"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

segunda-feira, 10 de março de 2014

Discos pe(r)didos #77









MASS
Labour Of Love
[4AD, 1981]




Por força de um tremendo equívoco, a identidade sonora da 4AD é normalmente associada à música idílica de uma série de projectos revelados em meados de oitentas. Basta lembrar que os Pixies e os Throwing Muses, duas das mais bem sucedidas bandas ligadas ao selo londrino, eram assumidamente indie-rock que estaria na base da "revolução alternativa" de inícios de noventas. Mais lá atrás, nos primórdios da existência da editora, o catálogo era composto por autênticos outsiders, mesmo segundo os critérios pouco ortodoxos do post-punk. Entre eles constavam uns tais Rema-Rema, projecto inclassicável de experimentalismo extremo, que duraria apenas o tempo suficiente para lançar um EP solitário.

Com o fim dos Rema-Rema, Mick Allen (baixo, voz), Gary Asquit (guitarra) e Mark Cox (teclados) prosseguiram carreira na mesma linha experimental com os Mass, quarteto que ficava completo com o baterista adolescente Danny Briottet. Também a história destes seria breve, mas ainda assim deixaram para a posteridade um single e o álbum Labour Of Love, classificado por Julian Cope, eminência das obscuridades, como o "Santo Graal do post-punk". Este é um trabalho quase apagado da memória colectiva, não só porque já lançado na vigência do colorido na "nova-pop", mas também pela sua difícil digestão, já que é um disco de ambientes claustrofóbicos e até algo misantropo, como que gerado na mais sombria das caves. Ainda citando Cope, a massa disforme de Labour Of Love soa a algo parecido com objectos atirados por uma escadaria abaixo, o que dá uma ideia da rejeição da ortodoxia pop imposta nos nove temas do alinhamento. Porém, é um exímio desenvolvimento das pistas lançadas por bandas como Public Image Ltd ou The Pop Group, com o qual, consta, nem a abertura de um tal John Peel foi benevolente. Como peça central e perfeitamente representativa desta arriscada proposta, o tema inicial, é precisamente intitulado "Mass", e é um tríptico de dez minutos no qual estão representadas aquelas referências, mas também a fuga para a frente dos Mass. Assim, depois do drone introdutório, assistido por um saxofone ensandecido e vozes primais, sente-se a pulsão kraut que estava presente nos PiL, tudo culminando numa abrasão post-punk de batidas e vozes furiosas e guitarras violentadas. Igualmente memorável é "F.A.H.T.C.F. (que deve ler-se "Fuck All Here To Cheer For"), movido por um Farfisa planante, batida marcial, e notas minimalistas da guitarra, tudo em ambiente funéreo para dar abrigo ao tom desesperante da voz de Mick Allen. Com um título que só pode ser irónico, "Isn't Life Nice" é o ápice da cacofonia que sugere alguma improvisação. Substancialmente mais ritmados, "Elephant Talk" e "Cross Purposes" estão contaminados pelo disco lúgubre dos PiL, inclusive no tom alienado de Allen em muito semelhante ao de John Lydon. Determinante para o resultado final de Labour Of Love terá sido a tensão presente nas sessões de gravação, já que, segundo os restantes elementos, o convívio com um vocalista totalitário e pouco dado à socialização foi de difícil gestão, tendo até precipitado o fim precoce dos Mass.

Com a ruptura, Allen foi seguido por Mark Cox na fundação dos The Wolfgang Press, banda de relativa longevidade, sempre ligada à 4AD, que evoluiu das mesmas bases sombrias para uma avant-pop com contaminações soul e funk. Por seu turno, Asquit e Briottet embarcaram na aventura Renegade Soundwave, com menor visibilidade que os antigos colegas, mas em certa medida percursores de muita dance music britânica normalmente catalogada como big beat e que conheceu a massificação em meados da década de 1990. Sem notícias recentes de qualquer um dos quatro músicos, o formativo Labour Of Love foi alvo de reedição em 2011, acrescido do par de temas do single prévio.


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