"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Em escuta #58











LOW _ C'mon [Sub Pop, 2011]

Nas quase duas décadas de trajecto, os Low vão operando pequenas revoluções na sua música, quase imperceptíveis mas que, acumuladas, distanciam sobremaneira este nono álbum da sonoridade minimalista e arrastada dos primórdios. E, diga-se, talvez à excepção do semi-falhanço do anterior Drums And Guns, sem grandes sobressaltos que impliquem a alienação dos fieis. O novo C'mon vem, porém, repor a boa forma, desde logo evidente nas vozes de Alan Sparhawk e Mimi Parker, pujante a dele, imaculada a dela. Embora se siga a um período de alguma instabilidade emocional do primeiro (e o negrume está bem patente num par de temas que recuam às memórias da infância), o disco é banhado por uma luminosidade quase inédita na obra do trio. Gravado numa igreja, beneficia de um arejamento que reforça o carácter esperançoso e pacífico da maioria das faixas. Como convidado de honra, Nels Cline participa num par de temas, nos quais deixa bem marcado o seu dom único de manejar a steel guitar, na mistura final trazida para o primeiro plano. [8,5]


CRAFT SPELLS _ Idle Labor [Captured Tracks, 2011]

Justin Vallesteros, o responsável pelo projecto Craft Spells, é mais um dos muitos jovens californianos que, a partir do retiro dos seus quartos, vão exprimindo as suas visões musicais a partir das colecções de discos dos pais. No caso em apreço, as afinidades com Wild Nothing vão muito para além da editora comum a ambos. Mas, se aquele envereda mais por via sonhadora e reservada, Idle Labor é percorrido por alguma efusividade juvenil que não consegue esconder uma ligeira melancolia derivada de uma ou outra trica amorosa própria da idade, bem expressa no timbre vocal que a espaços lembra o de Ian Curtis. Isto, porém, é questão de pormenor, pois as guitarras, delicadas mas profusamente melódicas, combinadas com sintetizadores rudimentares, tendem a convidar a uma festa que tresanda a eighties. Nessa era, dada a sua aura de sincera naivité, Idle Labor traria concerteza selo da editora Cherry Red. [7,5]


MOON DUO _ Mazes [Sacred Bones, 2011]

Dupla liderada por Erik "Ripley" Johnson, Moon Duo é uma aventura nos terrenos da psicadelia bem menos linear do que aquela que ele tem desenvolvido ao leme dos Wooden Shjips. Desde logo, é evidente um outro aprumo rítmico que as guitarras, normalmente com riffs densos e repetitivos, não consegue disfarçar. No tema-título, porém, a guitarra é esquálida e estridente, deixando no ar uma secura desértica. A voz não é afogada pelo torrente sónica, surge antes à superfície num tom semi-declamado que deve inspiração a Alan Vega. Nos teclados e na caixa de ritmos (a bateria está ausente), Sanae Yamada é a principal responsável pela pulsão groove. Em perfeita sinfonia com os delírios do mestre, solta pinceladas kraut que conduzem Mazes para uma desfocagem própria do transe narcótico. Sucessor de uma linhagem que vai de Roky Erickson aos Spacemen 3, passando pelas obrigatórias referências germânicas (foi gravado em Berlim), este arrisca-se a ser o disco que este ano melhor satisfará as necessidades dos cultores da deriva mental musicalmente induzida. [8]


ELEVENTH DREAM DAY _ Riot Now! [Thrill Jockey, 2011]

Com perto de trinta anos de actividades, os 11thDD nunca gozaram do reconhecimento de muitos contemporâneos, tais como eles pioneiros na fundação de uma linguagem indie-rock tipicamente norte-americana. Embora rendidos à imerecida sina, estes conspiradores do apinhado covil de Chicago, não esmorecem, e vêem agora romper um silêncio de cinco anos que estabelece que os experimentalismos dos últimos registos ficam reservados para os projectos paralelos. Como tal, no essencial, Riot Now! resgata a crueza rock dos primórdios. Um dotado a operar com as seis cordas, Rick Rizzo descarrega uma enormidade de riffs incisos, ora distorcidos, ora em solos desalinhados do convencional. Na melhor tradição ianque do género, a voz deste é carregada de agrura, num tom pouco amistoso. A excepção é um par de temas que, apesar das subtis injecções de ruído, alinha por uma via mais reflexiva. Em ambos, a combinação com o tom mais delicado da baterista Janet Bean propicia um interessante jogo inesperadamente pop. Confirmando as teses do revisionismo em ciclos de duas décadas, Riot Now! orienta a máquina do tempo para inícios de noventas. E deixem que lhes digam que sabe sempre bem o regresso a "casa"... [7,5]


J MASCIS _ Several Shades Of Why [Sub Pop, 2011]

Tratando-se de um embaixador da guitarra eléctrica enquanto máquina produtora de ruído, pode causar alguma surpresa que a estreia definitiva a solo em álbuns de estúdio de J Mascis seja essencialmente acústica. Pode pois, mas só a quem ignorou o "ensaio" ao vivo do já distante Martin + Me. Por assim dizer, Several Shades Of Why acaba por ser a confirmação daquilo de que já todos tínhamos conhecimento: um profundo reconhecimento pela obra mais intimista e alinhada na dor-de-corno do mestre Neil Young. A voz, próxima e calorosa, exprime sentimento onde antes apenas conhecíamos alienação. Ao primeiro contacto, as dez canções poderão acusar alguma vulgaridade e demasiadas semelhanças entre si, talvez da aparente simplicidade provinda do despojamento instrumental. Só depois, com a insistência, sobressaem as estruturas intrincadas que denunciam o confessional autor como um compositor amadurecido, algo que as torrentes eléctricas dos Dinosaur Jr. apenas revelam aos mais atentos. Entre elas, destaca-se "Not Enough", na qual o "grasnar" de Mascis cria um jogo de contrastes com o falsetto de Ben Bridwell (Band of Horses). A lista de convidados inclui ainda Kevin Drew (Broken Social Scene), Suzanne Thorpe (antiga flautista dos Mercury Rev), Sophie Trudeau (GY!BE e projectos subsequentes), Matt Valentine (MV/EE), e Kurt Vile. [7]

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