BOW WOW WOW - "I Want Candy" [RCA, 1982]
[Original: The Strangeloves (1965)]
Não satisfeito com a machadada nas convenções dos Sex Pistols, e não resignado com a declaração de independência de Johnny Rotten, Malcolm McLaren tinha mais uma carta na manga da controvérsia. Para formar os Bow Wow Wow começou por aliciar a banda de Adam Ant a abandonar o líder. Bem sucedido neste golpe baixo de empresário que não olha a meios, conquistou para a nova criação as chamadas Burundi beats, marca identitária dos The Ants, que se caracterizava por uma batida ritualista, fortemente enraizada em África e altamente rítmica. Para compor o quadro, escolheu para completar a formação vocalista Annabella Lwin, uma adolescente de 13 anos a quem foram dadas ordens para cantar letras de sentido implicitamente provocatório, com nada de inocente. O resultado deste mistura de groove e perversão não poderia ser outro que não as ondas de choque provocadas no contexto da new-wave britânica.
Depois de já ter aparecido nua na capa do primeiro álbum, numa recriação de Le déjeneur sur l'herbe de Manet, Lwin foi posta a cantar "I Want Candy", um tema que na versão original dos sixties tinha obtido sucesso considerável pela mão dos The Strangeloves. Com a letra ligeiramente alterada para se adequar à mudança de género do intérprete, esta é uma música que cai que nem ginjas no plano de McLaren: sentido dúbio, entre uma certa inocência que pretende disfarçar o alto cariz sexual. Isto sem esquecer a batida do original, obviamente inspirada na Bo Diddley beat, marca forte da influência do tribalismo africano nos primeiros tempos do rock'n'roll. Como tal, para além das alterações referidas, e da produção modernaça ao sabor do "futurismo" de inícios de oitentas, a nova versão de "I Want Candy" não necessitou de grandes alterações para caber no plano estratégico traçado. Talvez pelo reconhecimento da música, ou pela rodagem insistente nos primeiros anos da MTV, este acabou por ser o tema que acabou com a resistência do público americano aos Bow Wow Wow, tornando-se aí um êxito à altura do original dos Strangeloves. Sobre estes, interessa referir que eram uma banda ficcionada (prática comum nos sessentas), com três personagens alegadamente criados numa quinta da Austrália. Na realidade eram três hitmakers norte-americanos já com sucessos escritos para outrem em carteira. Foi um projecto de curta duração, ali na passagem do testemunho das beat bands para as garage bands, mas com um punhado de hits que ficaram retidos na memória colectiva. Portanto, uma carreira com muitos paralelismos com a dos Bow Wow Wow.
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