"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

terça-feira, 30 de abril de 2013

Good cover versions #74












BEACH HOUSE _ "Some Things Last A Long Time" [Carpark, 2008]
[Original: Daniel Johnston (1990)]

Some Things Last a Long Time by Beach House on Grooveshark

Correndo o risco de estar a conjecturar em vão, estou em crer que, se por acaso um dia um tal de Kurt Cobain não tem aparecido com a agora famosa t-shirt com uma das suas ilustrações, Daniel Johnston talvez nunca tivesse saído da obscuridade penetrável apenas por um punhado de geeks. A desfavor desta teoria temos o facto de que, quando o "mártir dos noventas" proclamou aos quatro ventos o seu amor pelas gravações sofríveis mas sinceras de Johnston, já antes outras luminárias do indie norte-americano, tais como elementos dos Sonic Youth, dos Yo La Tengo, ou Jad Fair, seguiam de perto e incentivavam a composição de tocantes canções de cunho pessoal, invariavelmente registadas em cassetes de gravação caseira. Foi em parceria com o último, também ele um ícone da filosofia lo-fi, que Daniel Johnston compôs "Some Things Last A Long Time", eventualmente a sua mais brilhante e bela canção. Já com uma qualidade de gravação acima da média para os padrões johnstonianos, sob a produção de Mark Kramer, o tema sustenta-se num piano minimalista, aqui e ali acompanhado por ruídos acidentais que podem ou não ser da guitarra. Com a sua voz imperfeita e infantilóide, Daniel Johnston não deixa o mais empedernido indiferente, com uma letra simples mas eficazmente eloquente a expressar a dor de carregar as memórias de alguém que agora é objecto de um amor apenas unidimensional.

Das muitas versões que foi alvo, à semelhança de tantos outros temas de Johnston, talvez nunca "Some Things Last A Long Time" tenha sido tão abençoado como na revisão dos Beach House. Desta dupla já se sabe que o nome veraneante soa algo irónico relativamente à música que produz, envolta num manto atmosférico de desolação. A versão foi incluída no seu segundo álbum, ainda antes da consagração massiva, mas provavelmente naquele que melhor apuram a sua fórmula cinemática, obviamente de filme negro. São fieis aos original, resumindo o suporte instrumental à linha de piano e alguns apontamentos de órgão, percussão, e sons pré-gravados da chuva. Por contraponto ao "grasnar" de Johnston, a voz sumptuosa de Victoria Legrand remete para algo de grandioso, embora encarne a mesma dor profunda. Pese embora tenham encurtado a sua versão, suprimindo a parte de maior auto-comiseração do final do original, os Beach House têm o mérito de manter inviolável a essência do original, algo raramente conseguido na reinterpretação de canções de outrem.

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