome a este blogue...