"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Ao vivo #112














Dean Blunt @ Teatro Maria Matos, 05/11/2013

Embora seja ainda um nome que não circula com insistência na boca das massas, é indesmentível que Dean Blunt seja já um dos músicos mais relevantes dos nossos dias. E também dos mais imprevisíveis na trajectória. Basta lembrar a evolução desde a revelação ainda como Hype Williams (juntamente com Inga Copeland), uma lufada de ar fresco no universo da electrónica, com um pé nas tendências vigentes entre artistas britânicos, e outro na minimal wave de um passado já algo distante. Desde o ano transacto, e em nome próprio, evoluiu para formas de expressão relativamente mais convencionais para os parâmetros pop, mas ainda algo improváveis, abarcando tanto a soul como a música erudita contemporânea, sem esquecer a técnica cut'n'paste que o notabilizou. Tudo começou com o EP The Narcissist II e teve prolongamento no álbum The Redeemer, já deste ano. São dois trabalhos que têm de ser vistos como complementares, o primeiro expositor de uma relação em desagregação, o segundo uma espécie de redenção após a separação.

É este último disco que Dean Blunt traz ao Maria Matos, não para o apresentar na íntegra, mas para nos brindar com uma encenação das confissões e reflexões que o percorrem. A leitura do folheto oferecido à entrada para o espectáculo anuncia-nos o cariz teatral do mesmo, algo que nos faz aumentar a curiosidade para o que a próxima hora nos reserva. Independentemente desse conhecimento prévio, tudo o que se passa no palco, num nível abaixo do da bancada é uma surpresa. A longa introdução, em completa escuridão e ao som de uma chuva diluviana faz aumentar o mistério. Ainda no escuro, Dean Blunt senta-se ao piano por breves instantes. Quando a luz tímida nos permite vislumbrar algo, já este tem um microfone à frente e um segurança daqueles gorilóides atrás. Este figurante aí havia de permanecer, imóvel, durante todo o espectáculo. Nas colunas ecoam sons pré-gravados, um trompetista invisível solta umas notas, e na penumbra um ser feminino vagueia, entra e sai de cena. Ela é Joanne Robertson, cantora e guitarrista convidada em The Redeemer que aqui representa a outra metade do casal dissoluto. Antes de colocar a voz profunda, Dean Blunt, hesita, contorna o segurança, reaproxima-se do microfone, parece querer rebentar num acesso de fúria, e hesita de novo. É toda uma encenação de desconforto perante a outra parte, e também de algum remorso. O mesmo desconforto contagia o público, levado a partilhar esta exibição da intimidade alheia. No final, já só com Joanne, mais a sua voz delicada e a sua guitarra desalinhada, em palco, toda a tensão se esvai. Neste momento, sentimos ter presenciado algo de especial, um espectáculo único, por um lado extremamente simples, por outro não menos intenso.

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