Parece que ainda foi ontem, mas já passou praticamente uma década desde que, nas franjas do rock, as milhentas ramificações do noise estavam na ordem do dia. Entretanto, muitos dos nomes associados a esse surto súbito desapareceram do mapa, a maioria regrediu ao reduto ultra-underground de onde provinha. Em sentido contrário, os Magik Markers são um dos raros casos de ganho de visibilidade, sacrificando para isso alguns princípios, e aproximando-se de um modus operandi mais estandardizado. Na memória de uns quantos que tiveram a felicidade de assistir a qualquer concerto do trio do Connecticut nos primeiros tempos ainda permanece a imagem da banca de merchandise, recheada de dezenas de edições, por entre álbuns propriamente ditos, CD-Rs e 7'' de tiragem limitadíssima. Esse frémito de criação só abrandou quando a banda ficou reduzida ao duo da vocalista/guitarrista Elisa Ambrogio e do baterista Pete Nolan. Foi com esta formação que lançaram Boss (2007) e Balf Quarry (2009), dois álbuns de distribuição alargada, com aproximações claras ao formato de canção, facção sónica.
Numa banda caracterizada pelo impulsividade dos primeiros tempos, já se estranhava a falta de novidades desde há quatro anos. Neste hiato, os Magik Markers voltaram a ser um trio, com a inclusão do baixista John Shaw, e prepararam, em períodos alternados, o novíssimo álbum Surrender To The Fantasy. Alegadamente gravado entre o sótão de J Mascis e a cave dos pais de Ambrogio, este é, segundo a banda, um disco resultado do reavivar do prazer de compor em regime jam, agora sob uma perspectiva "adulta". Pelas condições em que foi concebido, é, obviamente, um disco caracterizado pela baixa fidelidade, embora com o conjunto de canções mais dignas desse nome que os Magik Markers já nos ofereceram. Há a ligá-las uma estranha sensação de fragilidade, apenas interrompida nos breves instantes em que a banda ainda se deixa tentar pelos espasmos noisy. A voz de Elisa Ambrogio, outrora colérica, é agora contida, muitas vezes apenas um murmúrio, outras enevoada por uma rugosidade subtil. Umas vezes surge acompanhada apenas pela guitarra acústica, outras também pelo lamento de um violoncelo, outras ainda pelas texturas de velhos sintetizadores, quase sempre com um silvo de distorção a irromper no horizonte. Para quem segue os Magik Markers desde há algum tempo, Surrender To The Fantasy poderá ser um disco que se estranha, com fortes probabilidades de se entranhar. Para os outros, este poderá ser ponto de partida para a relação com uma banda em momento de viragem, eventualmente para algo de maior.
"Ice Skater" [Drag City, 2013]
Sem comentários:
Enviar um comentário