CABARET VOLTAIRE
Nag Nag Nag
[Rough Trade, 1979]
Activos desde 1973, e portanto pioneiros em várias correntes da música electrónica, os Cabaret Voltaire só ganharam verdadeira consistência, e relativa visibilidade, com as liberdades permitidas pelo safanão punk. Em finais da década que o viu nascer, as edições discográficas sucederam-se com uma regularidade assinalável, o que fez do trio um dos vértices do triângulo, a par de Throbbing Gristle e The Human League, que firmou Sheffield como a capital britânica das sonoridades electrónicas.
Desse período de intensa actividade perdura Nag Nag Nag, o terceiro dos pequenos formatos que serviram de aquecimento para o álbum de estreia. E perdura não só pela originalidade da proposta, como também pela repercussão na música de anos vindouros. O principal obreiro de tão peculiar sonoridade é Chris Watson (sintetizadores, processamento de fitas), normalmente visto como o mais discreto dos três Cabs, mas que com a sua experiência no ramo da engenharia das telecomunicações proporcionou as ferramentas necessárias à investida assombrosa de "Nag Nag Nag". É ele o responsável pela "customização" da fuzzbox, que faz com que a guitarra de Richard H. Kirk liberte farpas de metal incandescente, conferindo uma rugosidade de fazer inveja a muitas bandas rock. Juntamente com a batida marcial, o quadro opressivo é ainda composto pela voz de Stephen Mallinder, desumanizada pelos tratamentos laboratoriais de Watson ao ponto de sugerir as maiores monstruosidades.
Até à dissolução em 1994, os Cabs derivaram em diferentes sentidos, sempre norteados pelo apelo sintético. Mas é precisamente neste estado inicial que se assumem como ponte entre passado e futuro, por um lado conscientes do groove das sonoridades garage de sessentas, por outro abrindo a porta à face mais negra da "electrónica", vide música industrial.
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