Há sinais de ventos de mudança na linha editorial da revista Mojo, pelo menos a ajuizar pelos dois últimos números que, ao invés do destaque às velhas carcaças do costume, trazem à capa (vá lá!) um par de bandas com menos de 30 anos. Se o número de Março (estes coisas em Inglaterra andam com um mês de avanço), os Nirvana foram motivo de extenso artigo, com direito a CD de oferta que apresenta uma selecção de bandas que marcaram o som de Cobain & C.ª, a mais recente edição dá capa a essa instituição indie chamada The Smiths. A propósito da aproximação da passagem de um quarto de século sobre a edição do mega-superlativo The Queen Is Dead, a Mojo oferece-nos, entre outras minudências, um minucioso enquadramento temporal daquele disco e uma análise track-by-track por uma série de devotos mais ou menos famosos. Em complemento, na página on-line, a revista desafia os mais versados em smithologia num cover quiz que, garanto-lhes, tem pouco de fácil. A cereja no topo do bolo, e em consonância com o espírito de insurreição dos The Smiths, é o habitual CD gratuito, desta feita preenchido com alguns dos nomes mais inconformistas do espectro indie britânico. Entre outras, incluem-se faixas de Robert Wyatt, Billy Bragg, Mekons, The Band of Holy Joy, Orange Juice, e McCarthy. E também esta pérola carregada de vitríolo extraída do último trabalho de um dos mais duradouros e ignorados casos de independência made in UK.
Half Man Half Buscuit _ "National Shite Day" [Probe Plus, 2008]
12 comentários:
por coincidencia deitei hoje as mãos à mojo após um duradouro periodo de jejum; a mudança é evidente, não só nos destaques, mas também na selecção de novas edições em crítica - talvez seja a resposta à bbc radio 1 que, numa atitude que nem merece qualquer comentário, decidiu há alguns meses banir bandas com guitarras do conteúdo sua programação...
já tá cá fora? A ver se a pesco amanhã.
De facto nota-se que a Mojo anda a mudar um pouco de ares mas a ver vamos se para o próximo mês não voltam as carcaças do costume.
Pelo menos cá em baixo, já está desde o final da semana passada. Não sabia essa da Radio 1... Que raio...
Costumava apreciar mais a Uncut, embora as diferenças com a Mojo fossem diminutas. No entanto, nos últimos tempos, a Uncut está a perder qualidades, ao contrário da Mojo que cada vez me vem agradando mais.
Tendo estado ausente da capital nas últimas semanas ainda não me deparei com esta capa dos Smiths, mas não passará d'amanhã.
Eu já compro a Uncut (que tenho reservada todos os meses) há mais de 11 anos. A Mojo só quando o artigo de capa ou o CD me interessam à séria. Mas, ultimamente, tenho-me sentido tentado a inverter as coisas. O que ainda não fiz, talvez pelo hábito já enraizado.
fui assiduo da uncut, que nasceu da mesma equipa dos tempos aureos do melody maker (entretanto extinto), mas com a mudança de linha editorial de há meia duzia de anos deixou de valer a pena. A mojo parece-me muito melhor revista desde então, se bem que, também a tenha abandonado desde há 2 anos para cá porque também deixou de valer a pena.
Tenho que retomar esses hábitos.
em relação aos critérios da bbc radio 1 segue link para entrevista; a correcção segue: oficialmente e durante o dia, a bbc radio 1 não passa musica, cito, independent. por razões comerciais.
http://www.nme.com/blog/index.php?blog=10&p=9622&more=1&c=1
Já li. Para além de desprezar toda uma tradição britânica, o tipo esquece-se é que a Radio 1 não é uma rádio comercial. Enfim... se a BBC é assim, não me surpreende o que se passa noutros lados.
Apenas compro estas revistas a espaços e muito derivado da actual oferta do CD bonus que é, não raras vezes, bastante bom. Lembro a fabulosa edição sobre os VU da Uncut e antes desta peguei na do Neil Young. Quanto a carcaças (os dois exemplos anteriores cairão nessa categoria, não?), tudo pode ser fruto do público alvo, que no fundo também vai envelhecendo e haverá alturas onde se farão ajustes temporais sobre essas matérias. Os que virão para as capas vindouras serão inevitavelmente as "carcaças" de amanhã.
De resto, não sei o que se passará noutros locais, como em Inglaterra, mas sinto que os meios de difusão e divulgação estão hoje bem mais dispersos e não me estranharia que as rádios tradicionais estejam a perder ouvintes, pelo que me pergunto até que ponto estas decisões não sejam uma tentativa de "fuga para a frente" por forma a manter um certo patamar de audiências. No actual contexto económico a caminho de um liberalismo pernicioso, num país que viu, subitamente, as propinas para a Universidade aumentarem qualquer coisa como 80%, pergunto-me que sentido fará, para quem tutela, isso do serviço público radiofónico ou outro. A verdade é que, mesmo quando na Europa se abateu o período das trevas que foi a Idade Média, o essencial da cultura e progresso não se perdeu e, algures no tempo, resumiu o seu caminho daí em diante. Cabe-nos a nós sermos resistentes e trasnportarmos a chama se sentirmos que a liberdade e a diversidade estão ameaçadas.
Um abraço
Uma correcção: O que se viu em Inglaterra foi um corte de 80% no financiamento das Universidades, levando as mesmas a praticamente triplicar o valor das propinas anuais. A coisa ainda é pior do que escrevi.
O problema, SQ, não estará tanto nas carcaças em si, mas na quantidade de vezes que são capa, por isto ou por aquilo. Como sabes, tenho especial apreço por algumas delas, mas não me interessa saber cada passo dos quatro Beatles desde a formação.
Em relação à política da Radio 1, é óbvio que resulta do actual panorama, não só económico como radiofónico. Só que eu sou daqueles que acham que os canais públicos, tanto de rádio como de televisão, só têm a perder em entrar em guerras de audiências. Perdem eles e perde o público que busca algo mais que o estandardizado. Olha o caso da RTP que, quando quer, consegue pior que as outras e mesmo assim sem melhorias no nível das audiências.
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