"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

domingo, 3 de novembro de 2013

Ao vivo #111















A Place to Bury Strangers + Bambara @ Centro Cultural do Cartaxo, 02/11/2013

Não é apenas a austeridade dos tempos que me faz ser cada vez mais criterioso na escolha de concertos a ir, mas sobretudo o medo de uma eventual desilusão. No caso dos nova-iorquinos A Place To Bury Strangers, a indecisão até a uma data próxima da do concerto prendeu-se principalmente com dois motivos: o entusiasmo nulo relativamente à obra mais recente do trio, e o temor de uma possível mancha na boa memória de um concerto passado na capital espanhola, na altura ainda deslumbrado com o brilhantismo sob a forma de descarga sónica do primeiro álbum (e repetido, se não melhorado, no segundo).

Em boa hora tomei a decisão acertada, pois, pese embora o desinspirado Worship (2012) seja o prato forte do espectáculo, os A Place To Bury Strangers são ainda um caso sério em cima de um palco, uma descarga de electricidade e ruído que não deixa nenhum adepto do alto volume sonoro indiferente. É óbvio que não são particularmente originais, e que têm a seu desfavor alguns tiques "góticos" que se têm agudizado recentemente. Mas até neste último factor conseguem exibir algum bom-gosto, revelando apenas uma afeição pela escuridão nocturna e as temáticas dos amores no fio da navalha, sem resvalar para as patetices da devoção necrófila. A simpatia pela escuridão corporiza-se em palco no jogo cénico, não raras vezes mergulhando o auditório do CCC na total ausência de luz. Como nem só de música de faz um concerto rock, os APTBS são também um inteligente exercício de estilo, desde logo pelo abuso da escuridão e dos fumos, mas também pelo recurso insistente a strobs, tudo factores que potenciam a densidade da massa sonora que vem do palco. Inclusive na postura há algo de estudado, como por exemplo a destruição de duas guitarras por parte de Oliver Ackermann, número que saiu demasiado perfeito para que acreditemos não ser encenado. Face à frieza desta análise clínica, não se julgue que entro em contradição com o começo deste parágrafo, pois com todas as suas idiossincrasias, os APTBS ainda são daquelas bandas capazes de levar a adrenalina a níveis elevados, preferencialmente em salas sem o rigor dos lugares sentados, como foi o caso de ontem. A seu favor, face à inúmera concorrência da "escola sónica" contemporânea, terão sempre a omnipresença de uma linha melódica, o que faz dos seus temas, descargas de ruideira à parte, canções dignas desse nome. A este propósito, é inevitável compará-los com os conterrâneos e companheiros de estrada Bambara, responsáveis pelo aquecimento com uma massa sonora de volume bem alto e distorção, algo indistinta para quem já não é facilmente impressionável.

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