THE POSIES
Golden Blunders
[DGC, 1990]
Quem foi que disse que a Seattle de há vinte anos era só camisas de flanela e/ou barbichas de bode? Que era apenas catarse do angst juvenil, infelizmente, mais vezes encenado que genuíno? Antes mesmo do teen spirit eclodir nos media, na chuvosa cidade do noroeste americano uma banda ousava fazer-se notar com roupas de corres tão garridas quanto as do cabelo de um dos seus vocalistas/guitarristas - Ken Stringfellow, o rapaz que, desconfio, inspirou aquela personagem da Kate Winslet. O nome da banda em questão é The Posies, e seu é o mérito pela recuperação das sonoridades power-pop setentistas em solo norte-americano, um pouco à semelhança do papel dos Teenage Fanclub no Reino Unido.
Porém, se ao longo do percurso os congéneres escoceses partiram dos Big Star para as harmonias dos Beatles e afins, os Posies seguiram o direcção praticamente inverso. Isto ainda antes do soberbo Frosting On The Beater, quando a banda envergava orgulhosamente a sua anglofilia. Para tal, contaram com a produção do credenciado John Leckie, que os conduziu a um assomo de sucesso com o álbum Dear 23, segundo da carreira e primeiro numa multinacional. Tal acolhimento fica sobretudo a dever-se ao razoável airplay de "Golden Blunders", tema mais conhecido desse disco e exemplo paradigmático da "sonoridade The Posies", isto é, encaixe perfeito das duas vozes (Stringfellow e o inseparável Jon Auer) e uma melodia luminosa que tem tanto de canónico como de irrepreensível. Esta proximidade da perfeição pop é muitas vezes confundida com vulgaridade. À letra, que aborda o remorso e o arrependimento pelas oportunidades perdidas, poderá ser apontado algum moralismo estandardizado. É uma observação tão adequada como a de excesso de juvenilidade. Sucede que "Golden Blunders" é leveza pop até ao tutano e não aspira a mais do que isso...
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