"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

sexta-feira, 14 de março de 2014

A escalar montanhas

















Não é que me sinta propriamente como um navegador descobridor de novos mundos, mas tenho de confessar que me enche de orgulho verificar que estes rapazes, que sigo e recomendo praticamente desde o berço, são uma das bandas mais imaculadas dos nossos tempos. Na altura, ainda os Real Estate, oriundos de uma pequena localidade suburbana de New Jersey, preparavam o álbum debute homónimo. Esse disco de 2009 espelharia apreço por gente como The Feelies, Yo La Tengo, ou Galaxie 500, num belíssimo conjunto de canções sépia resplandecentes de ócio juvenil. Era ainda um trabalho concebido sob os ditames da "baixa-fidelidade", algo que tratariam de modificar no substancialmente mais límpido Days (2011), disco mergulhado na mesma toada, mas revelador de uma fórmula aprimorada.

Com uma folha de serviços tão meritória, na qual constam ainda alguns pequenos formatos nada desprezíveis, é normal que os Real Estate já acusassem o peso da responsabilidade para o terceiro ábum, Atlas, editado há quase duas semanas. Mas não é que o raio dos rapazes se superam a si próprios com mais uma dezena de canções de primeira água, propícias para aqueles fins de tarde da transição Verão-Outono?! Bem, sobre isso os cépticos sempre poderão questionar o que Atlas traz de novo. Francamente, nada. Mas traz uma clarividência que não julgávamos possível, um refinamento da fórmula ao ponto que, embora ainda presentes, as referências citadas foram totalmente absorvidas numa linguagem que já pertence exclusivamente aos Real Estate. Fica também a ganhar a coesão melódica, talvez derivado ao facto de o trio nuclear se fazer agora acompanhar de um teclista, a juntar ao habitual baterista convidado. Quanto à atmosfera, que antes tinha mais de ennui do que propriamente de melancolia, e apesar do filtro da lente de alta-definição, é francamente sombria. Nos dez temas desfilados com o vagar característico do subúrbio, nunca possível no centro da metrópole, uma ligeira atenção às letras evidencia a constatação da idade adulta, o fim das férias sem fim e a obrigatoriedade de enfrentar as responsabilidades e os grandes desafios. Resumindo, poucas vezes a palavra "maturidade" tem uma conotação tão positiva como em Atlas.

 
"Talking Backwards" [Domino, 2014]

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