CLOUD NOTHINGS _ Cloud Nothings [Carpark, 2011]
Cloud Nothings é o veículo musical de Dylan Baldi, mais um puto norte-americano que encontrou no pop-punk o escape para a inesgotável energia juvenil. Em temos de afinidades musicais está próximo de gente como os No Age ou os Wavves, o que desde logo denuncia afeição pelo lo-fi ruidoso. Porém, mais do que nos casos citados, Cloud Nothings aposta sem pruridos na melodia e na limpeza da produção, resultando daí uma receita pop vitaminada, com as inevitáveis inflexões surf, que pisca o olho a inúmeras glórias indie-rock (Pixies, Guided by Voices, Apples in Stereo, ou Teenage Fanclub, para citar apenas alguns). Assimiladas as fontes, o único aspecto a merecer trabalho de casa é a voz nasalada, à qual se recomenda maior contenção. [7,5]
WYE OAK _ Civilian [Merge, 2011]
É com alguma estranheza que verifico a relativa obscuridade a que tem sido votada a dupla Wye Oak, especialista no contraste entre quietude e descarga sónica. E tenho a quase firme certeza que o seu destino não mudará com este terceiro disco. O que será uma tremenda injustiça, pois Civilian assinala o aprimorar da fórmula dos antecessores, com uma dezena de temas seguros e encorpados. À dicotomia guitarra-bateria, a banda adiciona agora alguns apontamentos electrónicos que sublinham os momentos mais explosivos. A toada reflexiva dominante é propiciada por um meio termo entre a dream-pop e o rock tipicamente noventista, aqui e ali com um laivo folk a despontar. Civilian é também a coroação de Jenn Wasner, dona de uma voz peculiar entre o abandono e o expressivo, como uma das mais dotadas executantes femininas à guitarra. [8]
SIC ALPS _ Napa Asylum [Drag City, 2011]
Outrora executantes de uma música fracturada, na qual os resquícios de canções pareciam querer libertaram-se, os Sic Alps investem agora numa maior objectividade.
Napa Asylum foi gravado de forma a soar a disco de outras eras, mais concretamente à segunda metade de sessentas, cujo espírito das célebres
Nuggets pretende recuperar. Sucede que os 22 temas (em apenas 47 minutos) são normalmente demasiado curtos para deixar fluir o ambiente
psych pretendido. Como se não bastasse, soam, na sua maioria, a meros esboços de canções praticamente indistintos entre si. Infelizmente, confirmam-se em disco algumas das piores expectativas criadas da
última vez que os vi em palco.
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SEEFEEL _ Seefeel [Warp, 2011]
O título é enganador, pois pode sugerir um trabalho de estreia. Mas os Seefeel já cá andam há quase duas décadas, embora o título homónimo interrompa um silêncio de 15 anos. Conforme anunciado pelo EP do ano passado, Seefeel segue a via da electrónica de pendor abstraccionista, carregada de estática e vozes submersas e alteradas. O elemento humano, a cortar a frieza dominante, é a bateria, normalmente esparsa e numa cadência vagamente jazzística. Portanto, a milhas de distância do hipnotismo planante e das texturas densas do marcante Quique (1993), do qual apenas o downtempo de "Rip-Run" é uma ligeira evocação. Não sendo propriamente um disco de ingestão fácil, Seefeel ganha, com sucessivas audições, estatuto de banda-sonora indicada para o quotidiano impessoal e acelerado dos dias que correm. [7]
THE TWILIGHT SINGERS _ Dynamite Steps [Sub Pop, 2011]
Por esta altura, Greg Dulli já contará tanto tempo à frente dos Twilight Singers como aquele que liderou os Afghan Whigs. Como tal, é natural que, à excepção da devoção soul, a herança destes últimos se vá desvanecendo. Diria até que este quinto registo do "novo" projecto é uma possível súmula do trabalho pós-Whigs: baladas enegrecidas adornadas a piano eléctrico e arranjos de cordas a preceito, tipicamente Singers, alternadas com a fúria das guitarras experimentada nos Gutter Twins. Em termos de letras, retomam-se as crónicas dullianas das batalhas libidinosas ("spread your legs in search of alibis" canta-se a plenos pulmões em "On The Corner"). Portanto, nada de particularmente novo para os seguidores mais próximos que, inclusive, poderão detectar alguma previsibilidade. Detectarão também, com mais agrado, que a voz não propriamente maleável de Dulli ultrapassa as limitações e vai amadurecendo com sapiência, ao ponto de ofuscar em absoluto os convidados Joseph Arthur, Anni DiFranco, e o granítico Mark Lanegan. [6,5]