"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

quinta-feira, 6 de março de 2014

There must be a better life


















Há meia dúzia de anos, a fusão de tendências sombrias com o shoegaze, algo agora muito badalado por via do debate em torno dos Deafheaven mas não só, parecia algo impensável. Foi nesse terreno inexplorado que surgiram os Have a Nice Life, dupla do Connecticut cujo nome adoptado parece um desejo à humanidade de alguém que deixou de querer viver. Para entender esta teoria basta mergulhar no universo de sombras de Deathconsciousness, o arrasador álbum duplo de estreia de 2008, percorrido por drones cortantes, texturas ambientais obscurecidas e post-punk da facção mais austera. Não só os títulos, mas sobretudo a melancolia profunda, sugeriam que a postura anti-social nutria alguma simpatia com o espectro black metal.

Seis anos de ausência pressupõem evolução, e é precisamente isso que encontramos no novo The Unnatural World, disco que, no entanto, retém a tensão do antecessor. Desta feita, não é tão intensa a combinação de elementos à partida inconciliáveis, já que os Have a Nice Life mergulham convicta e quase exclusivamente nas tendências mais gélidas e atonais do post-punk, algo que filtram através da visão de alguém que participou activamente nas movimentações post-hardcore de noventas. Um dos trunfos do novo álbum é não se deter em referências imediatamente identificáveis, pese embora a sensação de claustrofobia tenha reminiscências dos The Cure de Pornography e a frieza distanciada remeta para os esquecidos Mass. Em comum com as bandas daquela época, os Have a Nice Life têm também a coragem de experimentar, inclusive adensando a opressão  com a supressão total de ritmo pela ausência de batidas num par de temas. Uma nota ainda para a discrição da produção, que na opção pela baixa-fidelidade não só reforça a nebulosidade de The Unnatural World, como faz deste um trabalho mais autêntico e directo, liberto de truques e artificialismos de estúdio.

Defenestration Song by Have a Nice Life on Grooveshark
[Enemies List, 2014]

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