Oriundo da metrópole de Filadélfia, Kurt Vile é um dos muitos jovens músicos norte-americanos que sofrem de incontinência criativa. Ao caudal de discos em nome próprio, por vezes também creditada a The Violators, junta ainda o trabalho como integrante dos excelsos The War on Drugs (aviso aos potenciais interessados: novo álbum lá para o pico do Verão), banda que entretanto abandonou para se concentrar no trabalho a solo. Mas, se muitos dos seus pares não conseguem contem a irreverência própria da idade, Vile não tem qualquer pejo em resgatar as tradições da música nativa, quer da técnica do fingerpicking na guitarra, quer dos grandes cantautores ianques, o que o situa num ponto imaginário em que se intersectam as obras de John Fahey, Springsteen e Lou Reed.
Se o anterior Childish Prodigy (2009), responsável por um surto de visibilidade talvez por ser o primeiro com selo da credenciada Matador Records, ainda ostentava um certo modo caseiro de confecção, o novo longa-duração Smoke Ring For My Halo é o disco da maturação definitiva, com toda a carga positiva que este termo pode comportar. É um álbum virado para o interior, um exercício de catarse em linha com o Beck de Sea Change. Porém, se o bardo californiano se centrava unicamente no sentimento de perda, Vile prefere uma reflexão mais abrangente, dissertando sobre as várias encruzilhadas da vida que não apenas o amor. No campo instrumental, também não envereda por uma lógica de serviços mínimos. Bem pelo contrário, juntamente com a banda que o acompanha, constrói estruturas sólidas e complexas, que realçam uma técnica ímpar mas rejeitam qualquer rasgo de virtuosismo bacoco.
Ou muito me engano, ou já falta pouco para que o nome de Kurt Vile deixe de ser quase exclusivo do universo de geeks incorrigíveis, e salte para a boca do "mundo dos crescidos". Vai uma aposta?
"Jesus Fever" [Matador, 2011]
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