"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

domingo, 1 de maio de 2011

Ao vivo #63














Tim Hecker @ Galeria Zé dos Bois, 29/04/2011

No espaço de menos de uma semana, Lisboa recebeu a visita de dois dos criadores das texturas mais densas no actual mundo das electrónicas, de forma que acho que faria algum sentido que tivessem partilhado o mesmo palco, tal como já partilharam experiências. Primeiro foi o australiano Ben Frost, agora o canadiano Tim Hecker, que trazia na bagagem o recente Ravedeath, 1972, trabalho concebido na mesma Islândia que acolhe o primeiro desde há alguns anos.

Ligeiramente menos críptica que a da "alma-gémea", a música de Hecker é envolta numa sinistra aura de mistério que guia o ouvinte para um fascinante mundo de sombras. Na ZdB apresentou-se com a sala mergulhada na escuridão, sem outras formas de iluminação que não fossem a do monitor do laptop e a ténue claridade que atravessa as janelas do "aquário". Ficou assim criado o ambiente propício à apresentação de um set baseado em trechos curtos para os parâmetros do género, mas suficientemente envolventes no seu negrume opressivo. O que se intui, nos instantes de consciência sensorial, é que há na música de Hecker uma procura constante de uma linha melódica que lhe dê uma dimensão mais humana. Mas logo, esses resquícios de luminosidade são afogados na sucessão de drones opressivos, deixando no ar a sugestão de um conflito interior de dois elementos antagónicos que se degladiam num universo à beira do caos. Em termos funcionais, a fórmula propicia um universo no qual coabitam a luz e as trevas. Na passada sexta-feira aplicou o feitiço ao longo de uns breves 40 minutos, e abandonou o palco perante o aplauso unânime do público, libertado do transe aos primeiros segundos de silêncio.

1 comentário:

strange quark disse...

Imagino que as semelhanças deste concerto com o do Maria Matos justificaria plenamente uma junção binária. Ainda não ouvi o último disco do Hecker.