"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Biscoito com canela

















Não se apresenta como tarefa fácil, prosseguir uma carreira depois de, durante uma década inteira, se ter estado à frente de uma das bandas de maior referência desse período. Que o diga Stephen Malkmus, que depois ter encabeçado os Pavement, pior do que ter perdido a relevância, é já votado à indiferença por muitos dos que o idolatravam na banda que o notabilizou. Tratamento algo injusto, se atentarmos que os álbuns que já leva em nome próprio (na maior parte acompanhado pelos The Jicks), e que já são em maior número que os dos Pavement, não sendo propriamente excepcionais, estão longe de serem considerados maus discos, embora Face The Truth (2005) não ande assim tão longe. Por outro lado, nos anos mais recentes, à medida que a banda de companhia foi interagindo mais no processo criativo, há mesmo que reconhecer que os discos ficaram a ganhar no nível qualitativo. São os casos de Real Emotional Trash (2008), delírio jam impregnado de rock setentista, e principalmente do último Mirror Traffic (2011), ainda a percorrer as mesmas referências, mas mais concentrado no canção canónica.

O período de graça estende-se ao novíssimo Wig Out At Jagbags, também a navegar nas águas do freak rock dado à técnica da década de 1970, mas com uma maior soltura que o anterior. À falta de melhor elogio, o apuro técnico de Malkmus e dos The Jicks é (mais uma) resposta a quem gracejava com as supostas limitações dos Pavement enquanto executantes. Felizmente, o álbum tem outras e mais significativas qualidades que a mestria dos músicos. Com as sucessivas audições, e com o necessário distanciamento para evitar comparações com um glorioso passado, cada um dos doze temas revela uma frescura que já não julgávamos possível nestes autores, convencendo-nos de que cada um dos muitos detalhes é factor de enriquecimento dos mesmos. Próximo de completar meio século de vida, Malkmus cede nuns quantos temas a um registo introspectivo que deixa adivinhar que a maturidade é uma inevitabilidade. Porém, estes são apenas uma das facetas do disco, pois a corrosão sarcástica próxima do absurdismo ainda é matéria abundantemente explorada pelo enfant terrible incorregível. Portanto, este é mais um trabalho motivador de muitos sorrisos trocistas, mas também de uma leveza quase pop que o aproxima da obra de uns The Sea and Cake, estes há muito em torno da quase perfeição do formato canção, que fazem questão de disfarçar sob o rigor da técnica.

 
"Cinnamon And Lesbians" [Matador, 2014]

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