"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Discos pe(r)didos #74









THE CHILLS
Submarine Bells
[Flying Nun, 1990]




Falar dos The Chills equivale a falar de Martin Phillips, vocalista, compositor, e único membro permanente na banda, já que todos os outros não resistem aos longos hiatos de silêncio em mais de três décadas de história. Falar dos The Chills é também falar de um dos vértices do triângulo fundamental - a par de The Clean e Tall Dwarfs - do rico espólio indie-pop da Nova Zelândia, com fortes repercussões no chamado college rock dos Estados Unidos. Quando comparados com os seus pares, os The Chills tendem menos para a baixa fidelidade, característica que os terá feito mais vendáveis, embora demonstrem o mesmo apreço pelas memórias psicadélicas de finais de sessentas. Em determinado ponto da carreira terão mesmo prometido aspirar a voos mais altos, expectativa gorada pela irregularidade editorial, em boa parte patrocinada pela inconstância de Phillips e a sua longa luta com a dependência da heroína. Para se ter uma ideia, depois de um bom número de singles no período inicial, reunidos na fundamental compilação Kaleidoscope World (1986), o primeiro álbum só chegou sete anos depois da fundação. Depois deste, foram precisos mais três para que houvesse sucessor.

É precisamente por alturas deste segundo álbum que os The Chills ameaçam chegar a públicos mais numerosos, inclusive com a distribuição de uma multinacional nos states. Em comparação com a obra anterior, Submarine Bells aspirava, de facto, a algo de maior, com uma luminosidade pop dominante que era rara no restante catálogo, frequentemente ensombrado pelas canções inspiradas pelas experiências de Martins Phillips com as drogas. A abertura não poderia ser mais exultante do que com "Heavenly Pop Hit", pop majestosa de celebração da vida, tema de traça intemporal. Nos coros, Donna Savage, das conterrâneas Dead Famous People, confere a atmosfera celestial que o título sugere. Idêntica sumptuosidade encontramos em "Tied Up In Chain" e "Part Part Part Fiction", o primeiro com ecos de Television, o último feito da mesma matéria celebratória. A sujidade rock que assomava com alguma insistência no passado está representada em Submarine Bells pela dupla de temas "The Oncoming Day", coberto de pó de estrada, e "Familiarity Breeds Contempt", irrequietude injectada de distorção. Os teclados retro, também extremamente característicos nos The Chills, assomam por todo o lado, mas no gingão "Dead Web" são mesmo a nota dominante. Já no brilhante "Singing In My Sleep", avant-pop de excelência que envergonharia muitos dos estetas celebrados no presente, o ritmo é descaradamente kraut, algo que timidamente aflora em temas avulsos dos The Chills. A encerrar o disco, em registo próximo da canção de embalar, o tema-título é a exultação de uma certa sensação de nostalgia, curiosamente presente em diversas outras bandas das antípodas, sensação essa que percorre também boa parte do restante alinhamento.

A mesma deriva nostálgica está também presente em "Molten Gold", single já desde ano que interrompe um silêncio com nove anos, e que, dizem-nos, antecipa um álbum (apenas o quarto) em preparação. A confirmar-se tal rumor, pela amostra e pela confiança no bom-gosto de Martin Phillips, quase aposto que será um dos acontecimentos pop do ano. De qualquer ano.

Heavenly Pop Hit by The Chills on Grooveshark
 
Singing in My Sleep by The Chills on Grooveshark

Submarine Bells by The Chills on Grooveshark

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