GARY BURGER
[1941-2014]
Morreu ontem aos 72 anos, vitimado por um cancro do pâncreas, Gary Burger, vocalista e guitarrista dos lendários The Monks, eventualmente a mais seminal de todas as bandas do garage-rock da década de sessentas.
A formação dos The Monks é no mínimo insólita, já que todos os seus cinco elementos eram militares americanos estacionados na Alemanha Ocidental, nos tempos da Guerra Fria. Com a conclusão do serviço militar, a banda embarcou numa sucessão de concertos electrizantes pelos afamados clubes rock alemães, pouco antes frequentados pelos Beatles. Ganharam fama de subversivos, com as suas letras mescladas de hedonismo e manifesto de oposição à guerra do Vietname. A ajudar tinham um visual algo arrojado para o seu tempo, no qual se incluíam os "uniformes" e os cortes de cabelo, ambos adaptados a partir dos verdadeiros monges. Mas, mais que isso, notabilizaram-se por uma sonoridade única, dinamitada pelas explosões ainda recentes do rock'n'roll genuíno e das beat bands britânicas. Deixaram gravado apenas um único álbum - Black Monk Time (1966) -, registo prenhe de rudeza primitiva com a proeminência do órgão Phlicorda e o recurso pouco usual do banjo eléctrico. Embora escassa, a obra gravada deixou uma infindável descendência, que começa no kraut-rock e vai até diferentes expressões post-punk, passando obrigatoriamente pelo petardo punk. Entre os nomes que lhes confessaram reverência incluem-se Can, Swell Maps, The Teardrop Explodes, The Fuzztones, Pixies, Clinic e, acima de todos, Mark E. Smith, que à frente dos The Fall já levou a cabo vários tributos sob a forma de versões de originais dos The Monks.
Depois da extinção da banda, em 1967, a actividade musical de todos os cinco músicos limitou-se a pouco mais que uma quantas reuniões esporádicas. Confrontado com a vasta descendência, o quinteto tem sido normalmente humilde nas suas raras declarações públicas, optando por referir a aventura The Monks apenas como uma boa memória dos tempos da rebeldia juvenil. No caso de Gary Burger, a escolha por uma vida pacata levou-o a passar os últimos anos de vida numa localidade minúscula do Minnesota, chegando inclusive a ser eleito mayor da dita.
"Monk Time" [Polydor, 1966]
"I Hate You" [Polydor, 1966]
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