"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

segunda-feira, 7 de março de 2011

Discos pe(r)didos #50








THE BATS
Daddy's Highway
[Flying Nun, 1987]




De terras longínquas da Nova Zelândia, a primeira metade da década de 1980 já tinha revelado três nomes incontornáveis das mais puras sensibilidade e política indie: Tall Dwarfs, The Clean e The Chills. Todas elas foram lançadas com selo da Flying Nun Records e surgiram associadas aquilo a que se decidiu chamar Dunedin Sound, por via da cidade de origem de todas elas. Embora oriundos de outras paragens, mais propriamente de Christchurch, os The Bats viriam a fechar uma hipotética quadratura da pop neozelandesa em registo de baixa-fidelidade.

Até este primeiro álbum, a banda levou cinco anos a testar canções de forte cunho melódico em registos de pequeno formato. Esse período de aprendizagem revelar-se-ia extremamente proveitoso, pois Daddy's Highway destaca-se dos discos de estreia dos seus pares pelo maturidade das composições. Para tal, o quarteto base contou com a preciosa colaboração do violinista Alastair Galbraith, responsável pelo travo folk gingão que encontra similaridades nos australianos The Go-Betweens. A título de exemplo oiçam-se o inaugural  "Treason" e o derradeiro "Daddy's Highway", temas em que os jogos vocais do mentor Robert Scott com os coros da baixista Kaye Woodward reforçam os paralelismos referidos.

Mas Daddy's Highway merece uma apreciação que vá além dessas comparações, pois é exemplo perfeito de uma pop séria e letrada, com a dose de melancolia adequada, que, à época, provinha das antípodas em quantidades generosas. E é também um disco em que o sentido melódico e a busca da canção pop perfeita prevalecem sobre as limitações técnicas dos executantes. Exemplo perfeito é "North By North" que, curiosamente, se inicia com uns acordes em tudo semelhantes aos deste exemplar do rock "azeiteiro", mas evolui para uma profunda reflexão sobre o sentido da vida digna de autores mais vividos que Scott. É justamente o tema mais popular da banda, e já constitui um standard da pop neozelandesa. Em temas como "Tragedy", "Miss These Things", ou "Same Peace Tonight", o ar de gravidade sincera acentua algum negrume que, contudo não ensombra a luminosidade do conjunto. A faceta jangly dos The Bats está também bem vincada, e para o atestar é apontar directamente a "Block Of Wood", tema em que a guitarra parece libertar farpas incandescentes. Curiosamente, ou talvez não, neste tema e embora numa velocidade diferente, o staccato remete-me para este caso sério de popularidade da facção mais arty da pop deste início de século.

Desde esta estreia em grande estilo, as edições dos The Bats têm surgido a uma cadência irregular, com o prolífico Robert Scott ocupado em projectos paralelos e os restantes membros entregues às vidas pessoais. Contudo, mantém-se activos até aos dias de hoje, aqui e ali lançado discos que em nada desmerecem as virtudes do debute.

"North By North"

"Block Of Wood"

1 comentário:

Gravilha disse...

não tenho memória destes bats, mas bastaria a forma e o conteúdo do texto para me deixar, mais do que curioso, ansioso por ouvir Daddy's Highway. excelente, camarada! abraço,