É ainda jovem, talvez perto de chegar aos trinta, mas até pode aparentar menos. No entanto, num par de anos, Laurel Halo tornou-se um nome de referência na electrónica actual. A sua proeza ganha maior relevo por ser mulher, neste universo quase exclusivamente habitado pelo género masculino. Tal como muitos dos seus contemporâneos, não é pessoa de se deixar corroer pela estagnação, pelo que, muitas vezes no espaço de meses, lança discos alinhados em tendências completamente díspares. Os primeiros registos, ainda à procura de uma identidade, caracterizam-se por uma certa obliquidade, que não enjeita a experimentação e o abstraccionismo. Bem diferente é Quarantine (2012), magnífico primeiro álbum no qual faz uso da voz sem qualquer pudor de se aproximar do formato canção. O resultado é uma espécie de avant-pop enevoado, que convoca o ambient e extractos sintetizados das chamadas "músicas do mundo", com aquela particularidade dos discos muito especiais que é crescer com as sucessivas audições.
Talvez possa ser uma reacção a algum do relativo imediatismo do antecessor, ou apenas uma transição natural da artista, mas o que é certo é que o novo Chance Of Rain já está extremamente afastado daquele. Desde logo, a voz de Laurel Halo, que se estranhava ao primeiro contacto, está totalmente ausente, assim como aquela atmosfera de apaziguamento, por vezes obscuro, que Quarantine proporcionava. Supostamente, boa parte de Chance Of Rain foi misturado directamente versão final que surge em disco, arte na qual a autora já deu provas de mestria por cá. Por conseguinte, este é um trabalho absolutamente electrónico, com a frieza que tal implica. Porém, Laurel Halo é substancialmente mais focada no desenvolvimento das ideias que no passado, resgatando ideias à chamada IDM de noventas, mas também ao techno de Detroit (as suas raízes estão no Michigan, refira-se). Isso quer dizer que, não obstante a profusão de andamentos em cada tema, Chance Of Rain tem algumas hipóteses de fazer parte do menu de estabelecimentos nocturnos dedicados à dança. Enquanto tal não acontece, e a chuva não passa, vamos aproveitando para ir ensaiando uns passos no aconchego do lar.
[Hyperdub, 2013]
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