"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

No reino dos cangurus















As boas novas que vão chegando da Austrália sob a forma de música levam-nos a questionar que raio de aditivos aquela gente põe na água para consumo. Por enquanto, as movimentações das bandas mais excitantes daquelas longínquas paragens apenas parecem interessar aos mais atentos ao underground, mas em breve, creio, haverá matéria para se começar a falar num "movimento" rock de tendência leftfield. Tomemos como exemplo os Blank Realm, quarteto em actividade já desde meados da década passada que tem feito um trajecto rumo a uma maior visibilidade, depois da psicadelia noisy impenetrável que caracterizava os primeiros registos.

No último Go Easy (2012), não obstante alguma bizarria deliberada, a banda fazia claros esforços por se aproximar do formato da canção estandardizada. Os progressos nesse sentido verificam-se no novíssimo e brilhante Grassed Inn, seguramente e sob qualquer prisma o disco mais acessível do catálogo. Se do anterior dizíamos nada ter em comum com os conterrâneos de Brisbane The Go-Betweens, agora temos de rever a opinião sobre os Blank Realm e reconhecer-lhes, a espaços, aquele sentir marítimo da banda lendária da terra natal. Porém, sem o hiper romantismo daqueles, pois nas letras e vozes dos irmãos Daniel e Sarah Spencer (a do rapaz bastante mais presente, desta feita) há apenas sarcasmo e cinismo, sem qualquer traço de sentimentos de afecto. Também ensombrados pelo espírito dos Velvet Underground, os Blank Realm pedem emprestada às bandas neozelandesas ligadas à Flying Nun a cartilha das canções pop deliberadamente imperfeitas, com ritmos desengonçados e guitarras rugosas. Apesar desta notória maior "facilidade", os oito temas de Grassed Inn ainda se deixam contaminar por uma ténue sujidade, algo que nos lembra amiúde os saudosos Royal Trux, nomeadamente nos jogos e na cadência das vozes masculino/feminino. Por isso, este é ainda daqueles discos - como qualquer grande disco - que exige insistentes audições até ao entranhamento. Depois disso, facilmente concluiremos que é o primeiro diamante em bruto do novo ano.

"Falling Down The Stairs" [Fire, 2014]

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