"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

domingo, 23 de março de 2014

Sortido finno
















Não obstante a existência de um vasto contingente ligado à Flying Nun Records, tantas vezes incensado neste pasquim, há que reconhecer a Neil Finn o estatuto de maior ícone da muita e boa pop que se produz na distante Nova Zelândia. A entrada no "circo" até se deu pela porta pequena, ainda miúdo, nos Split Enz, com os quais o irmão Tim era já uma estrela. A hora de Neil haveria de chegar, com os "seus" Crowded House, banda que lhe valeu o sucesso internacional e o reconhecimento como um escritor de canções de excepção, naquela longa linhagem iniciada pelos Beatles. No últimos anos, e apesar já ter ultrapassado as cinquenta primaveras, não abrandou o ritmo de trabalho, antes pelo contrário. À parte as várias reactivações dos Crowded House, coordenou o projecto 7 Worlds Collide, no qual convocava a colaboração de um rol de amigos e afiliados consagrados em nome das boas causas. Mais interessante do ponto de vista artístico foi a aventura Pajama Club, oportunidade para Neil e a esposa Sharon revelarem uma costela indie. A mesma que o terá levado a empenhara-se na "recuperação" da Flying Nun para mãos neozelandesas, depois da má experiência da lendária editora independente às ordens do capital americano.

Com tal ritmo de actividades, o tempo tem escasseado para Neil Finn se dedicar aos registos em nome individual. O último álbum a solo já dista uma dúzia de anos no tempo, hiato que conhece um ponto final com o novo e altamente recomendável Dizzy Heights. Para os conhecedores da pop imaculada de Finn este trabalho será uma surpresa, muito por causa do suave travo de psicadelismo, certamente uma cortesia da produção Dave Fridmann. A suavidade é, de resto, o mote das onze canções do disco, que incorporam elementos da soul tal como tratada por gente como Shuggie Otis, ou até do R&B de outras eras. Mais que um enfoque na construção das canções, Dizzy Heights empenha-se mais na sofistificação das texturas, na riqueza de pormenores, com a devida vénia ao trabalho do produtor que, apesar de todos os excessos, mantém à tona um sóbrio sentido de bom-gosto. Intocável pelo passar dos anos, a voz de Neil Finn revela extrema boa forma, caindo amiúde num registo de falsetto que realça as tonalidades da música negra das canções. Com alto teor de sacarina, este é um daqueles discos que, ultrapassada a estranheza inicial, pode induzir à habituação em coisas doces.

 
"Dizzy Heights" [Lester, 2014]

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