Passados uns bons vinte anos desde os grandes acontecimentos, o universo post-hardcore norte-americano ainda contém matéria de estudo suficiente para quem procura na música a vertigem que falta à produção actual. Se por um lado foi este o habitat de nascimento de "celebridades" como os Nirvana, ou de objectos de culto firme como os Fugazi e os Girls Against Boys, por outro ainda guarda semi-obscuridades cujo reconhecimento público não foi consentâneo com a excelência da obra discográfica. Um dos exemplos mais flagrantes é o dos Unwound, um trio formado em 1991 no fervor indie da zona de Olympia, no mesmo noroeste que pariu os tais Nirvana. A dissolução ocorreu em 2002, um ano depois da edição de Leaves Turn Inside You, um duplo álbum complexo e profundo que era o culminar de um trajecto em crescendo de ambição (frustrada).
Se aquele derradeiro trabalho dos Unwound até goza de um culto digno de registo, toda a anterior discografia da banda raramente é referida nos resumos de noventas. Para tentar corrigir a história ninguém melhor que o Numero Group, selo que se tem notabilizado na recuperação de excelentes discografias relativamente esquecidas, como já antes aconteceu com a dos nova-iorquinos Codeine. Sendo estas reedições em vinil, tanto melhor, pois no caso dos Unwound era este o formato predilecto. A empreitada agora em marcha processa-se por etapas, com vários box sets, o primeiro dos quais foi Kid Is Gone no final do ano passado, com um apanhado bastante exaustivo dos primórdios da banda. Se aquelas gravações primárias são mera curiosidade para completistas, a nova Rat Conspiracy é verdadeiramente imprescindível. Nesta edição tripla podem encontrar o segundo e terceiro álbuns, respectivamente Fake Train (1993) e New Plastic Ideas (1994), ambos assistidos pelo reputado produtor Steve Fisk, figura intimamente ligada ao "som do noroeste", e aqueles em que se revelou a real valia do trio. No primeiro dos discos está resumido o código genético dos Unwound, num lote de temas prenhes de tensão, alternando longos devaneios instrumentais abrasivos com as explosões espasmódicas da berraria de Justin Trosper. Já no segundo, refina-se a fórmula, ao mesmo tempo que se evidenciam heranças post-punk britânicas, expressas tanto no sentido arty de uns Wire como na claustrofobia de uns Joy Division. Como bónus, a terceira rodela reúne temas da mesma fase incluídos em 7'' e em compilações avulsas, bem como resultados de sessões radiofónicas e alguns inéditos. A acrescer, Rat Conspiracy é objecto de apurado trabalho gráfico, no qual se incluem testemunhos na primeira pessoa que dão conta das condições precárias que rodeavam a concepção destes excelentes discos.
[Kill Rock Stars, 1993]
[Kill Rock Stars, 1994]
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