"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Good cover versions #80












JOANNA GRUESOME - "Tugboat" [Fortuna POP!, 2013]
[Original: Galaxie 500 (1988)]

Poucos terão conseguido pregar as inanidades da idade jovem como os Galaxie 500 e ao mesmo tempo soar tão convincentes. A proeza ganha maior dimensão se referirmos que o trio de Boston era bastante limitado nos recursos, arrastando as canções à volta de pouco mais que um acorde. Eram também uma banda devota às referências, logo à cabeça os Velvet Underground, que endeusavam e homenageavam no recurso recorrente à reverberação e à distorção. Só aceitando a genuinidade da sua música se explica o culto crescente com o passar dos anos, algo que lhes escapou durante o curto período da sua existência. "Tugboat", aquele que foi o seu cartão de visita, é paradigmático daquelas características. Canção de uma beleza espectral, tem na letra simplista uma declaração do ennui juvenil de ingenuidade alarmante. Na parte final, tem espaço bastante para o devaneio instrumental, algo a que recorriam frequentemente, em jeito de catarse.

Só com grande dificuldade conseguimos detectar pontos de contacto da contenção dos Galaxie 500 com os galeses Joanna Gruesome, estes uma miscigenação dos sonhos sónicos dos My Bloody Valentine do primeiro álbum com a irreverência riot grrrl. Talvez só mesmo o afecto comum pela distorção, algo no qual estes são explosivos, enquanto aqueles eram recatados. Porém, esta quase total ausência de afinidades não implica que os de Cardiff não honrem "Tugboat", numa muito bem conseguida revisão. Como óptima versão que é, tem as duas características fundamentais para tal: respeita o original e tem as marcas identitárias da banda que dela se apodera. Isto, traduzido em miúdos, quer dizer que, após um começo contido, que nos apresenta a vocalista Alanna McArdle num pouco habitual registo amansado, a versão rebenta em repetidas explosões e espirais de guitarras ruidosas e desalinhadas. Na ausência de um refrão propriamente dito, estes escapes sónicos fazem as vezes de tal com toda a naturalidade.



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