Abe Vigoda + The Glockenwise @ Galeria Zé dos Bois, 05/05/2011
Do terceiro para o quarto álbum, aqueles que lhes conferiram uma pequenina visibilidade, os angelinos Abe Vigoda operaram uma profunda revolução estética. Se Skeleton (2008) era um emaranhado de uma pop fracturada e desconcertante a que alguém chamou tropical-punk, Crush (2010) aproxima-se perigosamente da mais asséptico revivalismo oitentista.
Confirmando os piores receios, é este último que toma de assalto a parte de leão do concerto da passada quinta-feira. A fazer jus à actual orientação, o vocalista apresenta-se com o visual de um potencial concorrente ao remake dos Human League. Na voz tem a afectação própria de quem acabou de consumir a obra integral do Bowie dos eighties. Do teclado escorre azeite em ritmos que já fizeram galarim na produção pimba nacional. Para não ferir ouvidos pouco dados a desafios, as duas guitarras são mero adorno inofensivo. Com esta receita, fica garantida a festa para uns quantos e o desapontamento para número igual de convivas. Para estes últimos, em jeito de consolação e já perto do final, um parte de temas trouxe ao palco da ZdB a tropelia vertiginosa que os arrastou ao local. Foi apenas um pequeno prémio pela resistência.
A surpresa, se não mesmo a salvação da noite, ficou a cargo da abertura com os barcelenses The Glockenwise. Apesar da curta experiência, o quarteto minhoto mostrou desenvoltura na assimilação de uma linhagem punk/garage de origem britânica, normalmente mais consciente da estrutura de canção do que a congénere norte-americana. Tal como em casos clássicos (The Jam ou The Libertines, por exemplo), a procura do refrão mais catchy e recheado de coros não implica a ausência do picanço permanente da rugosidade das guitarras. A meio da função, resvalam ligeiramente para devaneios instrumentais de índole psych que destoam da identidade do todo. Mas logo reencontram o trilho, e deixam a confirmação de caso especial no actual panorama nacional, mesmo geograficamente distantes das palmadinhas-nas-costas normalmente reservadas às bandas da área da capital.
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