"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

segunda-feira, 24 de março de 2014

I am the cosmos

















Talvez ainda se lembrem daquele período, algures na década de oitentas, em que os yuppies "amigos de Alex" assumiram de vez o controlo de Hollywood. Nesta nova ordem ao serviço do conservadorismo e do chamado politicamente correcto, o actor Kevin Kline era um dos rostos mais visíveis. Na altura do estrelato teve um casamento mediático com a actriz Phoebe Cates, esta relativamente mais nova e estrela de teen movies também dirigidos sob aquela bitola. O enlace ainda perdura até ao presente, e rendeu até à data dois rebentos. A mais nova da prole é Greta Kline, que com tais genes, se está a afirmar como uma improvável e digna representante de um espírito de independência que já não se usa. Talvez para evitar acusações de aproveitamento do apelido, mas também em jeito de homenagem ao poeta Frank O'Hara, a rapariga de apenas dezanove aninhos assume o nome de Frankie Cosmos.

Com aquele epíteto, seguindo a rigor a filosofia de auto-suficiência da K Records, e aproveitando as ferramentas de divulgação do presente, tem já mais de quatro dezenas de álbuns gravados em ambiente caseiro. Na sua maioria, contam-nos, mostra-se rendida ao chamado anti-folk dos Moldy Peaches e aparentados. Zentropy, no entanto, é o primeiro registo gravado em estúdio à séria, com banda de acompanhamento, e aquele em que Frankie Cosmos assume a figura tutelar de Calvin Johnson ao enveredar pela pureza das pequenas coisas característica dos Beat Happening. Para terem uma ideia da contenção, digo-vos que os temas do disco, todos somados, não ultrapassam os dezoito minutos de duração. No seu formato diminuto, desprezando artifícios supérfluos, estes são, porém, temas completos da mais pura essência pop, com a simplicidade do mestre e o factor melódico de uns Best Coast. Por outro lado, apesar das referências e da juventude da autora, são extremamente personalizados. Prenhe da inocência comum à mais genuína pop, Zentropy é também um compêndio das temáticas do indie canónico da era dourada: equilíbrio de tristeza e optimismo, apreensão perante a aproximação da idade crescida, muitas questões do foro dos afectos, e fofices sobre animais de estimação.

"Buses Splash With Rain" [Double Double Whammy, 2014]

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