Nestes tempos em que raros são os que resistem à febre dos regressos, Neil Halstead tem rejeitado liminarmente qualquer oferta para a reunião dos Slowdive. Seguramente seriam muitos a celebrar o regresso da banda que foi, talvez, a face mais visível da facção contemplativa da vaga shoegazer, remetendo para segundo plano uma já longa carreira à frente dos Mojave 3, bem como um trio de discos a solo. Para já, também o bucolismo contaminado pela folk destes projectos fica em banho-maria, pois Halstead concentra todos os esforços nos Black Hearted Brother, nos quais divide protagonismo com Mark Van Hoen e Nick Holton. O primeiro foi membro fundador dos Seefeel e desenvolveu propostas electrónicas como The Locust, enquanto o último tem currículo mais obscuro, principalmente nos meandros da psych-folk. Todos os três já se cruzaram anteriormente nos trabalhos uns dos outros.
Talvez derivado da dinâmica possibilitada pelas afinidades já exploradas nas colaborações prévias, não foram precisos muitos meses para que os Black Hearted Brother dessem frutos, concretamente um belíssimo álbum lançado já na recta final do ano findo. Intitulado Stars Are Our Home, este trabalho é reflexo óbvio da comunhão de sensibilidades dos seus intervenientes, mormente dos Slowdive do derradeiro Pygmalion (1995) e dos Seefeel da mesma altura, quando as ferramentas electrónicas e as texturas ambientais assumiam a mesma importância dos pedais de efeitos das guitarras. Por conseguinte, é um disco que arrisca o experimentalismo sem, contudo, perder a noção de canção pop. Nas texturas, densas mas penetradas por uma luz intensa, as guitarras são a matéria primária, enquanto a manipulação electrónica representa um condimento muito peculiar e fundamental. Da dúzia de temas para audição preferencial num único fôlego resulta uma espécie de psicacelismo positivo, que não enjeita a deriva espacial que o título sugere. Quando comparado com propostas na mesma área há uma boa vintena de anos, dos Flying Saucer Attack ou dos Spiritualized, Stars Are Our Home contrapõe ao negativismo daqueles um estranho optimismo, materializado na vontade de nos embalar num manto idílico.
"My Baby Just Sailed Away" [Slumberland / Sonic Cathedral, 2013]
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